Um filme perturbador que aborda a investigaĂ§Ă£o do escĂ¢ndalo que abalou a igreja catĂ³lica nos Estados Unidos e no mundo

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Sony Pictures

De todos os crimes cometidos pelo homem, o mais vil, covarde e que subjuga ao extremo a vĂ­tima Ă© a pedofilia. Quem deveria proteger passa a ser o grande agressor, que de uma maneira sĂ³rdida e absolutamente desumana se aproveita de quem nem sabe ainda o que Ă© ser adulto, muito menos se defender de uma atitude das mais nojentas que se tem notĂ­cia.


Cabe a todos, principalmente aos jornalistas, divulgarem esses casos horrorosos, onde sempre o criminoso Ă© acobertado, seja pela famĂ­lia, pela instituiĂ§Ă£o que ele representa e mesmo pela sociedade, que prefere fazer vistas grossas ao invĂ©s de denunciar um abusador, Ă© aquela coisa, enquanto nĂ£o entrar na minha casa, que se danem os outros. Mas um dia entra, e como fica?


Na maioria das vezes os homens sĂ£o os responsĂ¡veis por esses atos libidinosos absurdos, mas as mulheres hoje, por conta de uma nova consciĂªncia e denuncias feitas por setores da sociedade, começam tambĂ©m a aparecer com predadoras. É um crime bĂ¡rbaro e sujo, que expõe a pior face dos chamados “seres humanos”.


Estreou nas salas brasileiras um filme que Ă©, seguramente, um dos melhores do ano, pelo seu tratamento ao tema, atuações dos personagens e realizaĂ§Ă£o cinematogrĂ¡fica. Spotlight – Segredos Revelados (Entertainment One Features, Participant Media, First Look Media, Anonymous Content, Rocklin/Faust, Sony Pictures) Ă© um longa metragem para entrar para a histĂ³ria do cinema e ser referĂªncia nas aulas de jornalismo pelas faculdades e universidades do mundo.


Ele conta a impressionante histĂ³ria verĂ­dica da equipe de jornalismo investigativo do Boston Globe que em 2002 chocou a cidade e o mundo expondo o acobertamento sistemĂ¡tico da Igreja CatĂ³lica de inumerĂ¡veis casos de pedofilia. Tudo começa a ser investigado quando o recĂ©m-nomeado editor do Globe, Marty Baron (Liev Schreiber, mais lembrado como o irmĂ£o do Volverine) instrui a equipe Spotlight a investigar a histĂ³ria de uma coluna sobre um padre local acusado de ter abusado sexualmente de dezenas de jovens paroquianos ao longo de 30 anos.


A partir deste momento, os jornalistas envolvidos começam uma verdadeira devassa na vida da igreja catĂ³lica da cidade, mostrando a todos que assistem ao filme, como se deve trabalhar com fontes, checagens, reportagens e a responsabilidade na procura pela informaĂ§Ă£o correta. O bom jornalismo estĂ¡ em evidencia nas mais de duas horas que o filme tem, mas tambĂ©m tem o mau jornalismo, aquele de interesses, que procura esconder a informaĂ§Ă£o em favor de algum amigo ou mesmo de uma entidade.


A direĂ§Ă£o e o roteiro sĂ£o de Tom McCarthy um ator de cinema e televisĂ£o que tem no currĂ­culo O Visitante, Ganhar ou Ganhar: A Vida Ă© Um Jogo, O Agente da EstaĂ§Ă£o e participou como roteirista de UP! Altas Aventuras. Sua direĂ§Ă£o Ă© segura, moderna e muito presente, ele consegue tirar de todos os atores aquele algo mais que Ă© a diferença entre uma indicaĂ§Ă£o ao Oscar® ou o ostracismo de mais um filme em cartaz.


Claro que para isso contou com um elenco dedicado ao filme, a impressĂ£o que fica Ă© que todos queriam fazer aqueles papĂ©is para mostrar ao mundo a indignaĂ§Ă£o do que aconteceu em Boston e acontece no planeta todo. NĂ£o tem ninguĂ©m mais ou menos, o editor da Spotlight, Walter “Robby” Robinson (vivido magistralmente por Michael Keaton depois de Birdman), os repĂ³rteres Sacha Pfeiffer (onde Rachel McAdams (Meninas Malvadas, QuestĂ£o de Tempo, DiĂ¡rio de Uma PaixĂ£o, Nocaute) surpreende), Michael Rezendes (Mark Ruffalo, o atual Hulk de Os Vingadores, em uma performance estupenda!) e o pesquisador, Matt Carroll (Brian d’Arcy James, um mĂºsico que tambĂ©m atua e Ă© lembrado por A SeleĂ§Ă£o, O Encontro) vivem a plenos pulmões seus difĂ­ceis personagens em uma total entrega.


A fotografia Ă© do cineasta japonĂªs Masanobu Takayanagi (que tambĂ©m filmou o perturbador Aliança do Crime) saiu um pouco de seu estilo mais escuro atĂ© porque a aĂ§Ă£o se passa em uma redaĂ§Ă£o de jornal, mas Ă© competente e ajuda muito na narrativa, nĂ£o tem aquela coisa de uma luz entrar em momento errado e desviar a atenĂ§Ă£o do diĂ¡logo que estĂ¡ acontecendo. Isso garante uma facilidade para o editor Tom Mcardle (O Visitante, Ganhar ou Ganhar: A Vida Ă© Um Jogo, O Agente da EstaĂ§Ă£o) que deixa passar sĂ³ um pequeno detalhe em um contra-plano.


É um filme forte, perturbador, que presta um enorme serviço Ă  humanidade, tem cenas chocantes e muitĂ­ssimo bem interpretadas, coloca nos ombros de todos a responsabilidade de denunciar e punir esses seres. Spotlight – Segredos Revelados Ă© obrigatĂ³rio para pais, filhos, amigos, padres, pastores, judeus, brancos, negros, ateus, enfim, todos que vivem no planeta Terra, inclusive nos crĂ©ditos finais sĂ£o listadas 102 cidades do mundo (3 sĂ£o do Brasil!) onde esses crimes aconteceram e foram registrados.


Corra para o cinema, mesmo que o tema nĂ£o lhe agrade, vocĂª tem a obrigaĂ§Ă£o de saber o que acontece com uma vitima de abuso infantil, Ă© muito melhor entender do que simplesmente pensar como alguns querem fazer com a humanidade, dar um CTRL+ALT+DEL e começar de novo.


A gente se encontra na semana que vĂªm!

Beijos & queijos

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