Concorrente forte na disputa pelo Oscar®, o filme alĂ©m de sensĂ­vel, muito bem realizado e de baixo custo nĂ£o emplaca nas bilheterias

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Diamond Films

Tem certas coisas na vida que sĂ£o inexplicĂ¡veis, mas atĂ© certo ponto devemos entender que a visĂ£o dos atuais gestores em vĂ¡rios setores do mundo estĂ¡ muito equivocada e isso impõe aos consumidores de seus produtos certas condições e certos padrões apenas pensando no dinheiro. Claro que existe tambĂ©m o enorme emburrecimento da sociedade como um todo, isso ajuda muito incompetentes a encontrarem seu lugar na galeria dos gĂªnios.


Comecei essa crĂ´nica com essa analise menos amistosa, pois nĂ£o acredito que os 9 filmes indicados ao Oscar® deste ano estejam entre as menores bilheterias, alguns nem divulgaram quanto gastaram na produĂ§Ă£o porque certamente vĂ£o demorar para recuperar o dinheiro investido.


Vamos ao que realmente interessa, estreou na quinta-feira no Brasil um dos mais brilhantes dramas dos Ăºltimos tempos, em Moonlight – Sob a Luz do Luar (A24, Plan B Entertainment, Pastel Productions, Diamond Films) aquela reclamaĂ§Ă£o do ano passado em nĂ£o se ter negros indicados a prĂªmios principais foi por Ă¡gua abaixo, aqui, todos os atores, o diretor e roteirista sĂ£o afro-descendentes. O filme conta a histĂ³ria de um jovem que luta para encontrar seu lugar no mundo em uma Ă¡spera vizinhança de Miami, Ă© atemporal e dividido em trĂªs atos muito distintos: infĂ¢ncia, adolescĂªncia e idade adulta, Ă© uma reflexĂ£o sobre identidade, famĂ­lia e amizade.


O diretor e roteirista Barry Jenkins dirigiu apena um longa antes desse, Medicine for Melancholy, em Moonlight – Sob a Luz do Luar a direĂ§Ă£o Ă© menos invasiva e os atores sĂ£o os grandes responsĂ¡veis pelas interpretações fortes e muito convincentes, principalmente na primeira parte. Os destaques ficam por conta da inglesa Naomie Harris (lembrada por Piratas do Caribe: No Fim do Mundo, 007 – OperaĂ§Ă£o Skyfall e Contra Spectre) que vive Paula, a mĂ£e drogada do personagem central, Mahershala Ali (O Curioso Caso de Benjamin Button, Estrelas AlĂ©m do Tempo) que vive o traficante Juan, certamente o melhor papel da carreira atĂ© agora, a cantora Janelle MonĂ¡e (que tambĂ©m estĂ¡ em Estrelas AlĂ©m do Tempo) Ă© Teresa, a grande protetora de Chiron que Ă© representado por trĂªs atores nas fases da vida: Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes.


A fotografia feita pelo ex-colega de escola de Jenkins, James Laxton, que tambĂ©m tem Medicine for Melancholy no currĂ­culo, lembra muito as sĂ©ries de TV dos anos 70, principalmente por terem sidos usados carros da Ă©poca, os planos ficam mais na altura dos vidros laterais e pĂ¡ra-brisas, nĂ£o Ă© lĂ¡ muito criativa, mas marca fortemente os atores com luzes internas calmas e externas brilhantes, como deve ser na FlĂ³rida, grande parte da aĂ§Ă£o acontece com a steadycam no ombro e certamente, por conta do orçamento reduzido, feita com equipamento digital, o mesmo recurso usado na ediĂ§Ă£o que tem uma narrativa lenta, porĂ©m muito charmosa.


Posso dizer que Moonlight – Sob a Luz do Luar Ă© um marco no cinema moderno usando tĂ©cnicas velhas, se sustenta muito mais pela atuaĂ§Ă£o impecĂ¡vel de seu elenco e deve ser premiado pela academia, se nĂ£o pela ousadia do roteiro, pela interpretaĂ§Ă£o de alguns de seus personagens que foram indicados, triste Ă© saber que, mesmo com todos esses elementos favorĂ¡veis, o filme que custou US$ 5 milhões, provavelmente menos que todos os outros concorrentes e arrecadou apenas US$ 22 milhões, a menor dos 9 filmes que chegaram Ă  grande final, pode atĂ© ser consagrado, mas pelo jeito jamais serĂ¡ amado, a falta de cultura nĂ£o Ă© exclusividade sĂ³ dos brasileiros.

A gente se encontra na semana que vĂªm!

Beijos & queijos