Vinte dois meses após o anúncio oficial do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores, o Inovar-Auto se apresenta ainda maior e mais complexo desafio para toda a cadeia automotiva nacional

Texto e fotos: Textofinal Comunicação

Por esse motivo, com o tema-central “Inovar-Auto e a Evolução Tecnológica do Brasil”, o 22º Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva - SIMEA 2014, promovido pela Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), o programa voltou a ser debatido nos dias 6 e 7 de agosto, no WTC Events Center, em São Paulo, uma oportunidade de se fazer um balanço parcial, com foco nas dificuldades, benefícios e consequente análise macro setorial da indústria automobilística brasileira do futuro.


O SIMEA 2014 transformou o WTC Events Center no maior palco de exibição tecnológica e dedicou três painéis ao programa de incentivo do governo, com a presença de mais de 1.100 profissionais nos dois dias, entre engenheiros, especialistas do setor, representantes do Governo, universidades, líderes empresariais e jornalistas do setor.
“Estamos no momento certo para engajar o desenvolvimento da engenharia nacional”, disse Antonio Megale, presidente da entidade, que destacou os benefícios e objetivos do Inovar-Auto até 2017, durante a cerimônia de abertura do SIMEA 2014. A solenidade ainda contou com a participação de Morvam Duarte, diretor do Denatran, Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea, Sergio Pin, conselheiro do Sindipeças, Margarete Gandini, coordenadora do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e Armando Milioni, secretário-adjunto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“Temos de ter a consciência de que o Inovar-Auto é o primeiro passo de uma nova trajetória de investimentos na Engenharia e em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Não é obra acabada, a realidade se mostra bem mais complexa e, com isso, a necessidade de avançar”, disse Margarete Gandini.
A mostra tecnológica apresentou soluções técnicas e inovações para a mobilidade. Além de palestras e trabalhos com alto conteúdo técnico que proporcionaram aos participantes discussões e soluções  para os novos desafios tecnológicos. Ainda durante o evento, foram exibidos mais de 60 trabalhos técnicos divididos nas categorias: Combustíveis e Biocombustíveis, Lubrificantes e Aditivos, Emissões, Inspeção Técnica Veicular, Ensaios e Simulações, Materiais e Reciclagem, Motores e transmissões, Manufatura e Processos, Projeto e Tecnologia do Veículo e Segurança Veicular.

Painel 1 – Com o tema “Inovar-Auto como Política de Inovação do Setor Automotivo”, o Painel 1 apresentou de uma forma bem abrangente uma análise bastante consistente do programa desde a sua implementação. “O programa tem como objetivo incentivar a produção local, atrair investimentos, promover inovação tecnológica à cadeia automotiva com adensamento e competitividade”, disse o palestrante Marco Saltini, vice-presidente da Anfavea.
Ainda de acordo com Saltini, “como resultado teremos a valorização da produção automotiva, inserção do país como centro de desenvolvimento, mais investimentos da cadeia automotiva, efeitos multiplicadores na economia e na sociedade brasileira, veículos mais eficientes com menor consumo, redução do IPI e positividade para o nível de confiança do consumidor”.
Já Sérgio Pin, conselheiro do Sindipeças, além de exibir um breve panorama do setor de autopeças, informou que este segmento em especial é o mais frágil de toda a cadeia, com forte concorrência dos importados, falta de acesso à tecnologia, excesso de impostos e aumento dos dissídios de mão de obra. “
“Hoje, todas as compras realizadas pela montadoras são consideradas como conteúdo local para o abatimento do IPI. Começamos em 2012 a pensar no Inovar-Auto e estamos no meio de 2014 com uma série de itens que estão em aberto e sem definição, a exemplo dos fatores de multiplicação. Não foram divulgadas as normativas que regulamentam a parcela dedutiva e não foi finalizado o sistema que irá apurar o conteúdo local. Há a necessidade do realismo”, disse Pin.
O diretor do Denatran e presidente de honra do SIMEA 2014, Morvam Duarte, comentou sobre os principais objetivos do órgão federal com o programa, como a participação nas discussões mais avançadas nos quesitos de segurança veicular em desenvolvimento no mundo e a promoção do debate interno com melhorias nos quesitos de segurança dos veículos nacionais, a partir da atualização dos regulamentos existentes e adoção de novos normativos. Hoje, a frota no Brasil é de 84 milhões de veículos registrados em circulação. E o número de mortes por acidentes rodoviários em 2013 foi de 44 mil vítimas.
“O Inovar-Auto tem incentivo fiscal imediato, mas supõe a prestação de contas. Para cumprir os compromissos, as empresas poderão recolher o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) ou enveredar por investimentos em P&D, em Engenharia e capacitação de fornecedores, cujos recursos serão utilizados prioritariamente em projetos de interesse das autopeças e ferramentais”, disse Armando Milioni, secretário-adjunto do MCTI.
Milioni também anunciou que será divulgada, nas próximas semanas, portaria interministerial entre MDIC e MCTI que tornará oficial os conceitos que definem os termos do Inovar-Auto: Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), Desenvolvimento de Engenharia (DE), Tecnologia Industrial Básica (TIB) e Capacitação do Fornecedor.

