O fórum promovido pela Automotive Business abordou um tema delicado e polêmico: estamos prontos para a nova era?

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: SD&Press Consultoria / arquivo

Parece que foi ontem, ou melhor, anteontem, melhor ainda, há pouco tempo atrás, que a preocupação com o marketing das empresas quando o assunto é vender seu produto, se restringia a produzir e veicular peças comerciais nas tradicionais mídias que existiam no Brasil e no mundo. Vivíamos uma era de conceitos previamente delimitados e com resultados sempre próximos do previsto, era bater e valer, anunciou, vendeu.


Mas eis que surge um novo mundo cheio de tecnologia da comunicação, o digital começa a invadir os redutos impressos, televisivos e radiofônicos, começa a mudar a cara da mídia, cria novos ídolos e a forma de se atingir os interessados em produtos e serviços, é uma modernidade que nasceu com a intenção de sucumbir velhas fórmulas de sucesso. Mas será que é isso mesmo?


Este novo cenário mostra que este relacionamento exigirá muito mais em termos de inovação e a razão disso é a internet, tanto que para algumas pessoas vivemos hoje a quarta revolução industrial. A conectividade está em todo lugar, na verdade barateou muito e facilitou o acesso a novas mídias se comparadas com as tradicionais, com a vantagem de ser imediatista, todas as informações que precisavam de horas ou mesmo dias para ser confirmadas, agora são apresentadas em tempo real e em qualquer lugar.


E o que dizer da apresentação de um novo produto? É quase instantâneo, se bobear mais pessoas vão saber e ver que existe antes mesmo do dono da empresa. Puxa, mas isso é muito legal, muito bom, não é? Nem sempre, como não existe nenhum tipo de regulamento, a internet se transformou em um território livre em todas as suas camadas, existem até casos de publicações mentirosas que viralizam com uma enorme velocidade e colocam as vitimas passando mais tempo tentando desmentir, isso atrapalha muito, não existe uma fórmula nem uma regra que limite ou até mesmo puna quem comete esse tipo de delito.


Por outro lado esse tipo de informação é mais democrática, esteja onde estiver, na rua, no ônibus, no computador, no escritório, no supermercado, na concessionária, em casa e agora até voando, a internet e seus dois lados chegarão até você, é só querer. Diante deste cenário, empresas e clientes estão cada vez mais inseridos nessa conexão digital e isso está mudando a relação entre ambos, não se tem exatamente uma dimensão se é melhor ou pior, mas isso mudou o jogo.


Eu fui convidado a participar do IV Fórum – O MARKETING AUTOMOTIVO NA ERA DIGITAL, realizado pela AUTOMOTIVE BUSINESS e durante o evento pude notar que os palestrantes são meio que unânimes em afirmar que o compartilhamento será o futuro da indústria automobilística no mundo, ela usa atualmente essas ferramentas novas para alavancar suas vendas e deve ir além, mas não dá para prever o que será desse segmento nos próximos anos. O certo é que muitas fusões devem acontecer e que os clientes agora devem ser tratados como usuários, algumas dessas empresas já compreenderam a necessidade de se reinventar a fim de acompanhar e fazer parte do novo universo de clientes do novo milênio. Será que devemos abandonar velhos hábitos e abraçar novas tendências incondicionalmente? Talvez ainda não.


Uma reclamação paralela de um palestrante me chamou muito a atenção durante sua apresentação. O usuário havia comprado um carro há alguns meses e sofreu um acidente de transito que acabou por danificar o bem. Segundo seu relato, o automóvel está parado em uma concessionária porque foi informado a ele que existe uma enorme dificuldade na importação e liberação das peças necessárias para o conserto, enquanto isso, ele se utiliza de outros meios de transporte e se mostra indignado por não ter o problema resolvido.


Coincidência ou não, na seqüência da palestra e reclamação do usuário, uma nova palestrante, essa representante da empresa dona da montadora do carro do usuário. Segundo ela, quando da sua chegada ao local, ficou sabendo da reclamação e se colocou à disposição para tentar resolver o problema, afirmou que ficaria durante o intervalo do almoço para compreender o que estava acontecendo. Claro que ela não ficou durante o intervalo e não deu chance de nós, espectadores, entendermos o mecanismo que ela usaria para ajudar o usuário. Notaram como é feio e impessoal essa coisa de rotular o cliente?


Não sabemos o que aconteceu, será que ela usou uma solução analógica para um problema digital? Será que o velho “eu vou falar com uma pessoa que vai te ligar para resolvermos isso” entrou em voga? Pois é, a utilização de recursos que não são muito bem compreendidos nem dominados por nós mostra que, na verdade a teoria na pratica é outra, vivemos em um mundo lindo, conectado, cheio de tecnologia e avanços importantes, mas nunca podemos esquecer o velho e bom cafezinho, seja na hora de se comprar, vender ou mesmo socializar.


Tomara que ele consiga arrumar o carro e tomara que as novas tendências tecnológicas não afastem os homens e mulheres, não podemos simplesmente ser usuários e as empresas provedores, o futuro da humanidade não pode se restringir a um login, todos nós temos nome e precisamos continuar nos sentido humanos, ser digital é muito bom, mas um analógico de vez em quando faz bem!