É a continuação mais sangrenta da trilogia que continua deixando Keanu Reeves perto da fama mas longe do reconhecimento

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Paris Filmes

Não se pode falar em injustiça se alguém está trabalhando, andando, se comunicando e ajudando o próximo, mas sim, podemos falar de falta de compaixão quando se trata de reconhecer o trabalho de uma pessoa e a extensão de tudo que ele representa tanto na profissão que escolheu quanto na simplicidade com que resolveu viver.


Isso não é tipo nem estilo para chamar a atenção, Keanu Reeves, que na verdade é libanês, certamente não precisa provar para ninguém, nem o que ele pode fazer e onde pode chegar. Talvez premiar com um Oscar® seja um pouco demais para os senhores de Hollywood que preferem entregar para alguém que vá trabalhar em uma Lamborghini Veneno do que de Metrô e que procura fazer filmes que tenham algum grau de profundidade e se perpetuem do que se atirar de cabeça em algum blockbuster passageiro.


Com esse tipo de atitude e sempre com atuações muito convincentes, o que era para ser um já chegou ao três e não dá pinta que vai parar. Estréia hoje nos cinemas do Brasil e amanhã nos EUA John Wick 3 – Parabellum (Lionsgate, Thunder Road Pictures, 87Eleven Productions, Paris Filmes), um festival de porradaria e matança quase sem precedentes, mas é uma produção muito bem cuidada e que vai agradar bastante quem viu os dois filmes anteriores, é uma continuação nivelada por cima.


O episódio começa exatamente onde John Wick: Um Novo Dia Para Matar terminou, no Hotel Continental, John Wick (Keanu Reeves) está em fuga, tem um contrato global de US$14 milhões por sua vida por quebrar a regra de matar no Hotel. Aí começam as lutas e mortes que em alguns momentos chegam a ser cômicas de tantas que se seguem. A gente ri tamanha a criatividade em criar modos de matar gente que jamais teríamos imaginado, é tudo tão bem feito que fica difícil não achar que alguém se deu mal durante as filmagens.


Muito se deve a criatividade de Chad Stahelski, um coordenador de dublês de filmes importantes que dirigiu a aventura desde o primeiro episódio em 2014 e continuou em 2017 com a segunda parte, sempre junto com o roteirista que é parceiro dos longas anteriores e criador do personagem, Derek Kolstad. Fica fácil entender o motivo das cenas de lutas serem tão bem coreografadas, vai de encontro perfeitamente ao significado de Parabellum (se queres a paz, prepara-te para a guerra), um ponto muito comum em todo o filme.


O elenco tem muita gente boa (Halle Berry, Laurence Fishburne, Mark Dacascos, Asia Kate Dillon, Lance Reddick, Anjelica Huston, Ian McShane, Saïd Taghmaoui, Jerome Flynn, Jason Mantzoukas, Tobias Segal) utilizados de forma homeopática durante as 2 horas e 10 minutos da exibição, eles aparecem e desaparecem com muita sutileza: chega, dá o recado e sai de cena. A fotografia tem um alto grau de dificuldade e realização, o dinamarquês Dan Laustsen (A Forma da Água, Proud Mary) fez de cada seqüência um quadro com cores e texturas diferentes, a melhor parte é a luta no cenário de vidro sem direito a reflexos nem sombras desagradáveis.


Talvez a parte menos charmosa na produção seja a sua montagem (N.R.: minha formação faz com que eu exija mais do montador) e muito por culpa de Evan Schiff. Existem momentos em que a lentidão é necessária para o respiro da platéia, mas em alguns casos ela está exageradamente longa, mesmo ajudado pela trilha assinada por Tyler Bates (Guardiões da Galáxia, Deadpool 2) daria para agitar um pouco mais algumas ações intermediárias.


É uma ótima diversão, é o melhor da trilogia em termos de realização e deixa aberta a porta para uma provável continuação, John Wick 3 – Parabellum entra naquela onda de heróis de carne e osso, duros de matar e com poderes especiais que a natureza lhes deu, mais uma vez mostra a versatilidade de Keanu Reeves e o quanto a vida pode ser dura e injusta, por mais nobres que sejam seus sentimentos ou atitudes.