A produĂ§Ă£o baseada em um game de
sucesso tenta, de novo, trazer para a tela a mesma emoĂ§Ă£o de quem joga
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Fox Film do Brasil
O tempo realmente anda muito mais
rĂ¡pido nos dias de hoje, apesar do relĂ³gio nos mostrar que ele tem a mesma
velocidade de seu antecessor que era indicado pela luz sol, a impressĂ£o de que
estamos voando Ă© real e imediata. Sou de um tempo em que os filmes demoravam a
ser produzidos, levavam meses (ou anos) atĂ© chegarem ao Brasil, sĂ³ depois disso
vinham as trilhas sonoras e se fosse interessante viravam mĂ¡quinas de
fliperama, o vĂdeo-game de antigamente.
Essa espera que durava Ă s vezes
mais de um ano era semelhante a dos dias de hoje, vivĂamos o mesmo fervor e
angustia da espera quando sabĂamos da chegada de uma nova produĂ§Ă£o, seja qual
fosse o tema. Uma das que mais me marcou na Ă©poca foi desembarque do filme Tommy,
a Ă³pera rock do The Who que foi lançado em março de 1975 nos Estados Unidos e
sĂ³ chegou no natal daquele ano aos cinemas brasileiros, trouxe na bagagem o
Ă¡lbum com dois LP’s encadernados e
para os fliperamas da cidade as mĂ¡quinas que desafiavam os adolescentes da
Ă©poca, exatamente como no filme.
Hoje as coisas estĂ£o diferentes,
na verdade todo esse ritual acabou virando uma coisa sem muita ordem, Ă s vezes
o jogo vem primeiro, depois a trilha, o filme ou o filme, a trilha, o jogo, ou
a trilha, o jogo, o filme, enfim, nĂ£o se tem idĂ©ia exatamente onde começa um e
acaba o outro. É pior? É ruim? NĂ£o, Ă© apenas diferente, como me disse uma vez
uma menina punk que andava pelo parque Yoyogi em TĂ³quio: “o importante Ă© ser diferente, se vocĂª faz
tudo igual acaba sendo mais um e nĂ£o consegue ser feliz, eu quero ser feliz
sendo diferente”.
Com essa cara diferente e baseado
em um jogo de sucesso no mundo, chega hoje aos cinemas um dos filmes mais
esperados do ano, 22 dias apĂ³s estrear nas telas americanas onde Assassin’s
Creed (Regency Enterprises, Ubisoft Motion Pictures, RatPac
Entertainment, DMC Films, The Kennedy/Marshall Company,
Fox
Film do Brasil), que custou US$ 125 milhões e jĂ¡ faturou em casa mais
de US$ 150 milhões, calou os céticos que achavam que seria um redundante
fracasso.
O roteiro Ă© baseado no game, nele
atravĂ©s de uma tecnologia revolucionĂ¡ria que desbloqueia as memĂ³rias genĂ©ticas,
Callum
Lynch (o jovem Magneto Michael Fassbender, que
tambĂ©m assina a produĂ§Ă£o) vivencia as aventuras de seu antepassado Aguilar,
na Espanha do século XV. Callum descobre que ele é
descendente de uma misteriosa sociedade secreta, os Assassins e acumula
incrĂvel conhecimento e habilidades para assumir a organizaĂ§Ă£o templĂ¡rio
opressiva e poderosa nos dias atuais.
A direĂ§Ă£o ficou por conta Justin
Kurzel, um australiano que trabalhou com Fassbender em Macbeth:
AmbiĂ§Ă£o e Guerra e
deixou a impressĂ£o que ele fez mais o que o produtor queria do que realmente ele
enxergou no roteiro. O elenco tem gente graĂºda como Marion Cotillard (Batman
- O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Piaf: Um Hino de Amor),
Jeremy
Irons (O Reverso da Fortuna, A Mulher do Tenente FrancĂªs,
A
MissĂ£o, GĂªmeos – MĂ³rbida Semelhança, Perdas e Danos), Charlotte
Rampling (O Veredicto, CoraĂ§Ă£o SatĂ¢nico, O
Jardim das Cerejeiras, 45 Anos), Michael
K. Williams (da série The Wire), mas as
interpretações sĂ£o menos teatralizadas e mais mecĂ¢nicas, provavelmente em
funĂ§Ă£o da enorme quantidade de efeitos que o filme exigiu.
A criaĂ§Ă£o visual e concepĂ§Ă£o dos
efeitos sĂ£o da Double Negative que venceu o Oscar® de 2016 com o
perturbador Ex-MĂ¡quina, eles tentaram reproduzir na tela tudo que o
jogo oferece no console, grande parte das cenas que foram rodadas (cerca de
80%) sĂ£o feitas em estĂºdio com ações controladas e usando como pano de fundo as
telas criadas para o game. A fotografia do também australiano Adam
Arkapaw (Macbeth: AmbiĂ§Ă£o e Guerra, A Luz Entre Oceanos)
tem um tom marrom muito marcante, uma luz muito fixada em nevoeiros e poeiras
que escondem um pouco os elementos usados na criaĂ§Ă£o dos cenĂ¡rios medievais.
Por se tratar de um filme de aĂ§Ă£o
constante, a ediĂ§Ă£o Ă© o ponto chave e que foi feita por um craque no assunto, Christopher
Tellefsen (Joy: O Nome do Sucesso, O Homem Que Mudou o Jogo,
Capote,
MĂ¡fia
no DivĂ£, O Povo Contra Larry Flint)
fugindo completamente das suas caracterĂsticas e mergulhando no universo do
jogo, o ritmo alucinante das lutas, a ediĂ§Ă£o clara e limpa em momentos de
diĂ¡logos e apresentações deixa essa produĂ§Ă£o que inicialmente deveria usar
bermuda e camiseta com um smoking finĂssimo.
É um filme longo, sĂ£o 2 horas e
20 minutos de muita aĂ§Ă£o com a trilha sonora muito alta, faz com que os menos
familiarizados com o jogo entendam o enredo com facilidade, enfim, Assassin’s
Creed Ă© legal, Ă© violento, tĂªm efeitos caprichados, cenas de luta
bem dirigidas, deixa margem para uma continuaĂ§Ă£o e Ă© principalmente uma Ă³tima
diversĂ£o, bons tempos esses de hoje que nĂ£o precisamos esperar tanto por um
filme, um jogo, a trilha sonora, etc..., etc..., etc...
A gente se encontra na semana que vĂªm!
Beijos & queijos
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