Um suspense de tirar o fôlego,
uma realização primorosa e certamente um dos melhores filmes do ano
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Universal Pictures
A vida pode mudar em um instante,
uma ação mal planejada pode colocar a perder tudo que você levou anos para
construir. Vivemos em uma sociedade doente, cheia de preconceitos e pessoas sem
a menos estabilidade emocional, devemos sim encarar os desafios de frente, mas
nem sempre olhando fixamente nos olhos.
Dificilmente encontrei filmes que
fizessem tanto sentido nessa coisa de criar reviravoltas do destino, é uma
realidade construída a partir de fatos absolutamente corriqueiros que se tornam transformadores, é perturbador, inquietante e muito, mas muito bem realizado em
todos os detalhes e em todas as suas ações e reações.
Estréia nesta quinta-feira no Brasil
uma dessas jóias que demorarão a ser reconhecidas e entendidas pelo público,
não sei se pela angustia que gera ao contar sua história forte e de realização surpreendente,
ou mesmo pelo tema tão profundo da psique humana, mas em Animais Noturnos (Focus
Features, Fade to Black Films, Universal Pictures) a realidade se
mistura com a ficção assim como o café com o leite, é preciso muita atenção durante a narrativa.
O roteiro, a produção e a direção
são de Tom Ford, um designer de moda que ganhou fama e fortuna revitalizando
marcas como Gucci e Yves Saint Laurent, antes desse
filme ele dirigiu, roteirizou e produziu Direito de Amar onde já dava
para perceber que ele leva jeito pra coisa, o filme anterior não concorreu ao Oscar®,
mas Colin
Firth (O Discurso do Rei) foi indicado ao premio de melhor ator
daquele ano.
A nova produção é baseada no
romance escrito por Austin Wright, Tony
e Susan, uma história que mostra Susan Morrow, personagem de Amy
Adams (Trapaça, Batman
vs Superman: A Origem da Justiça), uma negociante de arte de
Los Angeles que vive uma vida privilegiada, mas incompleta, ao lado de seu
marido Hutton Morrow (Armie Hammer lembrado por O
Agente da U.N.C.L.E.). Em um final de semana, após Hutton
partir em uma de suas freqüentes viagens de negócios, Susan recebe um pacote
inesperado: um livro escrito por seu ex-marido, Edward Sheffield (o ótimo
Jake
Gyllenhaal de O Segredo de Brokeback Mountain,
Os
Suspeitos, Nocaute), e dedicado a ela.
Uma publicação violenta e desoladora.
Foi usada em grande parte do
filme a “Noite Americana”, aquele
recurso da luz perfeita para cenas noturnas, tem uma plástica e alguns
elementos muito fortes que lembram grandes clássicos cinematográficos, a
fotografia do irlandês Seamus McGarvey (Anna
Karenina, Os Vingadores, Desejo
e Reparação, O
Contador), um craque nessa coisa de fazer a imagem falar, supera as expectativas e trata um tema tão pesado com uma enorme suavidade. Mas o que te prende mesmo na cadeira e arrepia os pêlos do pescoço é a competentíssima
edição feita por Joan Sobel (O Cara Perfeito, A
Seleção, Direito de Amar), sem perder
um detalhe nem o ritmo, ela é manipulada de forma simples e objetiva, conta a história com
sobriedade sem cair no pieguismo nem usar recursos fora do contexto, tudo isso
bem amarrado na insinuante e presente trilha sonora composta pelo polonês Abel
Korzeniowski (Direito de Amar, Romeu
e Julieta).
É um filme para se assistir
concentrado (talvez até sozinho), se deixar envolver pelos personagens e pela ação
às vezes bruta outras vezes singela, dá aquele nervoso típico de suspenses bem
elaborados e faz de Animais Noturnos uma das mais surpreendentes obras do
ano, está entre os escolhidos da academia e, certamente vai te surpreender, do
começo ao inesperado fim.
A gente se encontra na semana que vêm!
Beijos & queijos
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