Com incentivos do governo, emplacamentos disparam na segunda quinzena, o semestre registra alta de 14%

Texto e fotos: Eduardo Abbas / Fenabrave

Para quem estava com a água batendo no pescoço, a medida do governo deu um respiro ao setor automotivo brasileiro, mesmo assim foi um início de mês tumultuado, tanto pela demora na publicação da MP – Medida Provisória nº 1.175 e depois pelo tempo de troca de notas fiscais entre Concessionárias e Montadoras.

O grande calcanhar de Aquiles é a medida, e o nome já diz, ser provisória, não se tem uma ideia clara do que irá acontecer quando os veículos que tiveram esse "desconto" terminarem. Pensado lá na frente, a Fenabrave vai apresentar um projeto que contemple o consumidor e o governo, que deixou de arrecadar impostos dessas vendas, e chegaram a registrar volume diário superior a 22 mil emplacamentos nos últimos dias de junho. Como resultado, os segmentos fecharam o mês com aumento de mais de 8% sobre maio, crescimento de 8,6% sobre junho/2022 e de quase 10% sobre o acumulado do ano. “Até a publicação da Medida Provisória, em 6 de junho, os consumidores estavam em compasso de espera, pois o MDIC havia anunciado, em 25 de maio, que algum incentivo seria oferecido em breve. Após a publicação, houve o tempo de troca de notas fiscais entre Concessionárias e Montadoras, a habilitação das montadoras aos créditos tributários e, enfim, o início do atendimento aos pedidos dos clientes, que foram os mais beneficiados com a medida, que era o nosso principal objetivo, já que o consumidor final foi quem mais perdeu poder de compra nos últimos anos”, comentou Andreta Jr., Presidente da Fenabrave. O sucesso da MP nº 1.175 foi tamanho que os R$ 500 milhões destinados aos segmentos de automóveis e comerciais leves já se esgotaram, o que fez com que o Governo Federal realizasse novo aporte de R$ 300 milhões em descontos tributários. “A iniciativa do Governo foi essencial para o setor e para o consumidor brasileiro, que é quem, de fato, precisa desses incentivos. Ficou claro que milhares de brasileiros estavam apenas esperando uma oportunidade para poderem adquirir um veículo novo. Nosso objetivo era exatamente alcançar os três principais fatores: preço acessível ao poder de compra, sustentabilidade e densidade fabril”, diz o Presidente.

Dados de junho e balanço 1º Semestre
Em junho, o setor em geral registrou alta de 10,3% sobre junho de 2022.

No semestre, a alta foi de quase 14% nos emplacamentos de todos os segmentos automotivos somados, lembrando que, em 2022, o desempenho dos seis primeiros meses do ano foi impactado por fatores como a guerra na Europa e a falta de peças e componentes na indústria. “Todos os segmentos registraram alta no volume, com exceção de caminhões, categoria que teve de se ajustar à nova tecnologia de emissões (Euro 6) na primeira metade de 2023”, diz o Presidente da Fenabrave.

Automóveis e Comerciais leves - Os segmentos enfrentaram grande volatilidade por conta da edição da MP 1.175. “Iniciamos o mês com um volume tímido de emplacamentos, mas, após a publicação da Medida Provisória, houve um salto de movimento nas Concessionárias, com algumas registrando um aumento no fluxo de loja e de negócios de até 260%. Parte do volume vendido foi emplacado em junho, mas teremos a real dimensão do impacto da ação nas próximas semanas, devido ao intervalo entre a venda do veículo e seu emplacamento”, analisa Andreta Jr.

