O roteiro é bom, os atores são
bons, a idéia é boa, a receita é excelente, mas faltou sal no tempero
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros.
Existe um ditado que diz “Duas cabeças pensam melhor que uma”. Nem
sempre, às vezes duas cabeças querem seguir por dois caminhos diferentes, e
acaba sobrando para que está na estrada esperando a carona certa.
Talvez Will Smith esteja
passando pela mesma síndrome que Steven Spielberg, fazer as escolhas
erradas em momentos de superação. O ator não acerta uma desde A
Procura da Felicidade, filme que rendeu a ele uma indicação ao Oscar®
de melhor ator. Ele não é burro, nem desaprende, mas continua entrando em
barcas furadas que podem acabar levando sua carreira ao naufrágio.
Como tentar sempre é preciso, lá
vem de novo “The Fresh Prince” em uma nova produção, com bons atores e trama
envolvente. Golpe Duplo (Warner Bros. Pictures, Di
Novi Pictures, Zaftig Films) é uma comédia
romântica com pretensões de se tornar um grande filme, mas cai na armadilha de
se usar óleo velho em motor novo.
Uma das coisas mais cansativas na
narrativa é a quantidade de vezes e de cenários que os dois protagonistas se
encontram para trocar confidências ou experiências. Tá certo que é muito
agradável se conversar em uma mesa de bar ou restaurante, mas convenhamos, em 2
horas de exibição, repetir tanto a perspectiva já é falta de criatividade. Na
montagem das fotos você pode ver algumas oportunidades em que isso aconteceu.
E olha que a estória é boa. Will
Smith interpreta Nicky, um experiente mestre
trapaceiro que se envolve romanticamente com a golpista novata Jess,
interpretada por Margot Robbie, uma australiana que já foi mulher de Leonardo
DiCaprio em o Lobo de
Wall Street e tem os lábios mais carnudos do cinema atual.
Enquanto ele ensina a ela os
truques do negócio, Jess acaba se aproximando demais e ele termina a relação
abruptamente. Três anos mais tarde, essa antiga paixão - agora uma talentosa
femme fatale - aparece em
Buenos
Aires no meio das altas apostas de um circuito de
corrida de carros comandado pelo Rodrigo Santoro, em um papel sem
glamour, é a mesma coisa da novela das 6. Durante o esquema mais recente e
perigoso de Nicky, ela promove uma reviravolta em seus planos, deixando o
calejado vigarista fora de seu jogo.
O filme é escrito e dirigido por Glenn
Ficarra e John Requa, que trazem no currículo Amor a Toda Prova.
São dois diretores e roteiristas da nova geração e que tem muito que aprender.
Os velhos golpes para se ganhar tempo na produção, as locações fake que
anunciam nomes de lugares reais e a despreocupação com a continuidade acabam
acarretando em descrédito para os realizadores. Ora, no mundo de hoje em que é
muito fácil voar para qualquer localidade, por que mentir? Quem conhece, torce
o nariz.
Tecnicamente o filme não tem
grandes rompantes, a fotografia do mexicano Xavier Grobet (À
Procura do Amor) é delicada, típica de filmes romanceados e
embaralha um pouco as idéias quando se tem algum tipo de ação mais contundente.
O que mais chama a atenção, e para
isso não precisa ter olhos de lince, é a edição. Jan Kovac, um cidadão da República
Tcheca e que estréia em longa metragem justamente nesse filme, não
consegue dar o ritmo que a trama exige, se atrapalha muito nas cenas de
diálogos e deixa muitas pontas para os caçadores de falhas. Os momentos em que
os copos desaparecem no plano e contra-plano são tantos que parece ser de
propósito.
Golpe Duplo estreou
na quinta-feira e é uma boa diversão para um sábado à tarde com a namorada, tem
cenas engraçadas, soluções mirabolantes, mas não leva a ferro e fogo a frase
que resume a obra: “Trata-se de
distração. Trata-se de foco. O cérebro é lento e incapaz de fazer várias coisas
ao mesmo tempo. Toque-o aqui e aplique o golpe ali.”.
A gente se encontra na semana que vêm!
Beijos e queijos
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