Depois de 27 anos, Martin
Scorsese conseguiu finalmente realizar um filme que tem a sofrência como base
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Imagem Filmes
Na época das grandes descobertas,
os espanhóis e os portugueses eram os grandes senhores dos mares, descobriram o
caminho para as índias e o continente americano, na verdade queriam um atalho
para chegar à Ásia e se depararam com muita terra cheia de índios, mudaram os
destinos de vários povos e impuseram sua cultura. Os lusitanos eram os grandes
desbravadores e forçaram a barra em todos os lugares aonde chegavam, se
comparados aos dias atuais, eram os cavalos de tróia da coroa, aquele vírus que
te atormenta a vida e rouba sua identidade.
Passar a conversa em índios e
povos africanos foi muito fácil, mas quando deram de cara com uma sociedade
estabelecida com padrões e crenças já formadas por séculos de existência, a
coisa ficou feia e o bicho pegou, principalmente no Japão, um país de fortes
tradições que até hoje não aceita intervenção de outras culturas tão
facilmente, imagine o tamanho do perrengue nos anos de 1600.
Esse é basicamente
o argumento do livro Silêncio, escrito pelo japonês Shūsaku
Endō que virou filme nas mãos de Martin Scorsese, um projeto demorado
e que ele o considera como filme da vida, foi de difícil realização e é tão longo
quanto o sofrimento dos seus personagens, são 160 minutos de exibição.
Estreou nesta semana no Brasil a
produção Silêncio (Cappa Defina Productions,
Cecchi Gori Pictures, Corsan, Emmett/Furla Films,
Sikelia Productions, AI-Film, Fábrica de Cine,
SharpSword Films, Imagem Filmes), ela conta a
história de um padre jesuíta nascido na Itália que acabou virando português e
pagando o pato pela coroa portuguesa que queria impor ao mundo o que eles achavam
ser melhor, ou seja, sempre existiu um idiota querendo dominar o planeta.
O filme se passa em 1640, quando
dois padres jesuítas portugueses, Sebastião Rodrigues (vivido
por Andrew
Garfield, que também esteve em Até o Ultimo Homem) e Francisco
Garupe (Adam Driver, o orelhudo Kylo Ren de Star
Wars Episódio VII: O Despertar da Força), partem em uma jornada
para o Japão para procurar o antigo mentor, agora dito apóstata, Cristóvão
Ferreira (Liam Neeson de A Lista de Schindler e Busca
Implacável 1, 2 e 3), cuja última
carta para Portugal fora escrita sete anos antes. Lá, eles enfrentarão uma
violenta e incessante perseguição religiosa dos budistas contra
os cristãos, lideradas por Inoue (interpretado pelo ator japonês
Issey
Ogata).
A fotografia feita pelo mexicano Rodrigo
Prieto é linda, foi indicada ao Oscar® assim como a que ele fez em O
Segredo de Brokeback Mountain e na verdade é só esse o grande ponto
a se destacar, Scorsese optou por fazer uma adaptação sobre um tema histórico
que deixou seqüelas na sociedade japonesa, não pela crença no Deus europeu mas no idioma Nihongo,
trata-se de uma língua aglutinante que aceita facilmente a inserção de novos
fonemas e que herdou muita coisa da língua lusitana, então por que não fazer um
filme falado em português?
Simples, porque senão ele seria considerado Filme Estrangeiro, aquele que não tem o
inglês como língua base, isso foi uma tremenda besteira, tirou muito o realismo
dos diálogos e do fato histórico da incorporação de palavras.
A realização de Silêncio
o transforma em um filme contemplativo, vai agradar a comunidade cristã do
mundo, as atuações são firmes e convincentes, os cenários e locações são
particularmente especiais, os perrengues que os atores passaram são dignos de
louvor, as cenas são fortes e contundentes, pena ter demorado tanto para ser
realizado e chegar num momento pouco favorável ao cristianismo, apesar de ter a
grife Scorsese.
Eu volto na semana que vêm!
Beijos & Queijos
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