Esnobado pelo Oscar®, o filme
baseado em uma histĂ³ria real mostra que cabeça ruim e dinheiro na mĂ£o viram
vendaval
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros. Pictures
Existem algumas razões e vĂ¡rios
motivos para explicar certas atitudes da Academia de Artes e CiĂªncias
CinematogrĂ¡ficas, o esquecimento seletivo faz parte da tradiĂ§Ă£o deixar de lado algumas pessoas e suas obras, acontece que nos Ăºltimos anos o
que determina a chegada ou nĂ£o de um filme Ă festa de premiaĂ§Ă£o Ă© algo mais
profundo, o chamado “conjunto da obra” que finalmente acabou com a era do “a qualquer custo” ou do “doa a quem doer”, os homens e mulheres
desta Ă¡rea da cultura mundial tem que ter carĂ¡ter, discernimento e saber
respeitar o prĂ³ximo. Viva!
Talvez por isso o filme Artista
do Desastre (New Line Cinema, Good Universe, RatPac-Dune
Entertainment, Point Grey Pictures, Ramona Films, Warner Bros. Pictures)
foi apenas indicado para Roteiro Adaptado, o que no Golden
Globe parecia ser sonho de sucesso virou pesadelo, quem poderia
surpreender foi surpreendido, as acusações de assédio sexual contra o diretor,
produtor e ator James Franco caĂram como uma bomba e, mesmo sem investigaĂ§Ă£o e
condenaĂ§Ă£o, certamente podaram o caminho de sucesso do filme.
E olha que se trata de um filme ousado, Franco teve a ideia quando viu um outdoor na rua, baseando-se no livro
de Greg
Sestero, transformou a histĂ³ria real e tragicĂ´mica do aspirante a
cineasta Tommy Wiseau em um longa bem feito e que tem uma histĂ³ria bem contada. Ele mostra todos os detalhes dos bastidores de
um dos desastres mais geniais do cinema atual que Ă© conhecido como “O Melhor Pior Filme de Todos os Tempos”,
The
Room.
É um longa que prima pelo humor
(Ă s vezes de gosto duvidoso), mas que tem como base a celebraĂ§Ă£o da amizade e mostra
que nĂ£o hĂ¡ limites para se conquistar algo quando nĂ£o se tem a menor idĂ©ia do
que estĂ¡ fazendo. É um alerta e mostra como esse tipo de negĂ³cio nĂ£o serve para
amadores, Ă© muito fĂ¡cil queimar dinheiro apenas no embalo e na empolgaĂ§Ă£o de
algo que se considera muito bom.
As atuações sĂ£o muito
convincentes e o elenco tem alĂ©m de James no papel principal seu irmĂ£o, Dave
Franco (como Greg Sestero), Seth Rogen (como Sandy
Schklair), Alison Brie (Amber), Ari Graynor (Juliette
Danielle), Josh Hutcherson (Philip Haldiman), Jacki
Weaver (como Carolyn Minnott), muitos outros conhecidos, novatos e a luxuosa participaĂ§Ă£o
da sempre Deusa Sharon Stone.
Na verdade parece que eles estĂ£o
vivendo a loucura que os personagens do filme original tiveram nas filmagens de
The
Room. A direĂ§Ă£o de James Franco Ă© muito precisa, consegue um altĂssimo grau de envolvimento de todos os atores atuais nas cenas
re-filmadas e a sua interpretaĂ§Ă£o de Tommy Wiseau tem grande peso,
tanto sentimental quanto de construĂ§Ă£o psicolĂ³gica, confesso que na metade do
filme comecei a sentir pena das besteiras que o Tommy real fazia.
O roteiro de Scott Neustadter & Michael
H. Weber (500 Dias com Ela, A Culpa Ă© das Estrelas) Ă©
brilhante, os dois escritores conseguem dosar com muita habilidade momentos de
nonsense com humor, emoĂ§Ă£o e fortalecem todos os personagens, as frases curtas
e contundentes ou aqueles discursos associados a ações prendem
a atenĂ§Ă£o nos 98 minutos de exibiĂ§Ă£o. A preocupaĂ§Ă£o com a fotografia nĂ£o foi
das maiores por causa do conteĂºdo original, mas Brandon Trost (Vizinhos,
A
Entrevista) conseguiu reproduzir com competĂªncia a “salada” de tons e profundidade de campo
que os dois malucos tentaram fazer no começo dos anos 2000.
Nas mĂ£os de uma mulher ficou a
responsabilidade da montagem, Stacey Schroeder (Popstar:
Sem Parar, Sem Limites) Ă© especialista
em comĂ©dias e a ediĂ§Ă£o feita por ela Ă© limpa e com ritmo cadenciado, facilita o
tempo de entendimento da piada e dĂ¡ a devida pausa para o riso da platĂ©ia, ela
usa a tĂ©cnica que muitos humoristas utilizam no palco, a tal “parada estratĂ©gica”.
Artista do Desastre
entra em cartaz hoje nos cinemas do Brasil, Ă© um filme de muitos predicados
que, infelizmente, foram prejudicados por um sujeito simples, nĂ£o deve cair
no esquecimento nem penalizar quem faz as coisas direito, jĂ¡ pagou sua pena
pela falta de indicações ao Oscar®, pela bilheteria baixa
(custou US$ 10 milhões e faturou US$ 21) e sim, deve ser visto por que gosta de
cinema bem feito.
Beijos & Queijos
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