Tudo começou com Antônio Alves, que adquiriu a marca na década de 70, a empresa seguiu com o filho, José Carlos Alves, e, atualmente, é administrada pelo neto, Rodrigo Alves

Texto e fotos: Ponto Chic

Empresa familiar, o Ponto Chic é um dos bares mais tradicionais da cidade de São Paulo. Sua história começou em 1922, quando foi fundada a loja do Largo do Paissandu. No entanto, o negócio ganhou um novo capítulo na década de 70, quando Antônio Alves adquiriu a marca já que o antigo dono passava por dificuldades com o aluguel, sendo despejado pelo proprietário do imóvel. A sucessão continuou com José Carlos Alves, filho de Antônio, e, atualmente, o restaurante é administrado por Rodrigo Alves, filho de José Carlos e neto de Antônio. Essa forte ligação entre pai e filho por três gerações faz com que o Dia dos Pais seja ainda mais especial para os proprietários.


Quase centenário, a longevidade e sucesso do Ponto Chic podem ser explicados por fatores como respeito à tradição, consolidação da marca e um produto de qualidade que caiu no gosto dos clientes. Principal atração da casa, o lanche Bauru é um desses produtos e sua receita verdadeira foi criada há mais de 80 anos. “O fundador estava com idade avançada e não tinha interesse em seguir com o negócio, pois não tinha nenhum sucessor. Surgiu a chance e meu avô comprou a marca. Na época ele estava montando um restaurante perto de onde fica atualmente a loja das Perdizes e viu a notícia de que o Ponto Chic ia fechar. Foi aí que ele comprou a marca e chamou os ex-funcionários”, conta Rodrigo Alves, atual proprietário.


A família Alves assumiu a administração do Ponto Chic mais precisamente em 1978. Desde então, o negócio seguiu prosperando principalmente por causa de uma gestão profissional e qualificada. “A expansão para mais de uma loja (atualmente são três) só foi possível com uma boa gestão financeira, entendendo o negócio e ajustando os preços, trabalhando sem fazer maluquices. É importante ter uma gestão racional e com foco no cliente, deixando de lado seu próprio gosto. Ter uma boa equipe é essencial, pois são eles que fazem a diferença”, afirma Rodrigo. O Ponto Chic tem lojas no Paissandu (Largo do Paissandu, 27), a mais tradicional, e as outras duas são localizadas nas Perdizes (Largo Padre Péricles, 139) e no Paraíso (Praça Oswaldo Cruz, 26).


Rodrigo Alves iniciou sua trajetória no Ponto Chic quando ainda era adolescente. “Com 14 anos o presente do meu pai foi me dar uma carteira de trabalho. A partir de então a mesada virou salário. Passei a trabalhar por meio período e durante as férias. Comecei a participar das compras, a negociar e a entender como a empresa funcionava. Quando ingressei na faculdade meu pai pediu para que saísse do Ponto Chic e focasse nos estudos e na carreira, passando a buscar no mercado outras oportunidades. Ele não queria que continuasse porque não conheceria outros modelos e ficaria restrito apenas ao Ponto Chic e não conseguiria agregar outras ideias”, revela.


Rodrigo sempre se preocupou em adquirir conhecimento para estar preparado no momento que assumisse a administração. “A primeira decisão que tomei, com 21 anos, é se seria um herdeiro ou um sucessor. O herdeiro recebe o patrimônio. Já o sucessor é aquele que faz a gestão. E para ser um sucessor é preciso se preparar tecnicamente para o mercado e entender a empresa. Não basta ser o filho do dono. O olhar tem que ser profissional. Então comecei a focar minha carreira e estudos para esse caminho”, comenta o empresário, que é formado em Direito, tem um MBA em Marketing e uma Pós-Graduação em Administração e Gestão de Pessoas, realizada em Los Angeles.


A questão da tradição é uma das receitas do sucesso do Ponto Chic e é levada em conta também na relação com os funcionários. “Compreender seu negócio é fundamental. E o meu negócio é tradição. Espero que o cliente venha comer no Ponto Chic e tenha uma experiência. Que essa ida se torne algo memorável. E é a tradição que me proporciona essa mágica. É importante ter esses colaboradores mais velhos, pois eles são o espelho desta tradição. Na nossa folha de pagamento temos benefícios voltados para a terceira idade. Por exemplo, usamos como plano de saúde o Prevent Sênior, que é especializado nesse público. Considero fundamental a permanência deles porque são os pilares que mantêm a tradição, a cultura e os valores da empresa”, enfatiza.


E essa relação com os colaboradores sempre foi tratada como prioridade pelo Ponto Chic. “Sempre foi a nossa maior preocupação e dedicação. Eles são a chave do sucesso para uma empresa. São eles que estão o tempo inteiro frente a frente com o cliente. São eles que fazem toda a preparação e estão fritando a batata, fazendo o Bauru e atendendo o cliente. É uma relação de muito respeito, de saber dividir o bolo para premiar aquele colaborador que está trabalhando bem e trazendo resultados. Costumo dizer que não sou patrão de ninguém. O nosso patrão é o cliente. Uso essa frase com frequência. O relacionamento de confiança é um diferencial para que alguns estejam na empresa por tanto tempo”, destaca o proprietário.


O sanduíche que ganhou o apelido do seu criador - A inauguração do Ponto Chic coincidiu com a Semana de Arte Moderna e logo passou a ser frequentado por intelectuais, artistas, modernistas e por grandes celebridades como Mário de Andrade, Anita Malfatti, Monteiro Lobato e tantos outros. Os alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco também se tornaram assíduos frequentadores. Um de seus mais ilustres alunos, Casimiro Pinto Neto, o Bauru, que tinha esse apelido por ser da cidade de Bauru, SP, foi o protagonista na criação do sanduíche mais pedido da casa alguns anos mais tarde (1937).


Casimiro conta em detalhes as etapas de sua criação. “Era um dia que eu estava com muita fome. Cheguei para o sanduicheiro Carlos - hoje já falecido - e falei: - Abre um pão francês, tira o miolo e bota um pouco de queijo derretido dentro. Depois disso, o Carlos já ia fechando o pão e eu falei: - Calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso. Bota umas fatias de rosbife junto com o queijo e ele já ia fechando de novo quando eu tornei a falar: - Falta a vitamina, bota aí umas fatias de tomate. Quando estava comendo o segundo sanduíche, chegou o “Quico” - Antonio Boccini Jr. -, e pegou um pedaço do meu sanduíche. Ele gostou e gritou para o garçom: - Me vê um desses do “BAURU”.


Os amigos de Casimiro foram experimentando e o nome foi ficando. Todos quando pediam o lanche falavam: Me vê um do “BAURU” e assim o nome se consolidou. O sanduíche tem como diferencial a utilização de quatro tipos de queijos fundidos em banho-maria (queijo prato, estepe, gouda e suíço). A receita ainda leva fatias de rosbife, tomate e pepino em conserva, tudo em um pão francês fresquinho e crocante. A originalidade e o sabor fazem toda a diferença, portanto, os chapeiros do Ponto Chic são treinados para manter o sabor da receita original, assim, geração após geração, quem visitar as lojas terá sempre a mesma experiência deliciosa ao provar o verdadeiro Bauru.