A nova produção baseada em um Mangá lembra muito um desenho animado dos anos 60 com a técnica do século XXI

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Paramount Pictures

No mundo do faz de conta, na busca pelo humano perfeito, por várias vezes os autores japoneses de mangás acreditavam que o ideal seria um ser híbrido, que tivesse corpo cibernético e cérebro humano, isso por que segundo eles é o único órgão do corpo que jamais será melhorada.


Na minha infância houve uma avalanche de heróis japoneses na televisão seja em forma de desenho animado ou mesmo live action, não por serem os melhores e mais bem feitos do mundo, mas pelo preço menor que as emissoras pagavam pelos direitos de exibição e um desses me chamou muito a atenção pela profundidade do tema que impressionava as crianças daquela época, era O Oitavo Homem, um policial que fora assassinado e seu cérebro usado para dar vida a um robô, algo muito diferente do Mickey e seu barco.


O tempo passou, veio o Robocop americano que vagamente lembrava o desenho em questão, mas como tudo na vida evolui, chegou aos cinemas brasileiros uma nova heroína, mais sombria e mais eficiente que seus antecessores robóticos. Em A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (Paramount Pictures, DreamWorks Pictures, Reliance Entertainment, Amblin Partners, Arad Productions, Grosvenor Park Productions, Seaside Entertainment) a atual deusa do cinema mostra toda a sua sensualidade e versatilidade em interpretar um personagem difícil.


Em um futuro próximo, Major (interpretada pela razão do meu viver, Scarlett Johansson) é a primeira de sua espécie: uma humana ciberneticamente melhorada (como se no caso dela isso fosse necessário!) com a função de deter os mais perigosos criminosos. Quando o terrorismo atinge um novo nível, que inclui a habilidade de invadir a mente das pessoas e controlá-las, ela é designada a deter os avanços dessa prática. Na medida em que se prepara para enfrentar um novo inimigo, ela descobre que foi enganada: sua vida não foi salva, mas roubada.


É uma ficção cientifica com temática mais profunda sobre o desejo dos governantes em querer submeter o povo às suas vontades e seus caprichos, ter opinião contraria a deles pode custar caro e causar conseqüências inesperadas, quase sempre destruindo vidas e sonhos. Isso é muito típico em enredos orientais por causa das diversas batalhas que eles travaram durante o tempo de sua existência com outras culturas que se achavam mais evoluídas.


A realização é primorosa tecnicamente, o diretor Rupert Sanders que é mais lembrado pela merda que fez quando teve um caso com Kristen Stewart do que por sua obra, realiza um filme bem distinto: as cenas de ação são fantásticas, as cenas de interpretação deixam muito a desejar, principalmente quando se tem um elenco com Michael Pitt (A Invenção de Hugo Cabret), Juliette Binoche (dispensa apresentações), Takeshi Kitano (premiado ator e diretor japonês), Yuraka Izumihara (Wolverine: Imortal), Chin Han (Batman: O Cavaleiro das Trevas, Capitão América: O Soldado Invernal) entre outros, até o merchandising feito para a Honda para divulgar a espetacular nm4 Vultus não tem a mesma sutileza que se espera de um diretor que começou a vida dirigindo comerciais.


Quando se fala em fotografia, edição e efeitos, a coisa muda radicalmente. Com uma direção de arte muito complexa, os cenários incorporam elementos dos mais variados significados, é quase uma viagem andar nas ruas de Tókio pelas imagens do filme. A captação feita com equipamento ARRI, a ALEXA 65 que imprime as imagens em IMAX dá uma noção de profundidade muito grande com luz natural e o diretor de fotografia Jess Hall (Transcendence: A Revolução, O Maravilhoso Agora) consegue deixar o filme com cara de revista em quadrinhos.


Mas o que realmente surpreende é a edição feita por Billy Rich e Neil Smith, é ritmada e ágil para encaixar todos os CGI´s especialmente realizados para esse filme e pela enorme quantidade de produtoras (Atomic Fiction, Human Dynamo Workshop, Odd Studio, Painting Practice, Territory Studio, Weta Workshop) dá para se ter uma idéia de para onde foi grande parte do orçamento de US$ 110 milhões.


Com uma Scarlett maquiada para ter traços mais orientais, A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell é uma dessas obras que teriam um futuro mais brilhante nas mãos de um diretor menos limitado, mesmo assim é obrigatório para quem gosta do tema ficção cientifica e situações de lutas e tiros bem resolvidos, deve ser lembrado pela excelente solução técnica em alguns prêmios, é um olhar americano na cultura oriental e seus devaneios com o futuro cheio de robôs, que serão os japoneses que certamente irão construir.


Beijos & Queijos