Leonardo DiCaprio dá um show de interpretação durante as mais de duas horas de exibição do filme

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: FOX

A cada dia que passa, podemos confirmar que a história é cíclica, sempre volta ou se volta para determinados tipos de homens em suas mais diferentes condições de vida ou mesmo em diversificadas profissões que escolheram para viver. Não longe disso, e principalmente por isso, o sofrimento sempre faz parte desta que é a odisséia do homem na Terra, viver simplesmente não basta, tem que fazer valer a sua passagem por este plano.


Quando a vida imita a arte, não estamos exagerando na convicção, para um ator do nível de Leonardo DiCaprio, talvez essa seja a maior prova. Do alto dos seu 41 anos de idade, esse senhor – garoto, que é indicado desde os 20 anos para o prêmio máximo da academia, agora e na quinta indicação, é apontado como o favorito para levar a estatueta pra casa. E como isso se dá? Por que não ganhou antes? Talvez pelo grande peso de seus concorrentes, ou porque a academia achou que ele era muito jovem, mas agora parece que chegou a sua hora!


Posso dizer que, o papel o qual vai finalmente consagrá-lo é quase um resumo da sua carreira, posso afirmar que os sofrimentos durante todos esses anos nos sets de filmagem se resumem nas mais de 2 horas de exibição de um dos melhores e mais belos filmes feitos sobre a vida selvagem da América e que mostra o então galã em sua fase mais feia e com a menor quantidade de diálogos que ele proferiu em outras produções.


Estréia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira O Regresso (New Regency Pictures, Anonymous Content, Appian Way Productions, RatPac Entertainment, 20th Century Fox) um filme baseado em fatos reais, que conta a história do lendário explorador Hugh Glass (maravilhosamente interpretado por Leonardo DiCaprio) que é brutalmente atacado por um urso e abandonado à morte pelos companheiros de sua própria equipe de caçadores.


É uma experiência cinematográfica imersiva e visceral, capturando a épica aventura de sobrevivência de um homem e o extraordinário poder do espírito humano pelas florestas norte-americanas selvagens. Para sobreviver, Glass resiste ao sofrimento inimaginável, bem como a traição de seu confidente John Fitzgerald (um Tom Hardy, completamente diferente de Mad Max).


O filme é produzido, dirigido e escrito por Alejandro González Iñárritu, não tem o brilhantismo de Birdman, que lhe deu o Oscar® no ano passado, mas consegue prender e fazer o espectador sofrer junto. A produção foi a grande vencedora do Golden Globe Awards deste ano, e o diretor em seu discurso fez questão de afirmar que o filme só aconteceu por causa de DiCaprio.


Nada mais justo, afinal não se trata de um longa metragem de diretor, é um filme de ator em ações, reações e expressões, misturadas a uma fotografia brilhante feita pelo mexicano Emmanuel Lubezki, bicampeão do careca dourado por Gravidade e Birdman. Filmado cronologicamente e usando o sol e a luz de fogueiras como pontos de iluminação, o filme se assemelha a um quadro, e em conjunto com as coreografias pré-determinadas pelo diretor, que adora o recurso do plano-seqüência, seja com gruas telescópicas, Steadicams, câmeras na mão, drones e as lentes grande angular, formam uma sintonia singular.


Primazias à parte, o enredo é pesado e sofrido durante boa parte da exibição, não existe em nenhum momento refresco na jornada do protagonista e isso leva o espectador a uma quase infindável agonia. Aí é que está todo o talento de DiCaprio, que mergulhou de cabeça no personagem e colocou até suas convicções de lado.


O elenco de apoio realmente só apóia, tudo está concentrado nos personagens centrais, até alguns animais tem mais importância na trama que os homens, algumas ações e cenas mais pesadas, marcam mais que os amigos que deveriam ajudar o companheiro ferido, inclusive porque tudo é de um realismo impressionante.


O Regresso não é um filme qualquer, é uma superprodução que custou US$ 135 e já está chegando aos US$ 300 milhões, é um filme adulto e com uma realização excelente, é a maior aposta do ator na carreira, é tudo aquilo que ele nunca pensou ser e acabou fazendo, é uma história de superação com superstição e é a grande chance da academia finalmente reconhecer o talento de Leonardo DiCaprio para também mais uma vez se curvar aos competentes mexicanos que, um dia, resolveram colocar fogo no cinema americano.