Mais uma vez o Brasil estréia um
filme antes dos EUA, mais uma vez a Marvel transforma em realidade a fantasia dos
quadrinhos
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Disney
De algum tempo para cá,
finalmente os quadrinhos conseguiram chegar às telas com a mesma qualidade e
impacto que tinham nas revistas que líamos na nossa infância e adolescência. O
nome do sujeito que faz essa mágica, que conseguiu transformar em realidade o
que as loucas cabeças dos artistas e editores imaginavam, se chama computador.
As centenas de horas de “renderização (ou simplesmente render)” são as grandes
responsáveis hoje pela realidade virtual que assistimos maravilhados no cinema.
Estreou ontem nos cinemas
brasileiros e hoje nos americanos, Guardiões da Galáxia (Marvel
Studios, Walt Disney Studios Motion Pictures), uma obra prima no uso do
computador e sua capacidade em digitalizar ações e emoções em cenários
absolutamente virtuais. Cerca de 60% do filme foi rodado em fundo de Chroma
Key, os atores quase sempre pendurados em cordas e as câmeras interagindo com
elementos humanos sem referencias ambientais.
Foram poucos os cenários físicos
e externas em lugares reais, tudo é, na verdade, criado nas telas dos monitores
das estações de trabalho. É feito com uma técnica espetacular, envolve diversos
setores do cinema em sua capacidade máxima, extraindo sempre um resultado pra
lá de excelente.
O futuro tem pitadas dos anos 80,
época em que o diretor e roteirista James Gunn provavelmente se
encontrou como gente e adorava a trilha sonora que embalava essa época de
desbunde dos habitantes da terra, principalmente os americanos. A obra que ele
nos oferece é da melhor qualidade, amarrado em um roteiro dinâmico, ágil e ao
mesmo tempo simples, ficando a execução como o grande desafio.
A estória, que começa nos anos
80, é uma aventura espacial com muita ação, onde o impetuoso aventureiro Peter
Quill (numa interpretação muito convincente e divertida de Chris
Pratt, mais próximo do seu personagem em De Repente Pai, do
que do soldado de A Hora Mais Escura), se vê como objeto de uma caçada
implacável após roubar uma misteriosa esfera cobiçada por Ronan, (como sempre o
vilão é o ator mais experiente, e Lee Pace, que já fez Lincoln,
A
Saga Crepúsculo – Amanhecer, e as duas seqüências de O
Hobbit, incorpora ferozmente o personagem, mas exagera um pouco nas
caras e bocas) um vilão poderoso com ambição que ameaça todo o
universo. Para fugir do determinado Ronan, Quill é forçado a fazer
uma complicada aliança com um quarteto de desajustados – Rocket, um guaxinim
atirador (totalmente virtual, mas que empresta a voz de Bradley Cooper, que
arrebentou em O Lado Bom da Vida e Trapaça), Groot,
uma árvore mutante humanóide (também virtual e que é, digamos, dublado em sua
interpretação monossilábica pelo fortão Vin Diesel, que fez toda a série Velozes
e Furiosos), a mortal e enigmática Gamora (onde a exótica Zoe
Saldaña, que já viveu Anamaria em Piratas do Caribe: A Maldição
do Pérola Negra e a implacável Cataleya Restrepo em Em
Busca de Vingança) e o vingador Drax, o Destruidor (aqui
vivido pelo ex-lutador de WWE, um tipo de luta livre, Dave Bautista, mas que no
cinema teve algumas incursões em papeis de fortões briguentos).
Quando Quill
descobre o verdadeiro poder da esfera e o perigo que ela representa para o
cosmo, ele deve fazer seu melhor para reunir seu grupo desorganizado para uma
última e desesperada resistência, com o destino da galáxia em jogo.
É uma produção de mão cheia,
difícil, cheia de detalhes, que deve ter custado horas de mais horas de
planejamento, até porque as filmagens começaram em junho do ano passado e
seguiram até o outono europeu. Na verdade foi um tempo recorde entre as
filmagens e finalização, se levarmos em conta que, outros filmes com a mesma
complexidade demoraram muito mais tempo para ficarem prontos e serem exibidos. Do
início das filmagens até a estréia, foi pouco mais de 1 ano!
Essa agilidade se deu
graças ao grande número de atores e personagens com maquiagens próprias e
adereços feitos em seus próprios corpos. A captação quase pronta facilita na
hora de montar. Para se ter uma idéia, ao longo do processo de filmagem, o
departamento de efeitos especiais de maquiagem fez aproximadamente 1.250
aplicações de maquiagem protética. Haviam 50 artistas de maquiagem no total,
trabalhando em equipes de cada um dos personagens.
Foram muitos figurantes, que
exigiram a confecção de dois mil moldes de alienígenas humanóides. A desenhista
de maquiagem e cabeleireira Elizabeth Yianni-Georgiou (que já
fez filmes como Thor: O Mundo Sombrio,
O Legado Bourne, A Rede Social),
teve muito trabalho para desenvolver os diferentes alienígenas, cujas peças
eram pré-coloridas de acordo com cada raça.
O caso mais espetacular é do
personagem Drax, o Destruidor. As tatuagens e cicatrizes que cobrem todo seu corpo foram feitas através de um processo de maquiagem protética, que fez Bautista
encarar sessões diárias de 4 horas em pé, pois ele não podia se sentar durante a
aplicação. Eram cinco maquiadores para aplicar todas as peças, um total de 18 para o corpo e rosto.
Tudo isso amarrado em um roteiro
muito bem feito pelo próprio diretor e Nicole Perlman. Nele existe a mistura de ação,
emoção e diversão, que é a cara das produções Marvel. O diretor de fotografia é Ben
Davis (Fúria de Titãs), um inglês que prima pelas siluetas mais
recortadas dos personagens, deixando quase sempre os cenários e fundos como
meros coadjuvantes nas cenas.
É um estilo bem típico de filmes
dos anos 80, onde os orçamentos brigavam com as disponibilidades técnicas e se
economizava em iluminação, mas trás para esse momento uma forma interessante de
se mostrar o desenrolar do enredo.
Como editor que fui, sei do
perrengue que o Fred Raskin (Velozes e Furiosos 5, Django
Livre) e o Hughes Winborne (A
Procura da Felicidade e o espetacular Histórias Cruzadas)
tiveram para juntar todo esse quebra-cabeça cinematográfico, tamanha a
complexidade e a quantidade de takes envolvidos. A montagem surpreende, é
direta, clara, ritmada e tem as medidas exatas dos tempos de ação e reação. Em
nenhum momento o filme cansa, ao contrário, a cada cena, a cada corte, ficamos
esperando o que será apresentado a seguir.
Não perca tempo, marque sua
poltrona, opte por assistir em 3D, se segure na cadeira e não saia antes do
fim dos créditos. Guardiões da Galáxia não é apenas um filme de ficção
cientifica retirado dos quadrinhos, é uma espetacular realização que dever
arrebentar bilheterias. É a mágica do cinema que faz você pedir mais um!
A gente se encontra na semana que vem!
Beijos & queijos
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