Apoiado em dois ótimos atores, o
filme australiano é um thriller surpreendente
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Vitrine Filmes
No começo, você até pode se
questionar: “será que a Austrália
nasceu para ser o lugar marcado pelo futuro incerto?” ou mesmo achar
que, “lá vem de novo um Road Movie
feito no Outback Australiano”, lembrando da trilogia MAD
MAX? Nada disso, nessa imensa ilha que separa o Oceano Índico do
Pacífico, a criatividade parece fluir e crescer mais que os bandos de cangurus
e coalas que habitam esse imenso território pouco explorado.
Não basta ter um lugar, tem que
ter uma história e atores que possam dar vida aos personagens. No filme THE
ROVER – A CAÇADA (Porchlight Films, Lava Bear
Films, Screen Australia, Vitrine Filmes), que
tem estréia marcada nos cinemas brasileiros nessa quinta-feira, o grande peso
esta na interpretação dos dois atores principais.
Tudo começa a funcionar quando,
ambos, se despem de suas carreiras de galãs e se bandeiam para a completa
transformação física e até certo ponto macabra de seus personagens. Um dos
maiores conhecedores das artes cênicas e meu grande mentor, uma vez me disse: “o corpo e o rosto de um ator são como uma
tela branca esperando para ser pintada, quem leva a sério não polui o seu ganha
pão”.
Vendo por esse prisma, o diretor
e roteirista australiano David Michôrd (que tem no currículo
o perturbador Reino Animal) conseguiu fazer em 103 minutos de duração
uma daquelas películas que marcam pela intensidade e dramaticidade, retirando
dos dois personagens principais a beleza e toda técnica de interpretação que
ambos têm.
É um enredo relativamente
simples, se passa em um futuro desolado e perigoso, onde um homem sem piedade
persegue a gangue que roubou seu carro no deserto australiano. Isso se passa dez
anos após o colapso do sistema econômico ocidental, os recursos minerais da
Austrália atraem multidões desesperadas e perigosas para a região costeira do
país.
Com a sociedade em declínio, o
estado de direito se desintegrou e a vida não vale nada. Eric (vivido por Guy
Pierce, mais lembrado como o Rei Edward VIII no premiado O
Discurso do Rei e o terrível cientista vilão Aldrich Killian em Homem
de Ferro 3), é um homem frio e nervoso que deixou tudo e todos para
trás. Quando seu carro - seu último bem - é roubado por uma gangue de bandidos
no deserto, Eric embarca em uma missão implacável para encontrá-los.
Ao longo do caminho, ele é
obrigado a encarar uma relação improvável com Rey (onde Robert
Pattinson, que já havia começado a surpreender como Cedric Diggory em Harry
Potter e o Cálice de Fogo e explodiu como o vampiro Edward Cullen na saga Crepúsculo,
realmente se transformou em outra pessoa), o irmão mais novo ingênuo e ferido
de Henry
(vivido por Scoot McNairy, que curiosamente esteve nos dois últimos filmes
vencedores do Oscar®: Em ARGO ele era Joe
Stafford e em 12 Anos de Escravidão, era o
seqüestrador Brown), um membro da gangue que deixou Rey para trás, depois do
último sangrento assalto da quadrilha.
Claro que não poderia faltar o
sempre indispensável toque feminino. Desta vez é na fotografia feita pela
argentina Natasha Braier, que tem vários curtas no currículo e gosta de
trabalhar com película mesmo.
Isso fica evidente na captação
com as temperaturas de cores corretíssimas em takes externos, afinal ele foi
todo filmado em Super 35 mm ,
que segundo se sabe, é o formato ideal para captar as imagens com contraste e
calor tão intensos.
Não é um filme para ser perdido,
é uma ótima e bem cuidada obra que tem exageros em cenas mais violentas, às
vezes em momentos gratuitos, mas que na somatória final acaba fazendo todo
sentido, inclusive o motivo que Eric atravessa o continente atrás do
seu carro. Corra para o cinema e aguarde pelo inesperado fim, afinal, nem tudo
na vida é o que parece.
A gente se encontra na semana que vem!
Beijos & queijos
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