Um show de interpretaĂ§Ă£o no filme do vilĂ£o que Ă© maior que o herĂ³i

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures

Nos anos 60 a sĂ©rie de TV Batman foi criada para ser um pastelĂ£o para aquela geraĂ§Ă£o que começava a conhecer o mundo e que um dia iria governĂ¡-lo. O principio era criar vilões, sempre representados por estrelas consagradas, onde resto do elenco e o personagem central eram meros coadjuvantes.


Nada disso Ă© muito diferente do que sempre aconteceu nas aventuras do Homem-morcego, aqueles que vestiam as roupas dos fora da lei sempre foram muito mais interessantes que o prĂ³prio paladino da justiça, mas teve um que, mesmo Christopher Nolan criando o melhor Batman de todos, teve que se render: o Coringa Ă© e sempre serĂ¡ o maior e mais aterrorizante personagem dessa histĂ³ria Ă©pica.


EstrĂ©ia hoje no Brasil e amanhĂ£ no resto do mundo Coringa (Village Roadshow Pictures, DC Films, Sikelia Productions, Joint Effort Productions, Green Hat Films, Warner Bros. Pictures) e confesso, nĂ£o achei que ainda iria encontrar nessa geraĂ§Ă£o de atores alguĂ©m que superasse o vilĂ£o interpretado por Heath Ledger e que lhe rendeu um Oscar® pĂ³stumo.


Mas, e sempre existe um mas, Joaquin Phoenix conseguiu surpreender muito, mas muito vivendo na pele do maior vilĂ£o da DC Comics. O seu Coringa tem uma construĂ§Ă£o psicolĂ³gica que ultrapassa os limites da tela e invade a platĂ©ia, ele te arrasta pra dentro do filme, chega a ser monstruoso, se despe de qualquer sentido de humanidade e certamente vai te dar o maior soco na cara antes dos crĂ©ditos finais.


O diretor Todd Phillips tambĂ©m assina o roteiro de sua histĂ³ria original e fictĂ­cia sobre o icĂ´nico vilĂ£o Arthur Fleck (Coringa), mostra um homem lutando para se integrar Ă  sociedade despedaçada de Gotham. Sofrendo todo tipo de violĂªncia, ele trabalha como palhaço durante o dia e Ă  noite ele tenta a sorte como comediante de stand-up, mas descobre que a piada Ă© sempre ele mesmo.


Preso em uma existĂªncia cĂ­clica, oscilando entre a realidade e a loucura, Arthur toma uma decisĂ£o equivocada que causa uma reaĂ§Ă£o em cadeia, com conseqĂ¼Ăªncias cada vez mais graves e letais, nesta exploraĂ§Ă£o ousada do personagem. O filme tambĂ©m tem as presenças de Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy, Bill Camp, Shea Whigham entre outros, um elenco de apoio que ajuda a caracterizaĂ§Ă£o e a construĂ§Ă£o do terrĂ­vel personagem.


NĂ£o acredito que tenha sido uma opĂ§Ă£o, mas sim necessidade de Phillips, por causa de um orçamento considerado baixo (US$ 55 milhões Ă© uma quantidade de dinheiro pequena para um longa dessa envergadura) optar por soluções atĂ© certo ponto simples, as que o diretor encontrou sĂ£o Ă³timas os resultados fantĂ¡sticos e por isso o filme te prende desta maneira.


NĂ£o foi usado CGI, as locações sĂ£o nas redondezas de New York, na captaĂ§Ă£o de imagens usou apenas cĂ¢meras e lentes Arri Alexa de 35 e 70 mm, trabalhou-se muito a maquiagem, figurino e principalmente a iluminaĂ§Ă£o, Ă© um filme raiz na era digital, por isso esse impacto tĂ£o grande na sua apresentaĂ§Ă£o.


Mas Ă© principalmente um filme de interpretaĂ§Ă£o, Ă© soberba a entrega de todos os atores envolvidos na trama, porĂ©m fica impossĂ­vel nĂ£o imaginar que chegou a hora de Joaquin Phoenix ser finalmente reconhecido pela tamanha capacidade de viver a vida de outro dentro da sua, ou seja, Globo de Ouro e Oscar® devem estar no caminho deste Porto Riquenho que jĂ¡ foi indicado algumas vezes e nĂ£o levou ainda.


Prepare-se para Coringa, durante os 121 minutos de exibiĂ§Ă£o que tem ClassificaĂ§Ă£o indicativa de 16 anos, vocĂª deve estar diante do filme do ano, do ator do ano, do diretor e roteiro do ano e a mĂ¡xima vai sempre prevalecer, quem faz cinema de verdade chega lĂ¡, para os outros pretensiosos, apenas sorria.