A recessão no mundo joga os números do mês para baixo

Texto e fotos: Abimaq / Eduardo Abbas

2020 não está começando como foi previsto no fim do ano passado, o sentimento era de otimismo na retomada do crescimento e que finalmente as empresas pudessem sair do sufoco deixado pelos anos anteriores que culminaram na crise que insiste em não ir embora.


Para piorar o cenário, existe uma desaceleração do crescimento mundial, com isso as exportações ficam seriamente prejudicadas, os commodities avançam em detrimento dos produtos manufaturados, a curto prazo pode haver um forte desequilíbrio da balança comercial que deverá negativar este ano.

Acompanhe o resumo do mês e os indicadores individualmente

Curva de Comportamento - Receita Líquida – Média 2010-13, 2017, 2018 e 2019
A indústria de máquinas e equipamentos brasileira encerrou o mês de janeiro de 2020 com um total de faturamento de R$ 7,9 bilhões, queda de -3,6% em relação ao resultado de janeiro de 2019 (R$ 8,18 bilhões). O desempenho mais fraco foi influenciado pela piora nas vendas no mercado externo.


As vendas no mercado interno, após dois meses de desaceleração (-2,7 em novembro e -2,9 em dezembro) voltaram a registrar crescimento em relação ao mesmo mês de 2019 e encerraram o mês de janeiro com crescimento de 6,6%, mas não o suficiente para anular a queda observada nas exportações.

Receita Líquida Total - R$ Bilhões constantes
A queda observada nas receitas líquidas totais de vendas foi a terceira consecutiva, tanto na comparação mensal como interanual. Assim, o resultado anualizado manteve a desaceleração observada durante o segundo semestre de 2019 e em janeiro de 2020 recuou para 0,3%.


O desempenho das vendas no mercado doméstico, estável em relação ao mês imediatamente anterior e 6,6% superior ao resultado do mês de janeiro de 2019, anulou parte da queda observada no mercado externo, mas não interrompeu a desaceleração observada no final de 2019. As exportações de máquinas e equipamentos continuam registrando queda em 2020, impactadas por desaceleração em mercados tradicionalmente importantes.

Exportação - US$ Bilhões FOB
Em janeiro as exportações de máquinas e equipamentos registraram forte queda, tanto em relação ao mês imediatamente anterior (-26,3%) como sobre o mesmo mês de 2019 (-26,6%) e chegaram a
US$ 554,6 milhões.


A desaceleração observada em 2019 em razão de diversos fatores (crises geopolíticas, guerra comercial entre Estados Unidos e China, recessão na Argentina) deverá este ano ter um complicador adicional, o surto de epidemia do coronavírus. Muitas economias importantes, incluindo o Brasil, já vinham sentido os efeitos das restrições impostas pelo governo chinês, mas nesta semana, pela primeira vez, o numero de caso da China foram superados, um indicativo que diversos outros países deverão passar pelas mesmas restrições.

Exportação por Setores - Setores com sua participação no total
Em janeiro de 2020 a redução das exportações foi observada em quase todos os setores fabricantes de máquinas e equipamentos, na comparação com janeiro/19.


Houve crescimento apenas nas vendas de Máquinas para agricultura, que passaram a representar 13%  das exportações da indústria de máquinas e equipamentos, após o crescimento de 31% neste início de ano. Já na comparação com o mês de dezembro de 2019, todos os segmentos registraram queda nas vendas de máquinas e equipamentos ao exterior.

Exportação por Destinos - US$ Milhões
Em janeiro/20 as vendas aos EUA caíram 45% em relação à janeiro de 2019, assim sua participação nas vendas de máquinas fabricadas no Brasil passou de 30,5% em 2019 para 27,6%. A América Latina, também reduziu as aquisições de máquinas e equipamentos brasileiras mesmo com a ampliação das compras pela Argentina (37,3%).

