Prepare-se, o que você vai assistir é para jamais
esquecer
Texto: Eduardo
Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures
Vivemos uma época estranha, talvez pelo fato de se ter uma enorme facilidade tecnológica à disposição, já não nos importamos tanto com datas, eventos passados, citações de personagens históricos, enfim, basta um clique em um aplicativo do celular e pronto, tudo já aparece nossa frente. O uso da inteligência artificial coloca a natural em cheque, gastamos menos fosfato, o cérebro faz menos exercícios e isso tem um preço, a memória fica preguiçosa e seletiva.
Tudo parece ser fast food, desde a comida até a cultura que consumimos, muita gente lê e relê livros, reportagens, crônicas, as discussões geralmente viram briga, ninguém quer saber do contraditório, ou tem a sua opinião ou não serve. Com isso esquecemos quem somos e como evoluímos até aqui, é um duro golpe para o Hipocampo, uma pequena estrutura subcortical com formato de cavalo-marinho que tem função na formação da memória, tanto a de classificação quanto na de longo prazo.
Tendo esse campo como argumento principal e sabendo usar muito bem o lado direito do cérebro, Lisa Joy criou uma obra que surpreende, de visual Noir moderno, enredo envolvente e que é ao mesmo tempo difícil de explicar. Estreia hoje nos cinemas brasileiros Caminhos da Memória (Kilter Films, Michael De Luca Productions, FilmNation Entertainment, Warner Bros. Pictures), uma mistura de ficção, ação, e romance policial. É mais ou menos assim, pegamos os filmes Blade Runner, Minority Report, Em Algum Lugar do Passado, Waterword, juntamos aos mais modernos efeitos visuais e especiais, misturamos tudo com ótimas atuações e Voilá! Temos uma das obras mais ousadas e emblemáticas de 2021.
No futuro, a cidade de Miami está inundada, Nick Bannister (Hugh Jackman) é um investigador particular da mente, navega pelo mundo obscuro e fascinante do passado, ajudando seus clientes a acessar memórias perdidas.
Sua vida muda para sempre quando ele decide atender uma nova cliente, Mae (Rebecca Ferguson) e um simples caso torna-se uma perigosa obsessão. Bannister luta para descobrir a verdade sobre Mae e o leva a responder à inevitável pergunta: “até onde você iria para proteger aqueles que você ama?”.
Lisa Joy escreveu, produziu e dirigiu o longa, com muita competência e criatividade. Ela teve a companhia do também produtor Jonathan Nolan, irmão e parceiro do Christopher e marido de Lisa. A presença dele no projeto explica o impressionante visual que o filme carrega, marca registrada dos irmãos em suas produções. As companhias Day For Nite, RISE Visual Effects Studios, Scanline VFX são os responsáveis pelo visual futurista catastrófico, eles usaram e abusaram da criatividade e qualidade técnica, é difícil dizer onde começa ou onde acaba o efeito, até porque grande parte do filme foi rodado em locações reais.
Uma boa parte da equipe técnica que trabalha no longa é oriunda da série Westworld, onde Lisa é produtora executiva. A fotografia é linda, usando nas cenas externas o recurso da Noite Americana e nas de estúdio diversos tipos de temperatura de luz, o fotografo Paul Cameron consegue uma captação uniforme e rica. Isso também facilita o trabalho de montagem de Mark Yoshikawa, sua edição do filme é ritmada, se usam mais planos médios e menos detalhes, isso faz com que se tenha uma intimidade maior com o espectador, as cenas gerais são deslumbrantes, a luz incidental faz toda a diferença.
O filme foca em um tripé de atores que incorporam profundamente seus personagens, além de Jackman e Rebecca, Thandiwe Newton na pele de Watts é peça chave na trama e navega com muita competência pelos momentos de ação e emoção. A direção é competente e firme, mas durante os 116 minutos parece haver um desencontro, com idas e vindas, passado e presente, que pode confundir um pouco, isso faz parte do desfecho surpreendente que a estória proporciona.
É o seguinte, se você tem mais de 14 anos, que é a classificação indicativa, não fique esperando Caminhos da Memória no streaming, os US$ 68 milhões gastos na produção te obrigam a assistir na tela gigante do cinema, com áudio digital de preferência e claro, escolhendo salas com segurança, higiene e distanciamento, é um filme lindo e bem realizado, mostra que tem coisas que ficam marcadas na nossa memória para sempre, tipo, amor a primeira vista. Aproveite.
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