Com a economia quase estagnada,
falta de empregos, dificuldade de acesso ao crédito e todo mundo economizando,
sobrou para os veículos
Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Anef
No fim do ano de 2015 já se
previa uma dificuldade no país por conta de uma crise que somente ganhava corpo,
a tal “marolinha” virou um
descontrolado tsunami e praticamente devastou setores importantes da economia
ceifando empregos, fechando empresas e dificultando a vida de quem vive para
pagar impostos para um governo ávido e faminto.
Todos os setores sofreram, mas
sobrou muito para a indústria automobilística, algumas montadoras demitiram,
outras reduziram e quem se arriscou a lançar novos produtos agora paga o preço
da dificuldade em atrair novamente o consumidor. Isso impactou no financiamento
de veículos, que registrou uma significativa queda de 9,9% em 2016, foram liberados
80,2 bilhões, ou seja, o setor engatou uma marcha à ré e acelerou fundo!
A ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras de Montadoras)
apresentou aos jornalistas do setor o balanço do ano passado, são números
baixos e com explicações que, na verdade, mais tentam justificar do que
detectar onde está o problema. Segundo o presidente da entidade, Gilson
Carvalho, “o fraco desempenho da economia
impactou fortemente na concessão de crédito ao consumidor. Ao mesmo tempo em
que os bancos, em razão do aumento dos riscos, foram mais rigorosos, muitos
consumidores optaram por adiar suas compras com medo de não quitar sua dívida.
O ano de 2016 foi de muita cautela, tanto por parte das pessoas, como por parte
das instituições financeiras”.
Não foram somente os automóveis,
motos e caminhões também sofreram fortemente as ações devastadoras da crise, sendo
que o setor de pesados e das duas rodas vive principalmente de financiamentos,
e aí a inadimplência mostra sua cara feia e mal humorada. A taxa nas operações
de financiamento registrou aumento de 0,4 ponto percentual
tanto para pessoas físicas como para jurídicas. Para o primeiro grupo, a taxa
foi de 4,6%, enquanto para o outro, foi de 5.0%. Na carteira de leasing, o
índice de não pagadores foi um pouco menor: 3,8% para as pessoas físicas e de
3,6% para as empresas. “Os índices de
inadimplência ficaram abaixo da expectativa, o que é muito bom, mas estão
crescendo. Em 2014, a
taxa para as pessoas físicas era 3,9% e em 2015, foi de 4,2%”, explica o
presidente da ANEF.
Com isso tem muita gente
preferindo pagar à vista, no ano passado se registrou o melhor resultado desde
2008 e corresponderam por 44% das vendas efetuadas, o consórcio respondeu por
5% dos contratos e o leasing 2%, todo mundo se vira como pode, no caso dos
financiamentos, os bancos ligados às montadoras tem taxas melhores e continuam
mais atraentes. Em dezembro, as entidades associadas à ANEF cobraram juros de 23,14% ao ano e 1,76% ao mês e prazo de 60
meses, enquanto os bancos independentes trabalharam com 25,70% e 1,92% tendo
como prazo médio de 42,4 meses.
O futuro a Deus pertence e as
projeções para 2017 são modestas, para Gilson, este ano deverá ser um pouco
melhor, a expectativa é de que o saldo de financiamentos para a compra de
veículos e motocicletas registre um pequeno aumento de 2,5% e alcance a marca
de R$ 166,7 bilhões. Já o total de recursos liberados poderá crescer um pouco
mais e somar R$ 86,7 bilhões, o que representa uma alta de 5,5%. “No primeiro semestre, o mercado deverá
manter o ritmo, pois o nível de confiança da população ainda continua baixo e
ninguém quer comprometer sua renda ou ficar inadimplente. Depois, nossa
expectativa é de crescimento no volume de negócios, mas ainda muito inferior
aos anos anteriores”.
Na verdade esses números são
baseados em projeções do mercado, que vive momentos de inconstância quase que
diariamente, existe essa coisa da esperança de melhora, mas não existe certeza
absoluta que vai dar certo ou que o caminho é realmente esse. Baseado nessas
incertezas e o que pode vir por aí, perguntei ao presidente da Anef: “hoje em dia, ninguém fala em piora do atual
cenário, somente em melhora, mas e se tudo que se prevê der errado, 2017 não
pode ser pior que 2016?”.
Segundo Gilson, “os sinais mostram que a tendência é de uma
melhora pequena, isso entre zero vírgula e um por cento, mas certamente não
podemos afirmar, pode acontecer algo no meio do caminho que vai jogar essas
projeções por terra, seja política, social ou mesmo do mercado”.
Certamente existe a vontade de
melhora, o país e as empresas precisam se recuperar deste enorme recuo, vivemos
hoje uma realidade de 10 anos atrás, precisamos caminhar para frente e tirar
definitivamente o Brasil desta crise sem precedentes na nossa história, tá na
hora de apertar o botão “SOBE”.
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