O longa apresenta uma das formas mais terrĂ­veis que o homem achou para ganhar dinheiro: a guerra

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures

O capitalismo tem dessas coisas, Ă s vezes a linha tĂªnue entre o que Ă© moralmente correto e o amor ao prĂ³ximo nĂ£o existe, afinal de contas promover e alimentar guerras Ă© uma das formas mais sĂ³rdidas de se ficar rico, famoso e querer ser respeitado.


Sabemos que o dinheiro compra realmente tudo, principalmente ideologias que seriam atĂ© certo ponto intocĂ¡veis, se misturarmos com religiĂ£o entĂ£o aĂ­ Ă© que a coisa desanda. Vivemos em um planeta onde existe um lugar onde a vida humana vale muito pouco, o Oriente MĂ©dio Ă© desde sempre o centro dos conflitos mais sangrentos e fora de propĂ³sito para quem vive em outras partes do mundo, mas os chamados “povos civilizados” sĂ£o aqueles alimentam essa discĂ³rdia, nĂ£o importa o motivo, importa o lucro.


Foi pensando unicamente em ficarem ricos, na grana fĂ¡cil, em realizar o sonho americano que dois amigos se uniram no começo dos anos 90, suas aventuras serviram de argumento para o filme CĂ£es de Guerra (Joint Effort, Mark Gordon Company, Warner Bros. Pictures) que estreou no Brasil e Ă© baseado na histĂ³ria real. É um absurdo ver o que eles fizeram se colocarmos na mesa da vida, pensar no lucro sem medir as conseqĂ¼Ăªncias tambĂ©m Ă© crime e os tornam muito culpados pelas mortes que ocasionaram.


Como obra cinematogrĂ¡fica Ă© muito interessante, a grosso modo posso dizer que Ă© uma mistura de O Senhor das Armas com O Lobo de Wall Street por terem uma temĂ¡tica muito parecida, Ă© a histĂ³ria de dois amigos na casa dos 20 anos, Efraim Diveroli (vivido por Jonah Hill, que continua gordo e enlouquecido) David Packouz (lembrado por Whiplash) que moram em Miami durante a Guerra do Iraque e descobrem uma iniciativa pouco conhecida do governo que permite que as pequenas empresas possam participar de licitações de contratos militares nos Estados Unidos.


Partindo quase do zero, eles fazem muito dinheiro e passam a viver uma vida de luxo. Mas a dupla passa a ter problemas quando consegue um contrato de US$ 300 milhões para armar o exĂ©rcito afegĂ£o – que os coloca em contato com pessoas muito suspeitas, algumas das quais se revelam membros do prĂ³prio governo norte-americano.


O filme Ă© dirigido, produzido e escrito por Todd Phillips da trilogia Se Beber, NĂ£o Case! e tem um ritmo variado de narraĂ§Ă£o, em alguns momentos Ă© muito rĂ¡pido em outros lentos demais, mas encaixa perfeitamente algumas gags cĂ´micas, nĂ£o trata o assunto com muita seriedade nem com muito humor, Ă© balanceado e tem nas atuações a quebra necessĂ¡ria quando se fala em amor, Ă³dio e principalmente morte.


Tem um bom elenco de apoio com a boneca cubana Ana de Armas (Bata Antes de Entrar) e o quatro vezes indicado ao Oscar® Bradley Cooper (Sniper Americano, Trapaça, O Lado Bom da Vida) que tambĂ©m assina a produĂ§Ă£o, ela Ă© bem dirigida e corresponde ao papel da esposa tonta, porĂ©m que gosta de dinheiro, jĂ¡ Cooper tem um lado muito canastrĂ£o onde deveria ser misterioso.


A fotografia de Lawrence Sher (tambĂ©m da trilogia Se Beber, NĂ£o Case!) Ă© aquela tĂ­pica que encontramos em sĂ©ries ambientadas em Miami, graças ao sol mais claro e limpo perto do equador, a textura Ă© quase a mesma de um episĂ³dio do CSI Miami. A mudança Ă© brusca nas cenas filmadas na RomĂªnia, nota-se facilmente que Sher deve ter apanhado muito, pois os tons mais cinza dificultam a iluminaĂ§Ă£o. Mesmo com uma ediĂ§Ă£o correta de Jeff Groth (Entourage: Fama e Amizade, Se Beber, NĂ£o Case! Parte III) as marcações de locais para deixar claro ao espectador sĂ£o evidentes e facilitam o entendimento.


CĂ£es de Guerra Ă© bem feito, tem cenas engraçadas, custou US$ 40 milhões e jĂ¡ faturou na estrĂ©ia mais de US$ 60 milhões no mundo todo, nĂ£o prima pelo carĂ¡ter dos dois amigos envolvidos nos rolos, mas mostra que o cĂ©u e o inferno estĂ£o muito prĂ³ximos de quem quer atropelar a vida. Algumas sacadas sĂ£o impagĂ¡veis, principalmente do motorista Ă¡rabe que tem o apelido de Malboro, um dos vĂ¡rios momentos em que a atenĂ§Ă£o Ă© primordial durante as quase duas horas de exibiĂ§Ă£o.


É um filme necessĂ¡rio e deve ser olhado pelos dois flancos da histĂ³ria, os povos da Europa e AmĂ©rica vĂ£o entender como uma Ă³tima diversĂ£o, jĂ¡ aqueles que vivem subjugados com ditadores e lutas armadas na porta de casa jĂ¡ devem entender que sĂ£o vĂ­timas de pessoas as quais nem ouviram falar. Ainda bem que o cinema faz esse alerta e ainda bem que o destino se incumbe de punir os culpados.


A gente se encontra na semana que vĂªm!

Beijos & queijos

Twitter: @borrachatv