Depois de 6 anos, os fĂ£s da franquia jĂ¡ podem se deliciar novamente com as aventuras do pirata mais louco do cinema

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Walt Disney Studios Motion Pictures

NĂ£o Ă© de hoje que a Disney faz cinema com o objetivo de divertir quem se propõe ficar duas horas sentado em uma cadeira olhando para uma tela dentro de uma sala escura, foi muitas vezes criticada por nĂ£o abordar temas mais profundos, aquela coisa mais adulta, mas convenhamos, o que vale nĂ£o Ă© a diversĂ£o? E isso eles fazem muito bem!


Grande parte das produções transformaram-se em brinquedos nos parques da gigante americana, primeiro tem que marcar fortemente no cinema e depois vira uma espetacular atraĂ§Ă£o para o pĂºblico, com este filme/franquia foi diferente, primeiro nasceu brinquedo e depois de muitos anos acabou virando obra cinematogrĂ¡fica de enorme sucesso, hoje chega ao quinto episĂ³dio.


Estreou na quinta-feira o tĂ£o esperado Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (Walt Disney Pictures, Jerry Bruckheimer Films, Walt Disney Studios Motion Pictures) com vĂ¡rias mudanças em comparaĂ§Ă£o aos filmes anteriores: os roteiristas nĂ£o sĂ£o os mesmos nem o maestro Hanz Zimmer que desta vez ficou de fora. Inovaram na direĂ§Ă£o que agora Ă© feita por uma dupla, eles sĂ£o Noruegueses e certamente descendentes dos Vikings, poderia ser interessante atĂ© pelo fato dos ancestrais terem sido os melhores navegantes do planeta e inventores da maioria das lendas sobre o mar, mas Joachim Rønning e Espen Sandberg deram um tom muito diferente.


O filme Ă© brilhante quando se trata de criar situações tragicĂ´micas e utilizaĂ§Ă£o de efeitos visuais de concepĂ§Ă£o moderna e inĂ©dita, na nova aventura o anti-herĂ³i icĂ´nico e fanfarrĂ£o, Jack Sparrow (vivido pelo espetacular Johnny Depp) anda passando por uma onda de azar, sente os ventos da mĂ¡ sorte soprando com muita força quando marinheiros fantasmas assassinos, liderados pelo CapitĂ£o Salazar (Javier Bardem, aqui vale uma ressalva, por ser espanhol ele pronuncia de forma correta os nomes de origem latina, Ă© mĂºsica para os ouvidos, aquela embromaĂ§Ă£o Yankee ninguĂ©m merece) escapam do triĂ¢ngulo do diabo decididos a matar todos os piratas em seu caminho, entre eles, Jack.


A Ăºnica esperança para Sparrow Ă© o lendĂ¡rio tridente de Poseidon, para encontrĂ¡-lo ele terĂ¡ que estabelecer uma aliança com Carina Smyth (vivida pela anglo-brasileira Kaya Scodelario), uma linda e brilhante astrĂ´noma e Henry (Brenton Thwaites de Deuses do Egito), um jovem e teimoso marinheiro, com isso Jack busca reverter a sua recente onda de mĂ¡ sorte e tambĂ©m salvar a sua prĂ³pria pele lutando contra um inimigo assustador.


TĂªm outros novos personagens como Stephen Graham (Scrum), David Wenham (Scarfield) Golshifteh Farahani (a bruxa do mar Shansa) e tambĂ©m os antigos Kevin R. McNally (Joshamee Gibbs) e Geoffrey Rush (CapitĂ£o Hector Barbossa) alĂ©m da presença luxuosa de Paul McCartney como Tio Jack, mas algo me incomodou, aquela vertente engraçada com frases com duplo sentido ou desconexas da realidade e que sempre eram proferidas pelos personagens de segundo escalĂ£o nĂ£o existem mais, atĂ© as expressões do olhar enviesado do Barbossa que fizeram o sucesso do personagem desapareceram.


Sabe quando faltam aqueles detalhes que nĂ£o precisam de texto? Pois Ă©, por exemplo, em Piratas do Caribe: No Fim do Mundo, Keith Richards estĂ¡ tocando violĂ£o e quando se sente contrariado ele entoa uma nota encerrando a discussĂ£o, Ă© aquela coisa sutil e forte ao mesmo tempo.


Todas essas gags deram lugar a um texto mais rebuscado e explicativo que Jeff Nathanson escreveu sem ter lĂ¡ muita criatividade, tem um ar meio dĂ©jĂ -vu tanto na trama quanto na prĂ³pria criaĂ§Ă£o dos novos personagens, os mistĂ©rios sĂ£o meio Ă³bvios e rapidamente jĂ¡ se sabe o quem vĂªm a seguir, tanto que nĂ£o consegui pinçar nenhuma frase marcante, que eram fartamente encontradas nos filmes anteriores.


A direĂ§Ă£o dos NĂ³rdicos nĂ£o parece ser europĂ©ia, geralmente mais visceral e com personagens bem marcados, Ă© correta sem ser invasiva e dĂ¡ para notar que eles deixaram os atores se virarem sem colocar pressĂ£o, no caso dos medalhões atĂ© tudo bem, mas os mais novos e sem referĂªncia anterior talvez devessem ter uma marcaĂ§Ă£o mais forte, nĂ£o compromete mas tambĂ©m nĂ£o mostra nenhum grau de genialidade.


O que faz mesmo diferença sĂ£o efeitos da Industrial Light and Magic na concepĂ§Ă£o do novo vilĂ£o, Ă© como se ele estivesse debaixo da Ă¡gua o tempo todo, os cabelos se movimentam como de um mergulhador, impressiona pela qualidade e originalidade, se os tentĂ¡culos de Davy Jones e seu navio de horrores eram fantĂ¡sticos o que vem agora Ă© muito mais forte, a cena antolĂ³gica Ă© da guilhotina, essa sim arranca risos e tem a marca registrada da franquia.


A fotografia do canadense Paul Cameron foge do cinza dos outros filmes e fica mais escura, a ediĂ§Ă£o de Roger Barton Ă© menos enlouquecida que dos seus antecessores e fica mais cadenciada, esses dois elementos saem da concepĂ§Ă£o original sem comprometer muito, deixa um gosto meio diferente para quem se acostumou com aquela coisa maluca que era seguir o pardal (Sparrow) nas suas atrapalhadas fugas.


Em Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar faltou mar, faltou Caribe, sobraram piratas e uma conta para pagar de US$ 320 milhões! É melhor assistir depois de ver (ou rever) os anteriores, tem uma cena pĂ³s-crĂ©ditos que sugere uma continuaĂ§Ă£o, Ă© uma boa diversĂ£o para a famĂ­lia acima dos 12 anos e uma enorme aposta do Jerry Bruckheimer para continuar no mercado sem os fantasmas das suas Ăºltimas produções, que devem ser mais terrĂ­veis que os perseguidores de Jack Sparrow.


Beijos & Queijos