Fundado em 1922, o restaurante está entre os locais mais tradicionais da capital paulista e tem como principal atração a receita original do sanduíche Bauru

Texto e fotos: Ponto Chic

O Ponto Chic está entre os locais mais tradicionais de São Paulo, com mais de 95 anos de existência. E foi no Largo do Paissandu onde tudo começou, na loja mais histórica, fundada em 1922. A relação com o município é marcante desde sua inauguração, coincidindo com a Semana de Arte Moderna. O local passou a ser frequentado por intelectuais, artistas, modernistas e grandes celebridades como Mário de Andrade, Anita Malfatti, Monteiro Lobato e tantos outros. A cidade completou 464 anos em 2018 e o Ponto Chic, detentor da receita original do lanche Bauru, foi eleito a lanchonete preferida dos paulistanos em pesquisa realizada pela empresa digital MindMiners em parceria com a Revista Veja São Paulo.


O estudo tinha como finalidade descobrir as preferências dos munícipes em vários itens e, em um deles, o Ponto Chic ficou no topo da lista. Foram ouvidos 1.500 moradores da cidade das classes A e B e o local ficou em primeiro no quesito lanchonetes, com 15% dos votos. Em seguida apareceram, respectivamente, a Lanchonete da Cidade, com 11,9%, e o General Prime Burger, com 9,9%. A empresa tem administração familiar e, atualmente, o responsável é o proprietário Rodrigo Alves, neto de Antônio Alves e filho de José Carlos Alves. Além do Bauru, o restaurante tem como especialidade o Rococó, sanduíche servido no pão francês com fatias de rosbife (frio), tomate em rodelas, pepino em conserva, queijo gorgonzola e aliche.


Além do Bauru e do Rococó, destaque para outras especialidades da casa, como Seleto (sanduíche no pão francês com finas fatias de rosbife quente, presunto, tomate em rodelas, pepino em conserva e uma mistura de 4 tipos de queijos fundidos), Mexidinho ao Ponto Chic (combinação de presunto picadinho, dourado na manteiga, ovo e o queijo do Ponto Chic, servido direto no pergaminho de forma a manter sua temperatura), Fritada ao Ponto Chic (fatias de presunto forram o pergaminho para receber o ovo e serem cobertos por fatias de queijo prato), Sanduíche de Pernil (fatias de pernil frescas servido no pão francês com molho especial de tomate e cebola), e Bauru no Prato (o famoso Bauru servido com o pão à parte).


A cozinha do Ponto Chic oferece também um cardápio repleto de opções de pratos tradicionais da cultura do brasileiro e do paulistano. São as mais diversas massas, saladas, sopas, sanduíches clássicos, aperitivos frios, beirutes e porções. Entre as refeições, destaque para Feijoada, às quartas e sábados, e o tradicional Virado à Paulista, servido às segundas-feiras, prato que foi reconhecido em 2018 como patrimônio imaterial do estado de São Paulo.
Bauru e seus 80 anos de existência - Casimiro Pinto Neto era um dos alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco que se tornaram assíduos frequentadores do Ponto Chic. Por ter nascido em Bauru (SP), Casimiro carregou o nome do município como apelido e foi o protagonista na criação do sanduíche mais pedido da casa e que soma mais de 80 anos.
“Era um dia que eu estava com muita fome. Cheguei para o sanduicheiro Carlos - hoje já falecido - e falei: - Abre um pão francês, tira o miolo e bota um pouco de queijo derretido dentro. Depois disso, o Carlos já ia fechando o pão e eu falei: - Calma, falta um pouco de albumina e proteína nisso (Eu tinha lido em um opúsculo livreto de alimentação para crianças, da Secretaria da Educação e Saúde, escrito pelo ex-prefeito Wladimir de Toledo Piza, também frequentador do PONTO CHIC - que a carne era rica nesses dois elementos). Bota umas fatias de roast beef junto com o queijo e ele já ia fechando de novo quando eu tornei a falar: - Falta a vitamina, bota aí umas fatias de tomate. Quando eu estava comendo o segundo sanduíche, chegou o “Quico” - Antonio Boccini Jr. -, que era muito guloso e pegou um pedaço do meu sanduíche e gostou. Aí ele gritou para o garçom, que era um russo chamado ALEX: - Me vê um desses do “BAURU”. “Os amigos foram experimentando e o nome foi ficando. Todos quando iam pedir falavam: Me vê um do “BAURU” e assim ficou o nome de BAURU para o sanduíche inventado por Casimiro Pinto Neto, mais conhecido como “BAURU”.
A receita leva fatias de rosbife, tomate, pepino em conserva, e quatro tipos de queijos fundidos em banho-maria (queijo prato, estepe, gouda e suíço), preparados de um jeito único, tudo no pão fresquinho e crocante. Originalidade e sabor que fazem toda a diferença. Os chapeiros do Ponto Chic são treinados para manter o sabor da receita original, assim, geração após geração, quem visitar as lojas terá sempre a mesma experiência deliciosa ao provar o verdadeiro Bauru. Algumas lanchonetes adicionaram aos seus cardápios elementos inspirados na receita do nosso Bauru, difundindo ainda mais a fama do sanduíche ao redor do Brasil, mas o original só no Ponto Chic.