Fonte: SECEX; Elaboração: DCEE/ABIMAQ . Mercosul Estados Membros: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela
Para o Mercosul, por outro lado, houve aumento de 7,3% das exportações, influenciado pela melhora nas vendas para a Argentina e também para o Uruguai. A Europa manteve a tendência de queda observada em 2019. Em jan2020 as compras de máquinas brasileiras recuaram 9,4%. Para a Holanda a queda  foi de -33,9% e para a Alemanha de 33,6%.

Importação - US$ Bilhões FOB
O mês de janeiro/20 registrou forte crescimento nas entradas de máquinas e equipamentos no Brasil. Em comparação com o mês de dezembro/19 o aumento nas importações foi de +22,0%. Na comparação interanual o crescimento foi na ordem de 22,9%.


Este crescimento, que teve início em maio de 2019, vem sendo puxado pelo aumento dos investimentos em infraestrutura, na agricultura e no aumento das aquisições de componentes para reposição e produção de máquinas e equipamentos.

Importação por Setores - Setores com sua participação no total
Quase todos os setores da economia ampliaram a aquisição de máquinas e equipamentos importados neste inicio de ano.


O destaque é para a entrada de máquinas para projetos pesados direcionados para a infraestrutura que expandiu 92,8% e para o setor agrícola que aumentou a importação de máquinas e implementos agrícolas em 136,8% quando comparado com o mês de dezembro/19. Boa parte das importações destacadas foram realizadas dos Estados Unidos, mas também da Alemanha.

Principais Origens das Importações - Participação no total importado (US$)
Neste início de ano houve alterações no ranking dos principais mercados fornecedores de máquinas e equipamentos ao Brasil.


Voltou a ocupar lugar de destaque a China cujas entregas ainda não haviam sido impactadas negativamente pelas severas restrições impostas pelo seu Governo em razão da epidemia do coronavírus. A Alemanha registrou forte crescimento nas suas vendas por conta de um projeto em infraestrutura. Já os Estados Unidos, mercado que tradicionalmente se destaca como a principal origem de maquinas importadas, mesmo com a ampliação das vendas de máquinas rodoviárias e agrícolas, perdeu sua importância no mercado local.

Consumo Aparente - R$ Bilhões constantes*
O consumo aparente de máquinas e equipamentos vem registrando melhoras. Em relação ao mês de janeiro/19 houve forte crescimento no consumo (+19,3%) que passou de R$ 10,93 bilhões em jan19 para R$ 13,03 em jan2020.


O Brasil sofreu um processo intenso de recessão que inviabilizou a realização de investimentos em máquinas e equipamentos por muitos anos. Somente com o início da expansão das atividades em 2018 e mais intensamente no primeiro trimestre de 2019 o quadro de otimismo que se estabeleceu conduziu à decisão de investimentos em alguns setores da economia que presenciamos agora.

NUCI - Nível de Utilização da Capacidade Instalada (%)
Carteira de Pedidos - Em meses para atendimento
As taxas de crescimento registradas nas vendas de máquinas e equipamentos nos últimos dois anos, não foram suficientes para elevar o nível de utilização da capacidade instalada que ainda se encontra a 72,5%, pouco abaixo do nível médio utilizado pela indústria de transformação (74%).


A carteira de pedidos da indústria de máquinas e equipamentos, importante indicador antecedente de vendas, também continua reduzida, em função, principalmente, da ausência de grandes projetos de investimentos. E no mês de janeiro, ainda que o nível de consultas tenha se elevado, houve queda de -5,4% na carteira de pedidos.

Emprego - Em mil pessoas
Após uma recuperação importante do número de pessoas empregadas na indústria brasileira de máquinas e equipamentos iniciada em 2018, a partir de setembro de 2019 houve uma sequência de quedas na força de trabalho do setor.


Assim, após ter alcançado em agosto de 2019 o pico de 309 mil colaboradores, o setor reduziu o quadro de pessoal para pouco mais de 302 mil trabalhadores em dezembro 19. Janeiro de 2020, apesar da queda das vendas, da redução da carteira de pedidos e do nível de utilização da capacidade instalada, o setor registrou aumento de 0,9% no quadro, elevando o número de trabalhadores para 305,2 mil pessoas.