Painel 2 – Com o título “Efeitos Decorrentes do Inovar-Auto na Cadeia Automotiva”, o Painel 2 tratou sobre a complexidade e rigidez do programa e o necessidade de assimilação pelo conhecimento da indústria, passo a passo como a cadeia se engaja ao programa.
O diretor técnico da AEA, Edson Orikassa, apresentou a palestra desenvolvida por Takao Iura, da JAMA – Japan Automotive Manufacters Association, exibindo as caraterísticas da frota brasileira quando comparada com outros países, com maior participação nas categorias compactos e subcompactos. “Com o baixo preço, o maior desafio de agregar tecnologia, o que deve ser levado em consideração”, disse Orikassa.
Para Henry Joseph Junior, vice-presidente da Anfavea, “com forte participação na economia, tratar da cadeia automotiva no mercado brasileiro é bastante abrangente. O Inovar-Auto vai ter de dar um passo muito grande tem termos de modernização no parque industrial em pouco tempo; a indústria tem a necessidade de fazer as mudanças necessárias e até 31 de dezembro de 2017 é um prazo extremamente curto”.
Entre os impactos no mercado automotivo, destaques para o incentivo à produção local, produção com maior conteúdo tecnológico, e veículos mais eficientes, mais seguros e menos poluentes, ou seja, um incentivo à concorrência. Já na indústria, novos investimentos com a construção de novas fábricas, ampliação das unidades já existentes, P&D, Engenharia e Capacitação de Fornecedores e lançamentos de novos modelos.
“Como resultado da implementação do Inovar-Auto, esperamos um novo modelo de produção e industrialização, incremento nos investimentos em P&D e Engenharia, rota tecnológica global – como eficiência energética e o fortalecimento da cadeia de autopeças”, disse Margarete Gandini, coordenadora do MDIC.
A Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) marcou presença no Painel 2 com palestra de Bruno Bragazza que destacou alguns pontos de atenção e reflexão sobre o programa, como melhoria de 12% em eficiência energética que deverá ser atendida sem grandes esforços de P&D e inovações de grande peso, uma vez que o tempo de desenvolvimento e introdução de novas tecnologias no mercado leva em média 3 e 5 anos.

Painel 3 – Na manhã do segundo dia do SIMEA 2014, o terceiro painel do simpósio, sob o tema “O Programa Inovar-Auto na Prática”, contou com as apresentações de Christimara Garcia, CEO da Inventta BGI, de Gilmar Laigner, da Anfavea, e de Luis Curi, vice-presidente da Chery Brasil.
Christimara Garcia desenvolveu uma linha do tempo do Inovar-Auto, de 2004 aos dias de hoje, além destacar o trabalho coordenado pela AEA  - Associação Brasileira de Engenharia Automotiva que, ao lado da própria Inventta BGI, Anfavea, Sindipeças, Anpei, USP, MDIC e MCTI, busca convergir na visão prática do processo de implementação do programa de incentivo.
Inquieto, Gilmar Laignier – em sua palestra – enveredou por questionar o programa para além das limitações pontuais. “Encaro o Inovar-Auto como um novo centro de negócios para a indústria automobilística brasileira”, enfatizou, “prefiro indagar ´qual é o alcance do Inovar-Auto?´ para dizer que depende das empresas e que não podemos ficar limitados aos requerimentos mínimos. Do jeito que está é mais vantajoso investir até o requerimento mínimo em P&D e passar a investir em Engenharia, quando a área do conhecimento está em pesquisa e desenvolvimento”.
O vice-presidente da Chery, Luis Francisco Curi, fez a linha do tempo da marca chinesa no mercado brasileiro, a partir de 2008, quando na China decidiu-se por investir no Brasil como um polo produtivo do Ocidente. “Nossa decisão foi tomada antes do Inovar-Auto. Em julho de 2011 lançamos a pedra fundamental em Jacareí, hoje nos próximos dias teremos a inauguração da fábrica da Chery. Obviamente vivemos momentos de incerteza, como em setembro daquele mesmo ano e, depois, em outubro de 2012, quando foi instituído do Inovar-Auto. Mas hoje entendemos que o Inovar-Auto é o programa certo para o Brasil”, concluiu Curi.
A cerimônia de encerramento foi conduzida por Antonio Megale, presidente da AEA, por Marcus Vinicius Aguiar, presidente da comissão organizadora do simpósio, e por Ronaldo Salvagni, responsável pelas sessões técnicas, que anunciou como Melhor Trabalho desta 22ª edição o paper intitulado “Co-simulação da troca de marchas do veículo no ciclo urbano brasileiro de condução para otimizar o desempenho e o consumo de combustível”, dos autores Jony Eckert, Franco Dedini, Fabio Santiciolli, Eduardo dos S. Costa e Heron Dionísio, todos da Unicamp, e de Fernanda Corrêa, da UTFPR.