• O fraco 1º. trimestre de 2022 distorce o resultado de 2023;
  • A queda de mais de 23% registrada nos três primeiros meses de 2022 não é compensada pelo crescimento de 16,3% em 2023 e não reflete a realidade do mercado;
  • Antes da pandemia, foram comercializadas 608 mil unidades no 1º. Tri de 2019, agora foram 472 mil em igual período de 2023, queda de 22,3%.

Texto: Eduardo Abbas / Fenabrave
Fotos: Claudio Larangeira / Fenabrave

Não é culpa do antigo nem do novo governo, na verdade, depois da pandemia, o mundo nunca mais foi o mesmo em todos os sentidos e em todos os segmentos. Segundo a economista Teresa Fernandes, os números mostram que o planeta continua em crise e o crescimento econômico deve ser de 2% no mundo, sendo 0% na Europa, 0,5% a 1 % nos EUA e a China, que quer impor sua moeda, 5%.

O Brasil sofre as consequências globais, enquanto o agro cresce a indústria cai, o setor automotivo acaba apanhando por todos os lados, seja na falta de componentes, impostos altos, diminuição do poder aquisitivo da população consumidora e a velha memória da inflação. As prioridades acabam sendo outras e volta ao vocabulário a palavra supérfluo!

A Fenabrave, Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, realizou a coletiva de imprensa de forma presencial e apresentou os números de março de 2023. Os emplacamentos de veículos registraram alta no volume diário em função dos 5 dias úteis a mais do que em fevereiro. Com isso, no trimestre, o setor acumulou aumento de 19% sobre igual período do ano passado.

“Apesar deste aumento percentual, não vimos, ainda, a recuperação do setor para os níveis obtidos até 2019, antes da pandemia. A alta global foi potencializada pela diferença de dias úteis de março (23 dias) ante fevereiro (18 dias) e pelo baixo resultado que obtivemos nas vendas do primeiro trimestre do ano passado. Estamos diante de um cenário, novamente, desafiador para 2023, que apresenta alto endividamento das famílias, aumento da inadimplência, além da alta de juros e seletividade de crédito por parte das instituições financeiras, o que vem restringindo a demanda por parte do consumidor, que vem perdendo seu poder de compra”, analisa Andreta Jr., Presidente da Fenabrave.

Na comparação fria, os números de 23 em comparação com 22 são bons, existe ainda a explicação que, no caso de ônibus e caminhões, as montadoras estão migrando do Euro 5 para o Euro 6 e isso depende de ajuste no mercado. Já nos financiamentos de automóveis e motocicletas, o crédito continua restringido pelos bancos, em média hoje, 60% de carros são aprovados e 30% de motos, a entidade acredita que vai acontecer uma movimentação este ano, seja no governo, seja no mercado, para aquecer as vendas.

Desempenho por Segmento

Automóveis e Comerciais leves - Os segmentos registraram resultado positivo, se comparado ao ano passado. “Ainda estamos abaixo do volume pré-pandemia, muito por conta dos fatores já citados, como a alta dos juros e seletividade de crédito”, analisa o Presidente da Fenabrave. “Hoje, a aprovação dos financiamentos está próxima de 64% das propostas enviadas”, completa.

Automóveis, Comerciais Leves e Motocicletas Eletrificados - Os emplacamentos de autos e leves eletrificados totalizaram 14.794 unidades no 1º. Trimestre de 2023, uma variação positiva de 49,7% sobre igual período de 2022, quando foram emplacados 9.882 veículos. Em março, foram emplacados 5.990 automóveis e comerciais leves eletrificados (híbridos e elétricos), 39,27% mais do que em fevereiro e 55,71% sobre março do ano passado. Com expansão de mais de 30% no acumulado do trimestre deste ano, as motocicletas elétricas vêm ganhando espaço no mercado, com um total de 2.116 motos, contra 1.617 unidades em igual período de 2022. Em março, foram emplacadas 1.021 motos elétricas, o que significou aumento de 83,3% sobre fevereiro e de 55,88% sobre março do ano passado.

Caminhões - Segundo Andreta Jr., o segmento vive um período de transição, com demanda ainda aquecida para veículos que se enquadram nos requisitos do EURO 5, norma que está em processo de substituição pelo EURO 6. “O mercado está se ajustando para absorver os veículos novos, mas o crédito segue seletivo e as condições de financiamento impactam no desempenho”, analisa.

Ônibus - O segmento apresentou resultado próximo da estabilidade nas vendas diárias, em relação a fevereiro, o que, segundo o Presidente da Fenabrave indica a recuperação do mercado de ônibus. “Apesar de sempre ressaltarmos que as grandes oscilações percentuais desse segmento são impactadas pelas bases baixas de comparação, o mercado vem reagindo”, afirma Andreta Jr..

Implementos Rodoviários - Em março, os emplacamentos de implementos rodoviários registraram resultados positivos. “Após um ajuste de mercado, em 2022, os emplacamentos têm alcançado um bom patamar, até agora”, diz o Presidente.

Motocicletas - Com cerca de 150 mil unidades emplacadas no mês de março, o mercado está aquecido para motocicletas no País. “Entendo que, hoje, o estoque está em ponto de equilíbrio, suprindo a boa demanda de mercado, e os compradores têm buscado alternativas de crédito, como o consórcio, nas transações”, analisa Andreta Jr. Atualmente, a aprovação de crédito do segmento se mantém em 30% das propostas.

Tratores e Máquinas Agrícolas (Obs: Por não serem emplacados, Tratores e Máquinas Agrícolas apresentam dados com um mês de defasagem, pois dependem de levantamento junto aos fabricantes) - No acumulado do 1º. Bimestre, houve queda de 15,9% na comercialização de tratores e máquinas agrícolas, totalizando 7.938 unidades, contra 9.439 em igual período do ano passado. Em fevereiro, foram vendidas 4.485 unidades, o que significou queda de 22,3% sobre o mesmo mês do ano passado (5.772 unidades), mas aumento de 29,9% sobre janeiro (3.453 unidades). “Tivemos uma expressiva renovação deste tipo de veículo no ano passado, o que gera certa acomodação do mercado em 2023”, analisa Andreta Jr.

Projeções – Devido às incertezas ainda existentes quanto ao comportamento da economia global e brasileira, a Fenabrave decidiu manter as projeções anunciadas, pela entidade, no início do ano, que apontam para um crescimento geral de 3,3%. “Ainda não temos condições de rever as projeções para o ano, mas estamos preocupados com a situação geral do mercado”, reconhece o Presidente.