Um roteiro soberbo e interpretações fortes em um dos melhores filmes do ano com os dois maiores
atores americanos da atualidade
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Paramount Pictures
Nem nos mais loucos sonhos de Thespis de
Ática, o inventor da profissão de ator na Grécia antiga, seria possível
imaginar que em 2017 um casal pudesse ser aclamado como os maiores na arte de
representar, não é uma profissão fácil de ser exercida por tantos anos,
acontece que ter talento para viver uma vida que não é a sua é uma arte que
nunca vai se perder no tempo.
A criação de um personagem
depende de vários fatores, entre eles a escrita clara e direta que faz com que
a arte da representação seja fiel e facilite o entendimento dos espectadores,
alvo da criação e da atuação, levar a mensagem de forma clara, limpa e que pode
em algum momento da vida, transformar o modo de encarar o mundo.
Faz muito tempo que não aparece
um filme tão brilhante e com atuações tão fortes como este que estréia nesta
quinta-feira nos cinemas brasileiros, o duro é saber que em Um
Limite Entre Nós (Bron Studios, Macro Media, Scott
Rudin Productions, Paramount Pictures), uma dessas
jóias raras que os senhores do Oscar® fazem questão de esquecer,
não só pela sua imensa vontade de deixar de lado temas mais profundos, nos
oferece a arte de representar em seu nível máximo, na verdade é quase uma continuação
da peça que os dois protagonistas e alguns atores que estão no filme encenaram
na Broadway
anos atrás.
O filme é dirigido por Denzel
Washington (ele concorreu ao Oscar® deste ano mas não levou e não se entende por que) e também vive o personagem Troy Maxson. A história
se passa em 1950, ele com 53 anos mora com a esposa, Rose (a vencedora do Oscar®
de atriz coadjuvante de 2017, Viola Davis), e o filho mais novo Cory
(Jovan
Adepo, um ator inglês que fez sucesso na série de TV The
Leftovers). Ele trabalha recolhendo lixo das ruas e batalha na
empresa para que consiga migrar para o posto de motorista do caminhão.
Troy sente um profundo
rancor por não ter conseguido se tornar jogador profissional de baseball,
devido à cor de sua pele, e por causa disto não quer que o filho seja
esportista. Isto faz com que ele e o jovem batam de frente e representem uma
das cenas mais antológicas do cinema atual.
As atuações são simplesmente
espetaculares, não existe um só momento em que a interpretação seja mais ou
menos, são vários os pontos destacáveis no filme, mas a interpelação do garoto
com o pai gera momentos de angustia para quem assiste e tudo é brilhantemente captado
em película cinematográfica pela dinamarquesa Charlotte Bruus Christensen,
que já surpreendeu em A
Garota no Trem.
Ela usa a mesma técnica de muita
luz natural, prefere os dias mais nublados aos claros demais e sempre faz o registro
com a velha e boa película cinematográfica, deixando a versão digital apenas
para distribuição. Com isso ganha em profundidade de campo e back
focus, isso significa que tudo o que você assiste está dentro da área
focal, tudo é definido e corretamente apresentado.
Por isso também o filme é lindo,
forte, envolvente e muito adulto, a entrega individual de cada ator com seu
personagem nos envolve e nem dá para sentir passar as quase 2 horas e 40
minutos de exibição. Um Limite Entre Nós é,
diferentemente de alguns dos outros filmes que concorreram ao prêmio máximo da
academia, uma produção para se levar e assistir durante a vida toda, uma
verdadeira obra de arte dentro da sétima arte, e que se vivo fosse, Thespis de
Ática certamente aplaudiria o trabalho de seus seguidores, de pé!
Eu volto na semana que vêm!
Beijos & Queijos
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