Caminhões - Embora o setor de transporte de cargas tenha sido contemplado com R$ 700 milhões pela MP 1.175, o Presidente destaca que o segmento de caminhões passa por um momento difícil, apresentando queda tanto em junho quanto no semestre deste ano, o segmento ainda sofre com os juros elevados e aumento da inadimplência, o que dificulta financiamentos de produtos EURO 6, em função dos novos preços. “O mercado tem mostrado cautela para finalizar a aquisição de veículos novos, em função dos preços dos produtos com a nova tecnologia”, afirma. Apesar de ter sido o segmento que mais recebeu descontos tributários, a Medida Provisória não gerou negócios. “Principalmente, os profissionais autônomos, aguardam o Programa RENOVAR, que está em discussão entre o Governo e as entidades do setor, e que visa promover a renovação gradativa da frota. Ou seja, eles irão trocar os caminhões de mais de 20 anos, por um de 15 anos; ou um de mais de 15 anos por um de 10 anos e assim sucessivamente”, comentou.

Ônibus - Os ônibus seguem em um movimento de retomada dos emplacamentos, mesmo que partindo de uma base baixa e com um dia a menos em junho, que justifica a queda do mês. “As categorias de ônibus rodoviários estão sendo beneficiadas pelo turismo e Programa Caminho da Escola. E essa recuperação pode se intensificar, pois é esperada nova concorrência governamental para o Programa Caminho da Escola”, diz Andreta Jr. O único resultado que não se mostra ascendente, neste segmento, é para os ônibus urbanos, que vêm perdendo espaço para as motocicletas, como alternativa de transporte nas cidades.

Implementos Rodoviários - Os implementos acumulam uma leve alta no ano, descolando dos emplacamentos de caminhões, algo incomum nestes segmentos, que costumam apresentar comportamentos similares. “O que notamos é que, apesar da queda nos emplacamentos de caminhões, os transportadores têm mantido o cronograma de investimentos em implementos”, diz o Presidente.

Motocicletas - Segundo o Presidente da Fenabrave, a queda registrada em relação a maio está relacionada a um dia útil a menos (21 em junho contra 22 em maio) e à dificuldade na aprovação de crédito. “O segmento de motocicletas se mantém aquecido, mesmo com a desaceleração registrada em junho, mas entendo que esta é uma categoria que tem acumulado resultados bastante consistentes ao longo de 2023”. As motocicletas continuam sendo opção para transporte individual, em substituição ao coletivo e ao automóvel, assim como para quem atua em serviços de entrega. O crédito ainda é um problema para fomentar os financiamentos ao setor, e a solução permanece com as cartas de crédito do consórcio.

Eletrificados: Automóveis, Comerciais Leves e Motocicletas - Com mais de 32 mil unidades de automóveis e comerciais leves eletrificados emplacados no ano até o momento, os segmentos registraram leve retração em junho sobre o resultado de maio, principalmente, por conta do menor número de dias úteis do mês. Nas motos, apesar da queda em relação a maio, o segmento acumula alta de 20,3% no ano.

Tratores e Máquinas Agrícolas - O mercado de máquinas agrícolas registrou queda em maio, por conta da espera pelo Plano Safra 2023-2024. “O anúncio ocorreu próximo do fim de junho, mas, em maio, os produtores já mostravam sinais de que postergariam suas decisões de compra. O Plano Safra anunciado é bem robusto e deve movimentar o mercado de equipamentos para o campo no segundo semestre”, diz Andreta Jr. Para o setor de tratores e máquinas agrícolas, o plano anunciado pelo governo traz inúmeros benefícios, como atendimento ao pequeno e médio agricultor (além do grande produtor), que passarão a contar com taxas reduzidas para seus investimentos, assim como também custeio para armazenagem, que é um problema no mundo agro. “Por isso, apesar dos dados de queda, até maio, acreditamos em uma recuperação a partir de agora”.

Projeções - Com a atual volatilidade do cenário econômico e diante da possibilidade de elaboração de novas políticas públicas de fomento ao setor automotivo no País, a Fenabrave decidiu não rever, ainda, suas projeções para 2023, mantendo uma expectativa de crescimento de 3,3% nos emplacamentos para o ano, considerando todo o setor.