Um filme sensĂvel e muito profundo, a sofrida histĂ³ria de uma mĂ£e em busca do seu filho
Texto: Eduardo Abbas
NĂ£o se trata de um filme que
pretende culpar a igreja catĂ³lica pelos desmandos que alguns de seus mais
fervorosos representantes impuseram aos cidadĂ£os do mundo. NĂ£o se trata
simplesmente de uma forma singela de mostrar a busca quase impossĂvel por uma
pessoa desaparecida hĂ¡ muito tempo. NĂ£o Ă© o caso de sempre que alguĂ©m quando
esta no limbo aparece algo que o resgata de volta à vida. É tudo isso e muito
mais!
Estreou nos cinemas brasileiros Philomena
(Pathé
/ BBC Films / BFI / Paris Filmes), uma obra baseada no livro The
lost child of Philomena Lee escrito pelo jornalista Martin
Sixsmith e que mostra um lado pouco conhecido do terrĂvel flagelo que
algumas mĂ£es irlandesas sofreram no pĂ³s-guerra: separar-se de seus filhos.
Em alguns conventos, as mĂ£es
solteiras eram obrigadas a entregar seus filhos aos cuidados das irmĂ£s, que os
vendiam, na maioria das vezes, para casais americanos. Essa histĂ³ria veio Ă
tona hĂ¡ pouco tempo e juntou-se aos escĂ¢ndalos da igreja catĂ³lica, tanto que o
Papa Francisco recebeu a real Philomena Lee, em encontro nĂ£o
confirmado pela igreja, mas que pode desencadear uma abertura de arquivos
secretos das igrejas Irlandesas. É o cinema prestando serviço, é a tela mudando
o quadro da vida.
PolĂtica e religiĂ£o Ă parte, o
filme Ă© uma obra das mais bem elaboradas do cinema inglĂªs. Sempre tĂ£o duros nas
ações e emoções, os sĂºditos da rainha dessa vez escreveram em letras garrafais
toda a indignaĂ§Ă£o em absurdos histĂ³ricos como esse.
Maravilhosamente dirigido pelo
quase sempre esquecido Stephen Frears (um dos melhores
diretores ingleses de cinema), tem a primeira dama do cinema da Inglaterra, Judi
Dench como Philomena e Steve Coogan vivendo o jornalista Martin
Sixsmith, naquele que deve ser o grande papel da sua vida atĂ© entĂ£o.
Nada mais justo, o filme concorre a quatro prĂªmios Oscar® – Melhor Filme,
Melhor Atriz Judi Dench (pena Cate Blanchett estar tĂ£o exuberante
em Blue
Jasmine porque seria barbada!), Melhor Roteiro Adaptado (Steve
Coogan e Jeff Pope) e Melhor Trilha Sonora (Alexandre Desplat).
No filme, Philomena Lee, uma menina
irlandesa, Ă© acolhida por freiras quando se torna uma adolescente grĂ¡vida.
Condenada a uma vida servil no convento, ela é forçada a abandonar seu filho de
quatro anos e deixĂ¡-lo ir com um casal desconhecido. Com um salto para 2003,
entra em cena Martin Sixsmith, jornalista e marqueteiro polĂtico que,
relutante a princĂpio, ajuda Philomena por “interesse humano”
para um artigo que ele escreverĂ¡. Os fatos os levam de Londres Ă Irlanda e a
Washington DC, com surpresas no caminho.
Mas nem tudo sĂ£o flores nessa
trilha do tĂ£o esperado encontro, a vida Ă s vezes nos reserva surpresas, nem sempre
ruins e nem sempre boas. O filme torna-se uma cornucĂ³pia de sentimentos, ações,
reações e surpresas.
Philomena Ă© um desses
filmes que temos que guardar na estante e na lembrança, Ă© uma histĂ³ria real que
ninguém gostaria de passar, é um jeito desumano de se tratar o semelhante, mas
principalmente uma forma de encarar as rudezas da vida com esperança, perdoar
para ser perdoado, amar para ser amado, chorar para se sentir gente, e
acreditar que a vida pode ser muito melhor que um revés, por mais dolorido que
seja.
Preparem seus lenços e sorrisos,
afinal nem tudo Ă© tĂ£o sofrido, mas fica principalmente a liĂ§Ă£o que a personagem
dĂ¡ aos que apenas acreditam na maldade do ser humano, muitas vezes um “por
favor” abre mais portas que um simples deixar pra lĂ¡.
A gente se
encontra na semana que vem!
Beijos &
queijos
e-mail: coluna.site@gmail.com
Follow me on twitter: @borrachatv
0 ComentĂ¡rios