Um filme geralmente toca, aos mais sensíveis, o âmago de suas almas e traz sentimentos, faz voar sensações que muitas vezes estão escondidas dentro de cada um de nós

Texto: Eduardo Abbas

Sou muito fã de filmes que retratam a vida e de gênios da música, aqueles que, criaram ou mesmo executaram as obras e que foram os maiores divisores de águas entre os mortais.
Um filme baseado na vida de um grande compositor tem como grande vantagem já vir com a trilha musical prontinha, ou alguém acha que, em sã consciência alguém vai colocar um pagode na história da vida do Chopin? Claro que estou falando de cinema de primeiro mundo, porque aqui no Brasil a vida do Vinicius de Moraes ter uma Rap de trilha sonora é bem provável. Deixando a bobagem de lado, esta semana vou falar de três filmes que gosto muito e que são ideais para esse momento de férias e bolsos vazios, todos tem como tema principal a música, na grandiosidade que ela cria e na magia que a tela nos trás.


O primeiro é Melodia Imortal (The Eddy Duchin Story – 1956 – Columbia) que traz no elenco dois mitos da época: Tyrone Power e Kim Novak. É a historia do talentoso pianista Eddy Duchin, que entre as décadas de 1930 e 1940 encantou o mundo musical, mas conheceu o sabor da amargura quando seu grande amor morreu precocemente ao dar a luz ao filho que ele, por culpar a criança, abandonara. Entre as idas e vindas, um dia ele descobre estar doente e que deve morrer em um ano, isso o faz tentar aproximar-se do filho para tentar conquistar o amor que nunca teve nem demonstrou.


Um filme ao estilo teatro, de interpretações fortes e marcantes, que no seu final tem um plano seqüência que o diretor George Sidney amarra, com grande maestria, a frase final do personagem de Power: Meu filho, não sei aonde eu acabo e você começa, onde ambos ao piano executam o Noturno de Chopin ao Mi Bemol, soando aos olhos e ouvidos como um dos finais mais emocionantes do cinema.


Ainda no campo dos dramas familiares, encontrei em Minha Amada Imortal (Immortal Beloved – 1994 – Columbia) um motivo pra lá de profundo para se entender como funcionavam os sentimentos dos gênios. No filme, com a morte de Ludwig van Beethoven, Anton Schindler encontra as últimas vontades de seu velho amigo. Entretanto, no testamento, Beethoven deixa todos os seus bens para uma mulher mencionada apenas como Minha Amada Imortal. A busca de Schindler para descobrir a verdadeira identidade desta mulher se torna épica e, um dia, chega à conclusão de que se trata de Johanna Reiss, a filha de um riquíssimo estofador de Viena. Johanna fica grávida de Beethoven, mas por uma mudança acidental de eventos ela se casa com seu irmão Kaspar. Seu filho, Karl van Beethoven, é criado por Ludwig na vã esperança de torná-lo um importante músico como ele.


O filme faz uma fantástica retrospectiva da vida de Beethoven, em cenas impressionantes como ele afinando o piano com o ouvido no móvel e a insuperável apresentação da nona sinfonia, que ele compôs completamente surdo, no teatro de Viena. Um show de Gary Oldman, que mais tarde seria o também imortal Comissário Gordon na trilogia BATMAN, O Cavaleiro das Trevas e do diretor Bernard Rose, num momento de grande inspiração e levando um tema clássico ao saboroso som na arte de representar.


Para encerrar, a obra cinematográfica mais bem realizada sobre a vida e a morte do maior compositor clássico que o mundo já conheceu. Amadeus (Amadeus – 1984 – Orion / Warner Bros.) traz um roteiro baseado na peça homônima de Peter Shaffer, livremente inspirado nas vidas dos compositores Wolfgang Amadeus Mozart e Antonio Salieri, que viveram em Viena, na Áustria, durante a segunda metade do século XVIII.


Em grande parte o roteiro se baseia em fatos reais, menos na suposta guerra entre o italiano e o austríaco, sendo que na verdade Salieri foi um grande incentivador do endiabrado Mozart. Independentemente disso, a obra cinematográfica, de irretocável acabamento e de atuações primorosas, principalmente do F. Murray Abraham como Salieri e do Tom Hulce interpretando Mozart, numa direção segura e firme do Milos Forman, transformaram esse filme, que foi o grande vencedor do Oscar de 1985, na mais perfeita e complexa obra cinematográfica sobre a vida e a morte de um gênio.


Dentre os vários pontos altos do filme, destacam-se as reconstituições das operas compostas por Mozart, os momentos em que Deus “ditava” a ele as sinfonias finalizadas em sua cabeça e a exuberância das suas composições quando Salieri avalia o trabalho do músico, levando o maestro a atingir o êxtase diante da maior criação musical do mundo.
Quem canta seus males espanta, já diz um dito popular, mas observar esses três momentos mágicos do cinema homenageando a música, faz com que além de espantar os males, eleva nossa alma e mostra que a mistura de sons e imagens pode, em vários momentos, ser insuperável.

A gente se encontra na semana que vem!

Beijos & queijos


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