A espetacular obra cinematogrĂ¡fica retrata o lado mais desumano dos homens na Terra

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Universal Pictures

SĂ£o dois dias para jamais serem esquecidos, o primeiro Ă© 6 de agosto de 1945 no JapĂ£o, foi quando os senhores da guerra impressionaram o mundo com a explosĂ£o de um artefato nuclear em uma cidade, matando instantaneamente mais de 70 mil civis, gente como eu e vocĂª. Afirmaram depois que essa covardia marcou o fim da Segunda Guerra Mundial, pode ser, mas o certo Ă© que se tornou um capĂ­tulo devastador e lamentĂ¡vel da histĂ³ria.

O outro Ă© hoje, 20 de julho de 2023 no Brasil, onde uma das maiores realizações cinematogrĂ¡ficas do sĂ©culo XXI começa seu caminho de sucesso, Ă© tĂ£o impactante quanto a bomba que dizimou gerações em Hiroshima e Nagasaki.

Em OPPENHEIMER (Syncopy, Atlas Entertainment, Universal Pictures) Christopher Nolan se supera na criaĂ§Ă£o e realizaĂ§Ă£o, ele nĂ£o tem nada melhor no currĂ­culo. O longa Ă© baseado no livro biogrĂ¡fico “Prometeu Americano: O Triunfo e a TragĂ©dia de J. Robert Oppenheimer”, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin e vencedor do PrĂªmio Pulitzer, ele retrata a vida e a “obra” do criador da maior arma de destruiĂ§Ă£o em massa.

Escrito, produzido e dirigido por Nolan, o longa tem algumas particularidades que impressionam. A narrativa em primeira pessoa faz com que a imersĂ£o seja a mais profunda possĂ­vel, durante as 3 horas de duraĂ§Ă£o a sensaĂ§Ă£o Ă© de se estar vivendo na pele Julius Robert Oppenheimer, com seus medos e angĂºstias, certezas e arrependimentos, antes, durante e depois de se tornar o profeta do apocalipse atĂ´mico, a sensaĂ§Ă£o Ă© tĂ£o forte que quase dĂ¡ para sentir o cheiro da fumaça de cada cigarro que ele fuma.

O estrelado elenco Ă© muito bem selecionado, cada ator e atriz consegue que seu personagem reflita a exigĂªncia do diretor, Ă© encabeçado por Cillian Murphy (Oppenheimer) e trĂ¡s nomes como Emily Blunt (Katherine “Kitty” Oppenheimer), Matt Damon (General Leslie Groves Jr.), Florence Pugh (Jean Tatlock), Benny Safdie (Edward Teller), Michael Angarano (Robert Serber), Josh Hartnett (Ernest Lawrence), Rami Malek (David Hill), Kenneth Branagh (Niels Bohr) entre outros.

Nolan tem enorme facilidade de criar antagonistas marcantes, neste, a grande exibiĂ§Ă£o fica por conta de Robert Downey Jr. (Lewis Strauss), segundo ele mesmo afirma, esse Ă© seu melhor papel da carreira, pode ter certeza disso, a consequĂªncia certamente serĂ¡ estar entre os indicados aos principais prĂªmios do ano.

Outro ponto Ă© a captaĂ§Ă£o, usando as cĂ¢meras IMAX MKIII, IMAX MKIV, IMAX MSM 9802 e lentes Panavision Sphero 65, Hasselblad, Panaflex, Panspeed e System 65, o suíço Hoyte Van Hoytema construiu uma fotografia impressionante e complexa, o nĂ­vel de detalhamento Ă© tĂ£o alto que alguns exageros da maquiagem ficam expostos, isso graças ao elevado nĂ­vel de definiĂ§Ă£o que a pelĂ­cula tem em comparaĂ§Ă£o aos cards.

A montagem acompanha o alto nĂ­vel, Jennifer Lame mantĂ©m o timing correto, alguns exageros de delay sĂ£o propositais e servem para marcar importĂ¢ncia, a mistura de imagens coloridas com branco e preto faz com que a narrativa seja clara e bem definida, o Ă¡udio, tambĂ©m IMAX, nĂ£o deixa passar absolutamente nada. Como o diretor evita ao mĂ¡ximo o uso de CGI, os efeitos especiais e visuais, que sĂ£o assinados pela Double Negative, foram criados para algumas cenas com elementos reais, claro que Ă© um complicador, mas tambĂ©m dĂ¡ credibilidade e realismo muito maiores.

O orçamento divulgado de OPPENHEIMER Ă© de US$ 100 milhões, acho muito baixo para sua grandiosidade e nĂ£o Ă© para toda a famĂ­lia, a classificaĂ§Ă£o indicativa de 18 anos tem como motivo o tema delicado e por conter cenas de violĂªncia e nudez explĂ­citas.

NĂ£o se deixe enganar, o filme trata da vida do fĂ­sico responsĂ¡vel pela criaĂ§Ă£o do Projeto Manhattan que culminou com a explosĂ£o nuclear em Los Alamos no Novo MĂ©xico, matou milhares de pessoas do outro lado do planeta no dia do bombardeio e nos anos seguintes, colocou ponto final no conflito e mudou o mundo, Ă© certamente a maior covardia que os humanos fizeram com seu semelhante, por outro lado, Ă© uma das obras mais grandiosas e importantes do cinema atual e coloca luz na escuridĂ£o dos atos da Segunda Guerra, obrigado Christopher Nolan!

Assista ao trailer