Esqueça o filme que você viu nos últimos anos e desconsidere as criticas ferrenhas para esta versão, tudo mudou

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Paramount Pictures

Começo essa crônica com uma frase famosa do querido Chico Xavier: “Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Isso se aplica a todos, inclusive se você for Francis Ford Coppola, o mais genial e espetacular realizador do cinema, os diretores “ousados” do terceiro milênio devem muito a esse senhor.

Mas, por que citei essa frase logo na abertura? Porque ele não estava confortável nos últimos 30 anos com a versão de O Poderoso Chefão – Parte III, filme que encerrou a trilogia escrita por Coppola e o saudoso Mario Puzo lá nos anos 70, pois para ele e grande parte da audiência, tratava-se de uma obra mal acabada, um desfecho fraco de uma estória que teve um inicio arrebatador com dois longas premiadíssimos. Nunca é tarde para admitir erros e fazer acertos.

Então, o que este senhor genial de 81 anos fez? Usou a nova tecnologia deste século e resolveu reeditar o filme. A obra teve a fotografia e som restaurados, ganhou um novo começo e um fechamento inédito, foram feitas mudanças de posicionamento em algumas cenas, inclusão de tomadas inéditas e uma melhora significativa na trilha sonora. Essa versão reflete, finalmente, a intenção original de ambos quando escreveram o roteiro e, segundo o diretor, “entrega uma conclusão mais apropriada para a trilogia”.

A nova versão estreou esta semana no Brasil, em O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone (Paramount Pictures, Zoetrope Studios) Michael Corleone (o espetacular Al Pacino) busca libertar sua família do crime organizado e procura achar um sucessor adequado para seu império. Este sucessor pode ser o impetuoso Vincent (o sempre ótimo Andy Garcia), mas ele pode ser a faísca que acabe com a esperança de Michael tornar seu negócio legítimo.

O elenco tem muita gente que estava começando a carreira e outros tantos que já fazem parte da galeria da vida, todos ensaiados como se estivessem no teatro, Coppola procurou todo tempo dar a intensidade que os personagens exigiam e essas atuações foram capturadas brilhantemente por Gordon Willis, que estava por traz da câmera nos maiores sucessos do cinema dos anos 70 a 90, era um dos preferidos também de Woody Allen.

Sim, é um novo filme e, olhando agora por outro prisma, fica evidente o quanto Coppola estava a frente de seu tempo se entendermos que todas as cenas foram filmadas no fim dos anos 80. O que nunca vou perdoar é ele ter usado a filha Sofia Coppola como a protagonista feminina, ela não tinha talento para interpretação e a personagem não convence, as caras e bocas não ajudam a construir um personagem que deveria ser forte com suavidade. Essa falta de talento ficou tão evidente que a carreira de atriz nunca decolou, em compensação, como roteirista já ganhou um Oscar e como diretora alcançou respeito dos grandes estúdios de Hollywood.

Não importa se você viu a versão anterior, chamada de comercial pelo diretor, limpe sua mente e vá ao cinema (a segurança com relação à proteção das pessoas é muito séria e profissional) e curta essa nova montagem que é um novo fim, um encerramento digno, a pincelada final de uma obra de arte, enfim, é Francis Ford Coppola em um momento não tão genial, mas que hoje certamente brigaria por vários prêmios da academia.