O alimento é um dos mais completos, mas deve ser tratado com responsabilidade

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Eduardo Abbas / Friboi / Arquivo


Stanley Kubrick e Arthur C. Clarke mostravam nos anos 60 com a obra-prima 2001: Uma Odisséia no Espaço que os homens das cavernas já viviam em função da caça, que a carne fazia parte do cardápio de nossos ancestrais desde a aurora dos tempos e da então recente descoberta do fogo. Muitas vezes o alimento foi considerado por algumas religiões como “profano” ou até mesmo impróprio para o consumo daqueles que seguiam as escrituras, isso porque a carne não era acessível a todos, somente os mais ricos como reis ou imperadores saboreavam a iguaria em suas refeições.


O tempo passou, o homem evoluiu e a ciência tomou o lugar do extremismo exagerado de algumas seitas, hoje em dia é quase impossível pensar que as propriedades nutricionais deste alimento, que já foram comprovadas das mais variadas formas, não deve fazer parte da alimentação dos habitantes do planeta pelo menos uma vez por semana, inclusive porque existem países e seus habitantes que vivem em função da produção da carne bovina para consumo humano e mesmo animal.


Não existe a certeza que nascemos carnívoros ou vegetarianos, mas sabemos que em várias situações o consumo de carne se torna absolutamente necessário principalmente nas regiões com temperaturas polares, o acumulo de gordura no ser humano em condições extremas é muito baixa e torna-se necessária a inclusão de proteína animal para garantir a vida dos habitantes nesses locais, pode notar, quanto mais longe da linha do equador maior é o consumo de carne bovina, que hoje é a mais consumida no mundo.


Claro que em algumas regiões não depende só da condição climática, a facilidade de acesso ao alimento, as tradições alimentares formadas ao longo do tempo e a riqueza financeira faz com que em alguns países seus habitantes consumam mais carne. O Brasil é um país de contrastes, a colonização foi muito miscigenada tanto na alimentação quanto no desenvolvimento econômico, as condições climáticas menos bruscas em relação ao frio, com muitos dias de sol no ano e água em abundancia, transformaram o país em um dos maiores produtores de proteína animal no mundo, aqui é mais fácil de produzir, abater e comercializar, mas tudo isso tem que ter uma coisa fundamental: critério.


Eu fui gentilmente convidado para conhecer uma das unidades mais importantes da maior processadora de proteína animal do mundo, afinal de contas, no começo do século a carne bovina que consumimos diariamente passou a ter nome próprio: Friboi. Essa unidade fica em Campo Grande, a cidade morena, no Mato Grosso do Sul, lá pude aprender e conhecer sem restrições todo o processo, é de lá que certamente a carne que você consome sai.


Antes do tour guiado, aprendemos que a empresa nasceu em 1953 na cidade de Anápolis, no interior de Goiás e cresceu a partir da construção de Brasília, passou a comercializar carne para as grandes construtoras e empreiteiras que se instalaram na região. A partir de então a Friboi construiu uma plataforma de produção de carne seguindo os rigorosos padrões nacionais e internacionais, sempre aliando qualidade com a garantia de origem, hoje é a maior indústria brasileira de alimentos, atua nos segmentos de carne bovina, suína, aves e ovinos, além de couro, colágeno, etc...


Toda essa infra-estrutura é muito minuciosa, até as facas utilizadas nos processos são feitas especialmente para a companhia, lá não se compra gado criado em florestas com desmatamento irregular, as criações são monitoradas via satélite e por agentes da empresa que fazem uma rigorosa fiscalização nas fazendas e existe o respeito pelo animal até na hora do abate. Toda a instalação segue rigorosamente os padrões de segurança e higiene exigidos pelas leis locais brasileiras e de vários países que são compradores da nossa carne.


Tive acesso ao centro de produção, um enorme galpão com temperatura controlada e cercado de barreiras anti-germes que são criteriosamente executadas antes da entrada no setor, para se ter uma ideia, até as botas que usamos foram lavadas com uma solução anti-bactericida. Lá dentro pude testemunhar uma boa parte dos 1.700 funcionários trabalhando de forma sincronizada separando cada corte especifico em suas ilhas de trabalho.


Basicamente acontece assim: as carcaças fazem sua entrada no recinto lá ao fundo pelo lado direito da foto, passam por vários funcionários que fazem as primeiras separações dos cortes, seguem em direção à esquerda onde o processo é finalizado. A separação de cada tipo de corte é encaminhada para as mesas que ficam na frente onde são separados por especificação, lá serão limpos, embalados e etiquetados, seguem para a refrigeração e posteriormente para o destino.


O mais curioso nesse setor é o cheiro: não existe, o ar é estéril e a provável incidência de bactérias que poderiam condenar um lote de carne torna-se quase impossível de acontecer. Os números são impressionantes: aqui são processados somente bois da raça Nelore, cerca de 460 carcaças por hora o que dá aproximadamente 1.800 animais por dia, seguem para vários destinos do Brasil e do exterior e fazem desta unidade que foi inaugurada em outubro de 2009 uma das mais importantes do grupo.


O comandante de todo esse exercito é um gaúcho, José Vitorio Piva que mudou com a família para o calor do centro-oeste brasileiro e tem a missão de garantir o que a Friboi vende: carne de qualidade. Em uma longa conversa que tivemos, uma coisa me chamou a atenção, os árabes consomem carne de boi, mas existem critérios para todo o processo, perguntei para ele “Como foi essa coisa de se adaptar as exigências principalmente dos povos do Oriente Médio?” Segundo Piva “No começo das negociações nós recebemos vários representantes tanto comerciais quanto religiosos, você tem razão quando fala que os árabes exigem certas situações para consumir a carne do animal, uma delas é a forma de abate que deve seguir os preceitos milenares, no caso é usada uma faca especial para se fazer a degola, e tem sempre um representante deles aqui na fábrica acompanhando os trabalhos”.


Perguntei também se eram somente eles, segundo Piva “não, todos os países para os quais exportamos, principalmente os europeus e americanos, enviam com freqüência missões de avaliação, temos sempre que estar preparados para uma visita, na maioria das vezes somos avisados com antecedência, mas em alguns casos chegam de surpresa sem avisar, isso ocorre com algumas redes de fast-food para as quais fornecemos a carne, de repente eles batem na porta e querem entrar”.


A Friboi vai além das gôndolas de carne dos mercados ou dos refrigeradores onde seus produtos embalados a vácuo estão expostos, a Academia da Carne é um espaço na web que dá dicas e receitas para os consumidores dos produtos, os churrasqueiros de fim de semana, os pilotos de grelha que vez ou outra se arriscam e mesmo para que já é expert no assunto, com uma variedade enorme de temas tanto em vídeo quanto em texto essa ação procura aproximar mais o cliente do produto.


A visita chega ao fim, hora de voltar para casa com tudo que foi aprendido, entendido e sabendo que a Mel, o Valter e o Piva vão estar cuidando da qualidade daquilo que eu, meus amigos e familiares vamos colocar na mesa, afinal de contas, uma frase do José Vitorio vai ficar marcada como referencia de seriedade do que é feito: “a carne que nós produzimos aqui eu sirvo para o meu filho em casa, quer maior prova que essa que eu confio no que fazemos?”