Baseado na série de sucesso dos
anos 60, o filme de espionagem ganha em aĂ§Ă£o e humor
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros.
NĂ£o sĂ£o todos os dias que podemos
voltar ao passado e recriar momentos que mais gostamos de assistir quando
vivĂamos o começo das nossas vidas. Raros sĂ£o os personagens que guardamos na
memĂ³ria, inclusive pelo fato de que deveriam ser marcantes em algum momento do
nosso crescimento e desenvolvimento intelectual.
No auge da guerra fria, quando
Americanos e Soviéticos ainda brigavam por espaço no planeta, surgiu uma série
de televisĂ£o que misturava as duas culturas, era uma forma de satirizar o entĂ£o
agente 007, um sucesso no cinema. A série protagonizada por David
McCallum (que hoje vive o legista Dr. Donald "Ducky" Mallard
na série NCIS) e Robert Vaughn (hoje aposentado) foi
de tamanha importĂ¢ncia que Ian Fleming, criador do agente
secreto inglĂªs, ajudou na sua criaĂ§Ă£o.
Com certeza, mexendo nos arquivos
bolorentos das idĂ©ias dos anos 60, o entĂ£o ex-marido da Madona resolveu dar vida
novamente aos espiões herĂ³is que agitavam a vida dos brasileiros desde 1966 na
extinta TV Excelsior. Estreou nos
cinemas brasileiros O Agente da U.N.C.L.E. (RatPac Dune Entertainment,
Davis Entertainment, Wigram Productions,
Warner Bros. Pictures), uma nova visĂ£o da sĂ©rie de TV, estrelada por Henry
Cavill (O Homem de Aço) como Napoleon Solo ao lado de Armie
Hammer (A Rede Social), como Illya Kuryakin.
No filme que tem roteiro,
produĂ§Ă£o e direĂ§Ă£o de Guy Ritchie (que era um diretor mediano
de vĂdeo clipe e se superou com os dois Sherlock Holmes), o cenĂ¡rio Ă©
o inĂcio da dĂ©cada de 1960, no auge da Guerra Fria, com histĂ³ria centrada no
agente da CIA, Solo, e no agente da KGB,
Kuryakin.
Forçados a deixarem de lado as
antigas diferenças, os dois se unem em uma missĂ£o para parar uma misteriosa
organizaĂ§Ă£o criminosa internacional, que estĂ¡ empenhada em desestabilizar o
poder com a proliferaĂ§Ă£o de armas nucleares e tecnologia militar. A Ăºnica pista
da dupla na investigaĂ§Ă£o Ă© a filha de um cientista alemĂ£o desaparecido, que
pode ser a chave para eles se infiltrarem na organizaĂ§Ă£o criminosa.
Agora os dois precisam correr
contra o tempo para encontrar o cientista e evitar uma catĂ¡strofe mundial. O
filme também é estrelado por Alicia Vikander (Anna
Karenina), Elizabeth Debicki (O
Grande Gatsby), Jared Harris (Sherlock Holmes: O Jogo de
Sombras), e Hugh Grant como Waverly, um pessoal muito
bem dirigido e coreografado pelas competentes mĂ£os de Guy, que consegue manter
um Ă³timo ritmo de aventuras e tiradas cĂ´micas desde o inicio.
Esse Ă© certamente o mote do
longa, a dureza nos roteiros ingleses, mais preocupados com a atuaĂ§Ă£o teatral
que o lado cĂ´mico, sĂ£o deixados de lado, pois a pelĂcula se preocupa apenas em
ser uma diversĂ£o, algo como, limpar a cabeça para se começar a segunda-feira
mais arejado. Tem situações das mais inusitadas como o “beijo da borboleta”,
uma dose de humor negro em uma situaĂ§Ă£o tragicĂ´mica que tira muitas risadas da
platéia.
Duas pessoas dos bastidores se
destacam no filme: o diretor de fotografia John Mathieson (O Fantasma da Ă“pera,
Gladiador)
que montou uma fotografia tĂpica dos anos 60, meio clara meio embaçada, faz sem
a menor dĂ³ nem piedade aqueles takes noturnos loucos, onde tudo estĂ¡ escuro e o
herĂ³i aparece mais iluminado que a Torre Eiffel em dia de ano novo, o que
Ă©, na verdade, uma sacada cĂ´mica inserida no contexto da aĂ§Ă£o.
O outro destaque
Ă© a figurinista Joanna Johnston (Lincoln), que conseguiu
reunir (e provavelmente produzir novamente) tudo que era moda nos anos 60. Os
detalhes de acessĂ³rios e roupas sĂ£o impressionantes, parece atĂ© que foram
tirados de um brechĂ³ na 3ª avenida.
Claro que existem personagens que
sĂ£o quase descartĂ¡veis no projeto, suas aparições pontuais nĂ£o aumentam nem
diminuem o enredo central. É o caso da atriz sueca Alicia Vikander, ela vive
a personagem Gaby Teller, uma quase espiĂ£, mas que tem seu brilho de
atuaĂ§Ă£o ofuscado pela presença forte dos dois protagonistas e se torna uma
coadjuvante de luxo na estĂ³ria, o mesmo acontece com Hugh Grant, o seu
personagem Waverly Ă© quase uma ponta.
O que Ă© bom mesmo no filme de
quase duas horas e que custou R$ 75.000.000 e jĂ¡ faturou R$ 72.000.000, sĂ£o as
cenas de aĂ§Ă£o. Muito bem editadas e com seqĂ¼Ăªncias bem orquestradas, fizeram
com que o editor James Herbert (Sherlock Holmes,
Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras, No Limite do AmanhĂ£, A
EspiĂ£) tivesse pouco trabalho, os takes sĂ£o mais longos e as ações
dependem de reações pré-marcadas. Claro que tem algumas mancadinhas, tipo uma
mĂ£o que desaparece, mas nada que comprometa o produto final que, diga-se de
passagem, Ă© de alta qualidade.
O Agente da U.N.C.L.E.
Ă© um filme de alma europĂ©ia com leitura americana, Ă© divertido, tĂªm diĂ¡logos
engraçados, situações bizarras e estĂ¡ em cartaz para alegrar o espectador, nada
de tramas complicadas, pensamentos altivos ou mesmo discussĂ£o de relações
intrincadas, Ă© cinema de diversĂ£o, Ă© para rir e nĂ£o chorar.
A gente se encontra na semana que vĂªm!
Beijos & queijos
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