No balanço de fim de ano da AEA o Inovar-Auto foi considerado positivo, mas o futuro indĂºstria ainda Ă© uma grande interrogaĂ§Ă£o

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Marcel Mano / Textofinal ComunicaĂ§Ă£o

A passagem de rĂ©gua do ano tem duplo sentido agora em 2018, Ă© chegado o momento de se olhar para trĂ¡s e tentar entender o que, aquele programa que favorecia as montadoras instaladas no Brasil e punia os importadores, trouxe de bom para os consumidores e as empresas.


A “EficiĂªncia EnergĂ©tica” foi um dos avanços alcançados, porĂ©m ainda estamos muito distantes de uma competiĂ§Ă£o mais acirrada com mercados mais fortes, como Estados Unidos e Europa. Segundo Edson Orikassa, presidente da AEA - AssociaĂ§Ă£o Brasileira de Engenharia Automotiva “A indĂºstria automotiva brasileira investiu um total de R$ 85 bilhões durante o Inovar-Auto, sendo R$ 15 bilhões em eficiĂªncia energĂ©tica e Pesquisa & Desenvolvimento, o que gerou melhoria de 15,4% em mĂ©dia na frota brasileira, enquanto a meta era de 12% de obrigatoriedade, ou seja, o saldo foi positivo”.


A frieza dos nĂºmeros talvez nĂ£o reflita uma grande revoluĂ§Ă£o em termos industriais, na verdade o programa obrigou as montadoras instaladas no Brasil a buscar nas matrizes e centros de pesquisa inovações que estavam guardadas ou sendo pensadas apenas para paĂ­ses com um maior rigor de lei para serem usadas aqui. Citando como exemplo, os motores de 3 cilindros e a utilizaĂ§Ă£o de turbo - compressores Ă© um dos maiores legados, eles representam um salto muito grande no desenvolvimento da tecnologia de manufatura e surpreenderam na utilizaĂ§Ă£o em veĂ­culos que antes eram puxados por motores muito maiores, sem perda de rendimento, com aumento de economia de combustĂ­vel e pouquĂ­ssima ou nenhuma alteraĂ§Ă£o no preço final.


Agora o desafio Ă© outro, o novo programa jĂ¡ estĂ¡ a todo vapor na AEA, que jĂ¡ realizou mais de 130 reuniões de Comissões TĂ©cnicas e Grupos de Trabalho, alĂ©m de diversos encontros dos grupos que formam o Rota 2030 que foram divididos em sete os grupos tĂ©cnicos:
  • GT1 - Cadeia de Fornecedores;
  • GT2 - Incentivos para P&D, Manufatura 4.0;
  • GT3 - EficiĂªncia EnergĂ©tica, BiocombustĂ­veis (etanol);
  • GT4 - Segurança Veicular;
  • GT5 - EletrĂ´nica Embarcada e Baixos Volumes;
  • GT6 - SimplificaĂ§Ă£o fiscal;
  • GT7 - EletrificaĂ§Ă£o, este Ăºltimo recĂ©m criado para discussões especĂ­ficas.

Com base nessa separaĂ§Ă£o por grupos, perguntei ao Edson Orikassa, o que seria mais fĂ¡cil acontecer primeiro, se a implantaĂ§Ă£o da indĂºstria 4.0 ou a chegada definitiva dos carros elĂ©tricos? Segundo ele “a indĂºstria estĂ¡ no caminho certo, os sistemas estĂ£o sendo implantados e a demora para a total transformaĂ§Ă£o Ă© demorada, ao contrĂ¡rio dos carros elĂ©tricos, que jĂ¡ sĂ£o uma realidade e jĂ¡ começam a fazer parte do dia-a-dia das pessoas, ambos seguem caminhos diferentes com tempos diferentes”.


