Uma comédia romântica, vista pelo olhar de uma mulher, sobre a mais difícil das artes dos dias de hoje: amar


Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Fox

Estamos no topo da cadeia evolutiva, somos os únicos seres que pensam e agem com coerência e sabedoria, nos comunicamos em diversas línguas, atitudes, sinais e, mais recentemente, objetos inanimados. Estamos na terra a pouco mais de 1 milhão de anos, já tomamos conta do planeta e estamos destruindo tudo aquilo que precisamos para continuar por aqui, sujamos a água que bebemos, poluímos o ar que respiramos, plantamos mais do que podemos comer, deixamos nosso semelhante morrer de fome, matamos por esporte e ferimos quem amamos.


Nesse viés, mas num cenário menos catastrófico, o filme A Procura do Amor (FOX) procura mostrar um casal de meia idade nas idas e vindas do que é, nos dias de hoje, a relação entre homens e mulheres. Eva (Julia Louis-Dreyfus), uma mãe divorciada, passa seus dias divertindo-se com seu trabalho como massagista, mas temendo a partida iminente de sua filha para a faculdade. Ela conhece Albert (James Gandolfini), um homem carinhoso, divertido, com afinidade de interesses, que também está enfrentando um ninho vazio. À medida que seu romance rapidamente desabrocha, Eva faz amizade com Marianne (Catherine Keener), sua nova cliente de massagem que vive falando mal do ex-marido, que por acaso é seu atual namorado. De repente, ela se vê duvidando de seu próprio relacionamento com Albert, e cria uma divertida confusão típica de quando pensamos em nos relacionar novamente.


As atuações não chegam a ser primorosas muito por causa da direção suave e quase teatral de Nicole Holofcener (Encontro de Irmãs, Amigas com Dinheiro), que também assina o roteiro, esse sim bem amarrado nas situações cômicas e tristes que a história conta, mas convencem no objetivo da trama.


No centro das atenções esta Julia Louis-Dreyfus, muito conhecida na série Seinfeld. Por ser uma atriz cômica, encarnar um personagem com tantos altos e baixos era um grande desafio. Para aqueles que acham que vão encontrar a risada que a caracterizou na série, podem deixar as mangas de lado, suas expressões menos exageradas envolvem o espectador e surpreendem no resultado final.


Na outra ponta, fazendo o par romântico, esta o saudoso James Gandolfini, o capo da série Família Soprano. Esse foi o último trabalho dele, que faleceu em junho desse ano pouco antes de completar 52 anos. O seu personagem é o típico bruto que ama, um homem de aparência rude, mas de coração simples e carinhoso, uma enorme surpresa pra quem acompanhava o sempre estressado chefe da máfia na série de televisão, suas trocas de olhar assinadas com um sorriso fizeram desse trabalho um diferencial para o ator.


O triângulo se fecha com indicada ao Oscar® Catherine Keener (Capote, Quero Ser John Malkovich), que é a ex-esposa de Albert. É uma construção difícil de personagem, uma mulher que é poetiza, tem a vida perfeita, vive uma soberba intelectual e financeira, mas ao mesmo tempo não consegue enxergar e aceitar as diferenças entre os seres humanos, no caso, ninguém tem direito de ser imperfeito. A atriz levou muito de sua vida pessoal para a personagem, segundo ela mesma, as cenas cômicas e menos tensas revelam um lado alegre e divertido da Catherine que se encaixou perfeitamente na Marianne.


É um filme divertido e com uma excelente mensagem para todos que fazem planos de amar, mas antes sempre consultam suas contas nas redes sociais para saber com quem estão saindo. Às vezes, a surpresa da descoberta e o prazer de descobrir com quem esta se relacionando supera o peso da bagagem que trazemos na vida. A Procura do Amor é um desses filmes que faz com que tiremos do nosso intimo o que temos de mais primitivo e nos trouxe até os dias de hoje: curiosidade e conhecimento.

A gente se encontra na semana que vem!

Beijos & queijos

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