Tradição contribui para o sucesso do negócio - A longevidade e o sucesso da empresa podem ser explicados por fatores como respeito à tradição, consolidação da marca e um produto de qualidade que caiu no gosto dos clientes. Durante essa trajetória, o Ponto Chic passou por um período complicado na década de 70 quando foi despejado, já que o antigo dono teve dificuldades com o aluguel e o proprietário pediu o imóvel de volta. “O fundador estava com idade avançada e não tinha interesse em seguir com o negócio, pois não tinha nenhum sucessor. Na época o meu avô (Antonio Alves) estava montando um restaurante perto de onde fica atualmente a loja das Perdizes e viu a notícia de que o Ponto Chic ia fechar. Foi aí que ele comprou a marca e chamou os ex-funcionários”, contou Rodrigo Alves.
A família Alves assumiu a administração do Ponto Chic mais precisamente em 1978. Desde então, o negócio seguiu prosperando principalmente por causa de uma gestão profissional e qualificada. “A expansão para mais de uma loja (atualmente são três) só foi possível com uma boa gestão financeira, entendendo o negócio e ajustando os preços, trabalhando sem fazer maluquices. É importante ter uma gestão racional e com foco no cliente, deixando de lado seu próprio gosto. Ter uma boa equipe é essencial, pois são eles que fazem a diferença”, afirmou Rodrigo. O Ponto Chic tem lojas no Paissandu (Largo do Paissandu, 27), a mais tradicional, e as outras duas são localizadas nas Perdizes (Largo Padre Péricles, 139) e no Paraíso (Praça Oswaldo Cruz, 26).


A questão da tradição é uma das receitas do sucesso do Ponto Chic e é levada em conta também na relação com os funcionários. “Compreender seu negócio é fundamental. E o meu negócio é tradição. Espero que o cliente venha comer no Ponto Chic e tenha uma experiência. Que essa ida se torne algo memorável. E é a tradição que me proporciona essa mágica. É importante ter esses colaboradores mais velhos, pois eles são o espelho desta tradição. Na nossa folha de pagamento temos benefícios voltados para a terceira idade. Por exemplo, usamos um plano de saúde que é especializado nesse público. Considero fundamental a permanência deles porque são os pilares que mantêm a tradição, a cultura e os valores da empresa”, enfatizou.
Isso quer dizer que a tecnologia não está presente no Ponto Chic? Engana-se quem pensa assim. A modernidade fica restrita aos bastidores. “Temos uma tecnologia gigantesca, mas que fica escondida do cliente. Portanto, você nunca verá meu garçom com um tablet porque quebra a magia. Ele estará com aquela comanda tradicional em papel anotando seu pedido. Se meu garçom chegar para atender com um aparelho tecnológico vira uma contradição. Como o estabelecimento vende tradição e, ao mesmo tempo, o garçom trabalha com tamanha modernidade? Não faz sentido. É impossível não ter uma tecnologia por trás. Eu tenho e é isso que me permite ter todos os números para fazer a gestão. A tecnologia não fica à mostra, para que o cliente tenha a impressão que a gente continua operando como há 40 anos”, destacou.
E essa relação com os colaboradores sempre foi tratada como prioridade pelo Ponto Chic. “Sempre foi a nossa maior preocupação e dedicação. Eles são a chave do sucesso para uma empresa. São eles que estão o tempo inteiro frente a frente com o cliente. São eles que fazem toda a preparação e estão fritando a batata, fazendo o Bauru e atendendo o cliente. É uma relação de muito respeito, de saber dividir o bolo para premiar aquele colaborador que está trabalhando bem e trazendo resultados. Costumo dizer que não sou patrão de ninguém. O nosso patrão é o cliente. Uso essa frase com frequência. O relacionamento de confiança é um diferencial para que alguns estejam na empresa por tanto tempo”, comentou o proprietário.