Produção espetacular, direção digna de seu nome, elenco engajado, trilha sonora envolvente, efeitos fantásticos, só pode ser sucesso!

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures

Que os anjos digam Amém! Ainda bem que Steven Spielberg recuperou a forma que o consagrou como um dos maiores gênios realizadores do cinema em todos os tempos. Já estava na hora de acordar para a realidade do século XXI e voltar a fazer aquilo que sempre fez melhor: dirigir em alto nível.


Depois de retumbantes fracassos, tanto de crítica quanto de bilheteria e uma incômoda ausência nas premiações mais importantes, fizeram este senhor, do alto de seus setenta e um anos, pai de seis filhos de dois casamentos, vencedor do Oscar® de melhor diretor duas vezes e que tem 5 filmes entre os 100 melhores de todos os tempos, repensar nas suas novas investidas na telona. Longe dele ser considerado um fracassado, sua fortuna em 2016 era estimada em US$ 3.6 Bilhões de dólares, mas aquela chispa criadora que o transformou em uma referencia do cinema nos anos 70, 80 e 90 tinha adormecido no começo deste novo século.


Claro que eu vivia criticando suas produções mais recentes, não acreditava, assim como certamente 90% do planeta, que o cara que havia dirigido filmes tão espetaculares se conformaria em fazer, com o perdão da palavra, muitas merdas em seqüência. Mas, e sempre existe um mas, a sua redenção veio com aquilo que jamais deveria ter abandonado: a fantasia.


Estréia nesta quinta-feira simultaneamente no Brasil e EUA o filme que certamente vai mudar o jeito de se fazer cinema de ação, Jogador Nº 1 (Warner Bros. Pictures, Amblin Entertainment, Village Roadshow Pictures, De Line Pictures, Farah Films & Management) é um dos melhores filmes de ficção e aventura que surgiram neste século, além de ser uma muito bem contada estória que carrega um imenso mix de referências.


Baseado no livro homônimo de Ernest Cline, se passa no futuro, em 2045, quando o mundo está à beira do caos e do colapso. As pessoas encontraram refúgio no OASIS, um amplo universo de realidade virtual criado pelo genial e excêntrico James Halliday (Mark Rylance). Quando Halliday morre, ele deixa sua fortuna para a primeira pessoa que encontrar um easter egg escondido por ele mesmo em algum lugar do OASIS, dando origem a uma competição mundial. Um jovem e improvável herói chamado Wade Watts (Tye Sheridan) decide participar da competição, ele é lançado a uma caça ao tesouro arriscada e capaz de distorcer a realidade através de um fantástico universo de mistérios, descobertas e perigos.


Aliás, easter egg é o que o filme mais tem, é um paraíso e um enorme desafio identificar pelo menos 20% das referencias que são colocadas durante as 2 horas e 18 minutos de exibição, eu assisti em uma cabine IMAX e aconselho todos fazerem o mesmo, a loucura sabiamente controlada fica muito mais realista. O filme é uma das mais complexas animações feitas pela não menos espetacular ILM, empresa que era do amigo George Lucas e que hoje vive sob o guarda chuva da Disney, mas é certamente a melhor das melhores produtoras de efeitos visuais do planeta.


O filme tem uma estória apocalíptica que reflete em parte nossa realidade atual com olhos no futuro, os atores são os opostos de seus avatares (Olivia Cooke, Ben Mendelsohn e T.J. Miller, participação de Simon Pegg) e isso fica escancarado na tela, curioso é que o diretor não se preocupou em nenhum momento com a beleza (o casal não prima por esse predicado), a fotografia de Janusz Kamiński é fria no virtual, quente na vida real e carrega o espectador diretamente para a realidade que está na tela. Dois pontos são dignos de serem citados, a edição enlouquecedora de Michael Kahn e a não menos espetacular trilha sonora Alan Silvestri, que transforma a ação em um interminável vídeo game com pitadas de vídeo clipe e canções que também podem ser consideradas easter egg.


Com um generoso orçamento de US$ 175 milhões, Jogador Nº 1 é um marco do cinema e será um divisor de águas quando se tratar de filme de ação moderno, a classificação indicativa é de 14 anos (uma enorme besteira, tem coisas piores na TV aberta e consideradas Livre!) e, finalmente, representa o novo despertar de Steven Spielberg, do jeito que ele faz melhor, embaralhando a cabeça dos cineastas contemporâneos, criando um novo padrão e mostrando que os anos de estrada sempre melhoram o que já é bom, calando muitas bocas preconceituosas que já queriam sentar na janelinha colocando a culpa na idade. Welcome back Steven, o cinema e mundo ainda precisam muito de você!