Outro ponto abordado foi o PCVE - Programa Brasileiro de CombustĂ­veis, Tecnologias Veiculares e Emissões, baseado no Auto Oil, que tem com o objetivo de obter melhor entendimento sobre o processo de emissĂ£o de gases na atmosfera, as reações que lĂ¡ ocorrem e os resultados dessas ações em termos de concentraĂ§Ă£o de poluentes e qualidade do ar.


Com diversos testes divididos em duas fases, sendo que a primeira em laboratĂ³rios e locais prĂ©-determinados na cidade de SĂ£o Paulo, foi possĂ­vel determinar o impacto desses gases na atmosfera da metrĂ³pole com todos os tipos de veĂ­culos que circulam pelas vias, sejam pesados ou leves. Os resultados apontam que os Ă­ndices de poluiĂ§Ă£o estĂ£o diminuindo por conta da utilizaĂ§Ă£o de combustĂ­veis renovĂ¡veis (Etanol) e o endurecimento das polĂ­ticas de eficiĂªncia energĂ©tica impostas nos Ăºltimos anos.


A segunda fase Ă© basicamente o “caminho” que a poluiĂ§Ă£o percorre, foi possĂ­vel detectar que as emissões que acontecem na cidade do Rio de Janeiro em conjunto com as de SĂ£o Paulo, podem impactar no ar que Ă© respirado em Londrina, no ParanĂ¡.


Um tema que gerou polĂªmica foi o da segurança veicular, hĂ¡ discussĂ£o de um plano de novas e futuras regulamentações a serem implementadas visando uma melhora na segurança dos veĂ­culos no paĂ­s em linha com as estatĂ­sticas de acidentes disponĂ­veis, infraestrutura da malha rodoviĂ¡ria e das cidades. Impacto lateral e proteĂ§Ă£o para pedestres foram os temas mais discutidos de 2017, porĂ©m alguns modelos fabricados no Brasil nĂ£o conseguem passar em testes realizados pelo Latin NCAP.


Perguntei ao Paulo Jorge, responsĂ¡vel na AEA por segurança veicular se, “nĂ£o Ă© chegado o momento de se penalizar a montadora que nĂ£o passa no teste e nĂ£o procura melhorar seu produto? Isso acontece em outros segmentos, como o de celulares, quando apresentam defeito sĂ£o tirados do mercado para reparo, nĂ£o seria essa uma atitude melhor para o consumidor?” Segundo ele, “os testes do Latin NCAP sĂ£o mais exigentes que os que sĂ£o feitos no Brasil, os carros seguem na sua maioria a legislaĂ§Ă£o nacional e estĂ£o dentro do que Ă© exigido”.


Em minha opiniĂ£o, nĂ£o concordo com essa posiĂ§Ă£o protecionista, acredito que no quesito segurança devemos sempre ser norteados pelo mĂ¡ximo e sim, carros com zero estrela em avaliaĂ§Ă£o de proteĂ§Ă£o dos passageiros devem ser tirados do mercado atĂ© reparar o erro do projeto que ocasionou a nota tĂ£o baixa.


Por fim, se no Inovar-Auto, uma das metas era de melhorar a eficiĂªncia energĂ©tica em 12% nos Ăºltimos cinco anos, no Rota 2030 haverĂ¡ uma exigĂªncia ainda maior nos diversos modos de utilidade, com visĂ£o completa de eficiĂªncia, ou seja, no combustĂ­vel e na sustentabilidade. A proposta de criaĂ§Ă£o de Eco BĂ´nus visa incentivar o desenvolvimento de veĂ­culos Flex com relações de autonomia entre etanol e gasolina superiores ao mĂ­nimo de 69,3%, visando incentivar o uso de etanol. Para os veĂ­culos hĂ­bridos e elĂ©tricos deverĂ£o ser mantidos os chamados supercrĂ©ditos.


Que o novo ano traga novidade, responsabilidade e muita criatividade no mundo da mobilidade, que a AEA continue seu importante trabalho junto a indĂºstria automotiva brasileira, uma das melhores do mundo.