Um Ă³timo suspense que mostra o pior lado dos humanos

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Universal Pictures

Quanta maldade se esconde por traz do coraĂ§Ă£o de homens e mulheres? É impossĂ­vel medir com precisĂ£o, sabemos o que deu certo na nossa conquista do planeta, mas esquecemos de mensurar o que deu errado, certamente tem muito mais desfeitos do que feitos, contrariando Maquiavel, nĂ£o existe fim que justifique um meio vil.

Vivemos um momento estranho da chamada humanidade, que hoje nĂ£o Ă© tĂ£o humana assim, sĂ£o seres estranhos com atitudes inacreditĂ¡veis, o cinema sempre retrata situações desse tipo, isso Ă© muito importante, a loucura generalizada nĂ£o deve dar lugar a consciĂªncia e a dignidade de se viver em sociedade e harmonia.

Essa Ă© uma pegada muito forte no filme que estreia hoje nos cinemas brasileiros e que jĂ¡ estĂ¡ arrebentando a bilheteria mundial, O Telefone Preto (Blumhouse Productions, Crooked Highway, Universal Pictures) Ă© um suspense travestido de terror que aborda um tema muito atual e em voga, o sequestro de menores de idade, a estĂ³ria se passa no fim dos anos 70.

NĂ£o vou dar muitos spoilers, no longa Finney Shaw (o Ă³timo estreante Mason Thames) Ă© um menino tĂ­mido e inteligente que vive com a irmĂ£ valentona e o pai alcoĂ³latra uma vida comum, sem grandes mudanças em uma cidade do interior dos Estados Unidos, lĂ¡ os adolescentes estĂ£o desaparecendo. Ele Ă© sequestrado por The Grabber (Ethan Hawke no papel mais assustador da carreira), um assassino sĂ¡dico que o aprisiona em um porĂ£o onde um telefone desconectado na parede começa a tocar.

Pronto, chega, daĂ­ pra frente tem que conferir no cinema. O filme Ă© aquele pacote: produĂ§Ă£o, roteiro e direĂ§Ă£o de Scott Derrickson, que largou o universo de herĂ³is dos quadrinhos para se dedicar a estĂ³rias mais densas e realistas, como Ă© a vida da gente. Ele Ă© baseado no conto The Black Phone de Joe Hill, um escritor americano filho de Stephen King, sĂ³ por isso jĂ¡ vale a pensa conferir.

É um roteiro muito bem construĂ­do em cima de uma ideia muito bem criada. A direĂ§Ă£o de Derrickson Ă© cuidadosa e detalhista, evita aqueles sustos desnecessĂ¡rios, a preocupaĂ§Ă£o Ă© fazer com que vocĂªs se concentre no enredo de muitos detalhes que vĂ£o levar a conclusĂ£o da trama.

A fotografia noir Ă© feita por um especialista no tema, o americano Brett Jutkiewicz Ă© um especialista e construiu a carreira no tema suspense/terror, ele coloca cuidadosamente a cĂ¢mera em planos quase subjetivos do ponto de vista do quarto, usa muito o recurso de luz indireta, isso ajuda a criar um clima inseguro para o personagem e aflitivo para o espectador.

A montagem Ă© de FrĂ©dĂ©ric Thoraval, um editor francĂªs que tem formaĂ§Ă£o nas sĂ©ries de suspense feitas para televisĂ£o. Ele seleciona os takes com cortes mais alongados, nĂ£o Ă© aquela ediĂ§Ă£o louca e muito ritmada que esses gĂªnero de filme geralmente tem, Ă© algo deliciosamente mais suave e bem aplicado, sĂ³ para citar um exemplo, as conversas ao telefone sĂ£o muito bem resolvidas.

O Telefone Preto conta com um elenco de apoio jovem e muito talentoso, os 102 minutos nĂ£o sĂ£o para todos os pĂºblicos, a ClassificaĂ§Ă£o Indicativa diz nĂ£o ser recomendado para menores de 16 anos. Se vocĂª gosta do gĂªnero nĂ£o pode perder, vale tambĂ©m para conhecer uma nova forma de cinema de suspense. JĂ¡ se fala em fazer uma continuaĂ§Ă£o, Derrickson disse que Hill lhe apresentou uma ideia maravilhosa para uma sequĂªncia, mas que ele sĂ³ faria se o primeiro filme fosse bem-sucedido, bem, ele custou US$ 18,8 milhões e jĂ¡ faturou mais de US$ 115 milhões, o que vocĂª acha?

Assista ao trailer