Desta vez esquecido para o Oscar® 2019, a continuação da saga do filho de Apollo tem muita coisa de Rocky Balboa

Texto: Eduardo Abbas
Fotos Warner Bros. Pictures

Dizem que a idade traz junto com o peso dos anos uma vontade muito grande de corrigir erros do passado, seja por atitudes ou mesmo fazendo uma releitura do que foi feito, seu modo de tratar certamente será diferente e menos traumático. No cinema, vivemos uma fase de muitos remakes, a maioria tem que se adaptar aos novos tempos, ao politicamente correto e aos novos recursos de tecnologia sem perder a essência do que se pensou quando se contou a história pela primeira vez.


Nos anos 80 e 90, muitas carreiras de atores, diretores e roteiristas ficaram marcadas por um determinado estilo, você já sabia que ao assistir a um filme do Stallone, certamente iria ter muita porrada, tiros, mortes, enfim... O gênero que parece estar com os dias contados, respira novos ares até na saga Rocky, em Creed, Nascido Para Lutar o humor e o drama estão mais presentes que as lutas.


Confesso que tive a impressão de um mea-culpa quando assisti Creed II (Metro-Goldwyn-Mayer, New Line Cinema, Chartoff-Winkler Productions, Warner Bros. Pictures), por conta do que aconteceu com os personagens e seus respectivos atores depois de Rocky IV, o futuro de alguns não foi lá muito brilhante, seria por causa da participação no filme? Pode ser.


Nesse novo longa, a vida de Adonis Creed está tumultuada e entre o pessoal e o profissional, ele vai enfrentar um adversário com laços no passado e que pode mudar seu futuro. Rocky e Adonis vão confrontar o legado que ambos compartilham, questionar pelo que vale a pena lutar e descobrir que nada é mais importante do que a família.


Talvez por isso Sylvester Stallone tenha resolvido participar mais desta seqüência, ele atua, produz e escreve um roteiro muito mais humanizado e perto da realidade, aquele que não traz nenhum glamour aos vencedores e apedreja os perdedores, ele coloca todos no mesmo nível de dificuldade. O brilho e os eventos over do filme de 1985 deram lugar a parcimônia que acompanham os humanos fora da tela, com isso ele (pelo menos tenta) devolve aos personagens algo menos doloroso baseado na derrota, isso explicado de forma simples e emocionante por Dolph Lundgren, novamente no papel de Ivan Drago.


A direção é do novato Steven Caple Jr., neste que é seu terceiro longa, ele consegue extrair boas atuações, mas não surpreende com sacadas geniais ou mesmo inovações em planos de câmera, é quase que uma interpretação de texto feita pelo elenco que tem Tessa Thompson, Wood Harris, Russell Hornsby, Florian “Big Nasty” Munteanu e uma surpreendente participação especial de Brigitte Nielsen, ex-esposa de Stallone, vivendo a ex-mulher de Drago.


As cenas de lutas são mais violentas e muito reais, claro que existe exagero em alguns casos, mas não chegam a impressionar o espectador que não acompanhou a saga nos primeiros filmes, diferentemente que fez em outras produções, o diretor de fotografia Kramer Morgenthau resolveu jogar muita luz na tela para um efeito de sombras com movimentos muito interessantes.


Uma coisa que me incomoda por falta de uso é a trilha original de Rocky, é sempre um prazer ouvir a criação de Bill Conti, na verdade ele soube colocar música na luta de boxe e deixar de lado, usando em rápidas pinceladas, a torna quase inexistente. Ludwig Göransson foi menos conservador no filme anterior, mas perceba que, quando pequenos trechos são tocados, você se lembra do que veio fazer no cinema.



Creed II estréia no Brasil nesta quinta, tem classificação indicativa 14 anos, nos EUA já está em cartaz desde novembro passado e já faturou US$ 175 milhões (custou US$ 50), é uma boa chance de rever os personagens anteriores nos dias de hoje e entender como será a seqüência da saga daqui pra frente, não é para perder, afinal de contas, Rocky Balboa só existe um!