O longa é uma mudança de rumo na arte de atuar

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Universal Pictures

Estamos acostumados a certos tipos de atores que se formam em renomadas escolas de atuação, batalham arduamente em teatros pequenos ou simplesmente em um palco improvisado. Muitos trazem das gerações anteriores o DNA que os levou até a insólita profissão de viver a vida de outra pessoa dentro da sua, é como emprestar sua alma.

Não é um trabalho como qualquer outro, tem muito a ver com educação, é aquela coisa da interpretação de texto que aprendemos na escola, verbalizar isso são outros quinhentos e é sempre mais fácil para quem tem fluência de comunicação. Mas, e sempre existe um mas, por uma piada de mau gosto dos cromossomos, alguém acaba vivendo em um mundo paralelo e não se socializa com seus semelhantes, olhando de longe pode ser um problema, mas certamente tem sempre solução.

Estreia hoje nos cinemas brasileiros um desses filmes que toca muito a alma de quem tem um mínimo de empatia, Campeões (Gold Circle Films, Seven Deuce Entertainment, Focus Features, Universal Pictures) é um remake do filme espanhol Campeones (2018) que é baseado em uma história real, ganhou vários prêmios nos festivais pelo mundo, mas não conseguiu chegar ao Oscar®.

Com o roteiro mais atualizado por Mark Rizzo, Woody Harrelson vive na pele de Marcus, um técnico de basquete da liga secundária que depois de um acidente de transito, é sentenciado a um trabalho voluntário, treinar um time de basquete cujos jogadores tem deficiência intelectual. É uma comédia dramática onde os atores são realmente pessoas portadoras como seus personagens, o brilhantismo das interpretações e a sensibilidade na direção fazem desse longa uma das mais importantes realizações da implacável Hollywood.

Os produtores acertaram em cheio em deixar com Bobby Farrelly a direção, ele tem no currículo vários longas em que o trabalho é tratar de maneira leve e séria as limitações dos personagens. O elenco tem gente conhecida e novatos, Kaitlin Olson (Alex), Matt Cook (Sonny), Ernie Hudson (Phil), Cheech Marin (Julio), Madison Tevlin (Cosentino), Joshua Felder (Darius), Kevin Iannucci (Johnny), Ashton Gunning (Cody), Matthew Von Der Ahe (Craig), Tom Sinclair (Blair), James Day Keith (Benny), Alex Hintz (Arthur), Casey Metcalfe (Marlon) e Bradley Edens (Showtime) entre outros, convivem em perfeita harmonia em seus papéis, os jogadores da equipe se superaram ainda mais pois tiveram que viver outra vida e ainda praticar um esporte dinâmico como é o basquete.

A trama se passa em Iwoa, mas foi realizado no inverno e na primavera de Winnipeg no Canadá, a fotografia de C. Kim Miles é correta e bem clara mesmo nas cenas noturnas, a intenção é não deixar nada nas sombras, tem bons posicionamentos de câmera com diversos ângulos durante os jogos e treinos e dá uma avalanche de opções para Julie Garcés fazer uma montagem calma e bem descritiva.

Campeões não vai mudar a história do cinema, pelo menos por enquanto, se você tem mais de 12 anos aproveite os 124 minutos da exibição, é uma ótima diversão com um viés politicamente correto e inclusivo, traz para o mundo da fantasia quem vive uma realidade diferente da nossa, mostra como a sétima arte pode ser linda por qualquer ângulo.

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