Entrevistei o piloto na sua Ăºltima viagem ao Brasil. Ele continua sendo nosso Ăºnico representante no mundial de MotoGP, sozinho e sem apoio financeiro nem oficial

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: The Factor, MotoGP.com, Eduardo Abbas

NĂ£o Ă© de hoje que os esportes a motor vivem uma crise de investimentos e de talentos, tanto nas 4 quanto nas 2 rodas, o apoio das entidades para quem se aventura na Europa ou nos Estados Unidos nĂ£o existe, na verdade nunca existiu, mas agora os patrocinadores Ă© que preferem colocar suas gordas verbas publicitĂ¡rias em clubes de futebol falidos e se meterem em escĂ¢ndalos governamentais.


Tivemos alguns representantes, mas o que mais se aproximou de conquistar alguma coisa na categoria principal do motociclismo foi o Alexandre Barros, graças a seu talento, seu apoio incondicional da famĂ­lia e de patrocinadores internacionais. Hoje, vivemos uma nova era do esporte, e aqui no Brasil ninguĂ©m quer, ou faz de conta que nĂ£o vĂª, apoiar quem luta pela nossa bandeira.


Temos uma luz no fim do tĂºnel, eu o conheço desde muito pequeno, levei algumas vezes para ser entrevistado no programa Linha de Chegada, que eu dirigia no canal Sportv, fiz algumas matĂ©rias e tentei, de todas as maneiras que conseguia, apoiar o talento e a garra desse menino paulista que somente agora chega aos 18 anos recĂ©m completados. Em uma entrevista que misturamos competiĂ§Ă£o e assuntos pessoais, pude sentir que a idade e a responsabilidade chegaram fortes na personalidade do garoto.


Eduardo Abbas – VocĂª continua estudando?
Eric Granado Ano passado terminei o ensino mĂ©dio, esse ano eu pensei em fazer um preparatĂ³rio para vestibular, mas como estou morando na Espanha, vou me dedicar mais ao esporte, a mudança do ano passado para esse ano foi, pra mim, muito grande, treinei mais aqui no Brasil, eu quero fazer direito agora, pelo menos nos prĂ³ximos 2 ou 3 anos, me estabilizar na carreira para viver do esporte que eu amo muito, no futuro fazer um curso, mas minha profissĂ£o Ă© ser piloto de moto.


EA – VocĂª mora em uma cidade pequena sozinho? NĂ£o tem amigos nem colegas por perto?
EG – O Nico (NiccolĂ² Antonelli) mora lĂ¡, ano passado nosso contato era maior, estĂ¡vamos na mesma equipe, o personal era o mesmo, mas esse ano a gente se separou, o meu personal Ă© aqui do Brasil que a Red Bull trouxe pra mim, fazemos treinos diferentes, meu treino mudou totalmente. Colegas, tenho poucos. Tem um pessoal que anda de bike comigo ou correm comigo na rua, amigo para sair juntos eu nĂ£o tenho, jĂ¡ em SĂ£o Paulo eu tenho meus amigos, tenho coisas pra fazer o dia todo se quiser, jĂ¡ lĂ¡, se eu quiser andar, em 30 minutos jĂ¡ andei a cidade toda, ela tem 5 km de uma ponta Ă  outra.


EA – VocĂª pensa em morar na Europa?
EGTalvez no futuro, quando puder morar em uma cidade maior.

EA E a comida?
EGEu nunca tive problema com comida, mas tenho uma dieta planificada e tenho que seguir, a comida do Brasil pra mim Ă© muito melhor, a de lĂ¡ Ă© diferente e meu corpo sente.

EA Como estĂ¡ a vida na Moto3?
EGDesde o ano passado, quando começei na Moto3, senti a diferença. Ela Ă© uma categoria muito competitiva, esse ano estou em uma grande equipe, um oportunidade muito boa que eu estou tendo, mas estĂ¡ bem difĂ­cil, fiz uma prĂ©-temporada excelente, tinha capacidade de me dar bem desde a primeira corrida, os treinos foram muito bons na primeira e segunda corridas, mas tive falta de sorte. Na primeira etapa fui derrubado, em Austin, no Texas. Eu tomei um tombĂ£o nos treinos, fiquei dolorido, mesmo assim corri, terminei a prova, que era o objetivo, coisa que nĂ£o aconteceu no Qatar. Depois eu tive uma seqĂ¼Ăªncia de quedas, em algumas fui o culpado, em outras, fui derrubado, e o pior foi em Jerez, na Espanha, eu fraturei o dedo e perdi duas provas. A fratura agora esta zerada, nĂ£o sinto mais dor nem nada, mas na pista nĂ£o era o que querĂ­amos, apesar de que essas primeiras etapas serviram de base, pra ver como a equipe funciona. Eu levei meu mecĂ¢nico comigo, nĂ£o Ă© a mesma coisa que a equipe anterior, mas estou satisfeito com o time nĂ£o com o campeonato.


