Uma declaraĂ§Ă£o de amor em meio ao caos dos anos 60 Ă© um forte concorrente ao Oscar®
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Universal Pictures
A intolerĂ¢ncia religiosa Ă© uma das maiores aberrações que os habitantes do planeta jĂ¡ produziram em termos de discriminaĂ§Ă£o. Essa coisa do “meu Deus Ă© melhor que o seu” jĂ¡ teve ocorrĂªncias deprimentes em todos os continentes do planeta, nĂ£o tem nada mais idiota do que acreditar que uma crença seja melhor que a de seu vizinho, seja ele da rua, cidade, estado, paĂs.
Os anos 60 se notabilizaram por expor essa intolerĂ¢ncia com mais Ăªnfase na Irlanda, catĂ³licos e protestantes literalmente se matavam por causa da opĂ§Ă£o de cada um, e foi usando essa temĂ¡tica profunda e triste que Kenneth Branagh escreveu, produziu e dirigiu um dos filmes mais belos e realistas sobre a briga mais sem sentido de todos os tempos.
Estreia hoje no Brasil Belfast (Focus Features, Universal Pictures), o filme jĂ¡ ganhou o Globo de ouro de melhor roteiro, o PrĂªmio AACTA de Melhor Atriz Coadjuvante para Judi Dench, foi People's Choice Award no Toronto International Film Festival e tem sete indicações (Filme, DireĂ§Ă£o, Atriz e Ator Coadjuvante, Roteiro Original, Som e CanĂ§Ă£o) para o Oscar® 2022, Ă© uma obra singular, tanto que a opĂ§Ă£o foi realizar em branco e preto.
O longa trata, atravĂ©s de uma histĂ³ria bem-humorada, terna e intensamente pessoal, a infĂ¢ncia de um menino durante os tumultos na cidade de Belfast no final dos anos 1960, foi quando o mundo que ele conhecia de repente virou de cabeça para baixo na comunidade estĂ¡vel e amorosa onde vivia.
O elenco foi muito bem escolhido, atores e atrizes incorporam os personagens com muita força e as mulheres dĂ£o o tom, a começar pela lindĂssima e carismĂ¡tica CaitrĂona Balfe, ela divide o set com Judi Dench aquela que, pra variar, dĂ¡ mais um show de interpretaĂ§Ă£o. Os homens Jamie Dornan, CiarĂ¡n Hinds e o garoto Jude Hill completam um cast de nĂvel elevadĂssimo de interpretaĂ§Ă£o, as cenas sĂ£o fortes e muito realistas, certamente Branagh viveu em algum momento de sua infĂ¢ncia esse drama que agora trouxe com muita competĂªncia para a tela.
A opĂ§Ă£o de fazer um filme sem cor impacta e dĂ¡ um ar mais documental, o diretor de fotografia Ă© o cipriota Haris Zambarloukos, ele usa muita luz natural em seus filmes e gosta de movimentos de tamanho e plano mĂ©dio, dando ao filme um charme que Ă© docemente embalado pela mĂºsica composta por um nativo de Belfast, o fantĂ¡stico Van Morrison.
VĂ¡ acompanhado de alguĂ©m, com seu espĂrito aberto e cheio de alegria assistir essa estĂ³ria comovente de amor, risos e perda na infĂ¢ncia. Durante os 98 minutos de exibiĂ§Ă£o, Belfast mostra que Ă© o filme certo para entendermos o atual momento da humanidade que vive novamente uma guerra, a mesma que deixa suas vitimas desconhecidas sofrendo e com o futuro incerto.
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