A nova produção é uma das
melhores realizações do ano e deve ser um dos favoritos ao careca dourado do
ano que vêm
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures
Nunca é fácil falar do maior
flagelo que a humanidade viveu em toda a sua existência, a segunda grande
guerra mundial transformou os evoluídos homens do século XX em animais
irracionais, capazes de fazer coisas inimagináveis para tirar a vida do seu
semelhante, pelo simples fato de não compactuarem com suas idéias.
Não existe coisa mais absurda
inventada pelo ser humano que a guerra, ela traz a pobreza, a doença
incontrolável e a dor da morte em grandes doses, países que viveram e vivem sob
essas circunstancias mostram um povo sofrido e desorientado por várias gerações.
Por outro lado, o que fica é uma consciência maior no aproveitamento de bens
naturais principalmente água e comida, hoje já é mais raro encontrar, mas na
minha adolescência conheci vários fugitivos do conflito na Europa que guardavam
até as cascas das batatas para comer no jantar.
Como seria possível recriar esse
clima tão belicoso agora, na segunda década do século XXI sem ter uma
proximidade tão grande com quem esteve lá? Esse foi o grande desafio de um dos
melhores diretores em atividade nos dias de hoje. Estreou no Brasil Dunkirk
(Syncopy,
RatPac
Entertainment, StudioCanal, Warner Bros. Pictures)
que pode já ser considerada a obra-prima do diretor inglês Christopher Nolan (Interestelar,
A Origem, trilogia Batman)
que também escreveu, produziu e dirigiu um filme impressionante tanto no
roteiro quanto na complexa realização.
O longa, baseado na Operação
Dínamo que a Inglaterra organizou durante a guerra, é mostrado sobre
três pontos de vista (terra, água e ar), conta a história de centenas de
milhares de soldados ingleses e aliados cercados por forças inimigas que
ficaram encurralados na praia, com o mar em suas costas, eles enfrentam uma
situação impossível à medida que o inimigo se aproxima. É uma ode às forças
inglesas como a Marinha Real Britânica, a RAF (Força Aérea Real Britânica) e o
Exercito
Britânico que se tornaram quase impotentes diante do poderoso exército
alemão.
É um relato muito fiel da maior
derrota britânica na segunda guerra que ocorreu no Canal da Mancha do lado
francês, agora, o que impressiona é a tecnologia utilizada por Nolan
para contar essa passagem impressionante. Ele combinou as modernas câmeras IMAX®
com filme fotográfico de 65mm que deram um impacto visual de se tirar o chapéu,
graças ao trabalho do holandês Hoyte van Hoytema (Interestelar)
que o realizou usando gruas, drones e steadycam em várias seqüências, o detalhe
é que diretor e fotografo decidiram não usar o formato 3D na exibição, uma
opção acertada e que impacta muito mais o espectador quando assistido na versão
convencional, a 2D.
Outro ponto muito favorável para Nolan
é a mescla na escolha do elenco britânico que tem nomes como os novatos Fionn
Whitehead e Tom Glynn-Carney, Jack Lowden, o cantor, compositor e
ator Harry
Styles, e os já mais rodados Aneurin Barnard, James
D’Arcy e Barry Keoghan. Claro que temos medalhões como Kenneth
Branagh, Cillian Murphy, Mark Rylance (Ponte
dos Espiões) e Tom Hardy (Mad
Max: Estrada da Fúria, O
Regresso) e não tem meio termo com eles na questão
interpretação, é incrível como todos estão bem e convincentes em seus papéis.
Mas o que vai te prender na
cadeira são dois detalhes: a edição de imagens e a edição de som. O montador
australiano Lee Smith é parceiro do diretor na maioria de seus filmes, ele
soube dosar com muito talento as idas e vindas que o filme apresenta, não se
trata de uma narrativa convencional e linear, tem as mesmas situações dos três
pontos de vista e não são necessariamente mostradas no momento que acontecem.
Parece confuso, mas você vai entender perfeitamente o que ambos quiseram passar
como mensagem visual no momento da ação.
A edição de áudio em conjunto com
os efeitos visuais feitos pela Double Negative e embalados pela música
de Hans
Zimmer fazem com que os 106 minutos da exibição sejam repletos dos mais
variados sentimentos, não é um filme calmo nem com acontecimentos previsíveis,
é sim uma obra que te carrega de uma forma muito imersiva para os
acontecimentos que são mostrados na tela, seria como se você estivesse
realmente vivendo toda a agonia que os soldados britânicos sofreram naquele
pedaço de chão.
Dunkirk foi
filmado em locações na França, Holanda, Reino Unido e Los Angeles, custou US$
100 milhões e já faturou desde o dia 21 de julho quase US$ 235 milhões, é o
grande filme do ano até agora, é uma das mais bem realizadas produções sobre o
tema e provavelmente será uma das mais premiadas do diretor inglês, tem cara,
corpo e mente de vencedor e retrata mais uma vez a vergonha do ser humano
quando resolve simplesmente aniquilar quem não concorda com ele e causa esse
caos social, é um aprendizado que deve ser lembrado até o fim dos tempos,
afinal de contas, lições são para serem aprendidas e a guerra é a pior delas.
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