EA Qual Ă© a grande dificuldade da moto3? Os adversĂ¡rios? A PreparaĂ§Ă£o fĂ­sica? VocĂª esta muito mais forte que antes, isso atrapalha?
EGEu, no começo desse ano perdi peso, estava no mesmo nĂ­vel dos outros pilotos, mas engordei por causa das lesões. O peso influencia, mas o principal Ă© eu estar com a cabeça boa, terminar as provas, ter de novo a confiança que eu tinha na prĂ©-temporada. Esse ano estou morando sozinho, ano passado eu dividia o apartamento com mais dois pilotos, Ă© diferente e esta sendo bem difĂ­cil, tenho que ser mais controlado e disciplinado e morando em uma cidade Ă© praticamente deserta, acabei me atrapalhando um pouco. Agora voltando com mais freqĂ¼Ăªncia ao Brasil, vou voltando ao peso, melhora minha cabeça e vou ficando mais forte a cada corrida.


EA A saudade de casa atrapalhou?
EGA saudade nĂ£o, no ano passado fiquei 4 meses fora e isso nĂ£o foi um problema, o fato Ă© q quando estou sozinho minha rotina nĂ£o Ă© igual a daqui, os treinos sĂ£o os mesmos, mas a monotonia entre um treino e outro, nĂ£o fazer nada, ficar pensando em outras coisas, isso tira um pouco o foco. Aqui eu me comunico com todos, lĂ¡ nĂ£o, Ă© sĂ³ oi e tchau com as pessoas do mercado, eu acabei me adaptando um pouco, mas nĂ£o Ă© o que espero, em casa eu me sinto muito melhor, treino mais, sigo a dieta perfeitamente, e estar com a famĂ­lia Ă© sempre muito bom. É engraçado, por mais q eu tenha passado a maior parte da minha vida fora, eu sinto saudades da famĂ­lia, Ă© positivo estar perto dos pais.


EA Voltando a falar de corrida, a equipe Ă© boa? DĂ¡ pra confiar?
EGA equipe Ă© muito boa, Ă© campeĂ£ mundial, eu tenho uma moto muito competitiva, os mecĂ¢nicos sĂ£o os mesmos do ano passado, o sistema de trabalho Ă© bem parecido, a diferença Ă© que esse ano eu tenho dois companheiros muito rĂ¡pidos, isso Ă© importante para se ter uma referencia que me motiva, que me faz tentar superar o companheiro de equipe, atĂ© porque Ă© uma pedra no sapato tomar pau do companheiro de equipe. Na verdade, se a gente fizer dobradinha Ă© muito bom, positivo, agora, se ele fosse mais lento, seria pior. Eu to satisfeito com a equipe,  espero atĂ© o fim do ano conseguir um bom resultado, estamos trabalhando muito e merecemos atĂ© porque jĂ¡ fiz isso na prĂ©-temporada, espero ter grandes resultados esse ano.


EA O que vocĂª espera ainda de 2014, onde espera chegar?
EGBrigar pelo campeonato estĂ¡ difĂ­cil, Ă© uma categoria disputadĂ­ssima, eu quero ir subindo de posições atĂ© porque sĂ³ os 15 primeiros pontuam. A minha idĂ©ia no começo do ano era pontuar em todas as provas, se possĂ­vel entre os 10 primeiros, mas as coisas complicaram um pouco, fique 5 sem pontuar, agora vou estudar prova a prova, ver como vou me sentir a cada corrida e ver no fim do ano o que vai dar.


EA – Em 2015, continua na Moto3 ou pula pra Moto2?
EG – Eu nĂ£o quero subir de categoria sem estar andando na frente na moto3, eu jĂ¡ cometi esse erro em 2012, foi o maior da minha vida, se eu nĂ£o estiver andando na frente, eu nĂ£o vou subir, nĂ£o faz sentido, tudo vai depender dos resultados desse ano, eu acredito que posso conseguir, atĂ© porque tudo pode mudar em 2 ou 3 corridas.


EA – SerĂ¡ que vamos voltar a ver um brasileiro na MotoGP?
EG – Eu desde pequeno penso em ser campeĂ£o mundial, desde que ganhei a primeira moto do Papai Noel, mas poucas pessoas no Brasil sabem o quanto Ă© difĂ­cil, quanto custa em dinheiro e dedicaĂ§Ă£o. Eu to lutando pra chegar, nĂ£o vou desistir, atĂ© porque pra mim nĂ£o Ă© hobby Ă© profissĂ£o, o meu pai sempre me disse, que sĂ³ acaba quando termina, tem que fazer por merecer, se Ă© pra fazer de qualquer jeito, eu volto pra casa e vou trabalhar em outra profissĂ£o, mas, por enquanto, nĂ£o vou desistir do meu sonho.


Nem nĂ³s vamos desistir de sonhar em ver novamente um brasileiro brigar por vitĂ³rias na principal categoria do motociclismo mundial, o que falta Ă© um pouco mais de apoio. Uma andorinha pode nĂ£o fazer verĂ£o, mas planta a semente de uma nova geraĂ§Ă£o.