Um filme sensível, humano e que mostra o lado quase esquecido daqueles que no passado fizeram os dias de hoje

Texto: Eduardo Abbas
Fotos: Warner Bros.

Não é de agora que Hollywood começa a fazer uma “mea culpa” com os atores que, nas décadas do século passado, fizeram sucesso, enriqueceram produtores e entregaram suas almas para diretores nem sempre talentosos. Seus nomes giravam em torno de cifras e suas atuações eram as mais convincentes possíveis, isso dentro de projetos onde a dedicação e a capacidade de viver outra vida sempre formaram ícones que até hoje são cultuados.


O tema “estou ficando velho”, ganhou neste ano, espaço por várias vezes na tela, vários foram os momentos e com muita gente boa, quase que dizendo para quem gosta de suas atuações que está chegando a hora de parar. Claro que isso nunca é dito claramente, o cinema consegue mandar a mensagem romanceando, criando boas estórias que, quem sabe, ainda podem render uma graninha no bolso e até um prêmio.


Foi com esse ar de quase fim de carreira, mas com muita lenha ainda para queimar, estreou nos cinemas brasileiros Um Senhor Estagiário (Annapurna Pictures, Waverly Films, Scott Rudin Productions, GreeneStreet Films, Warner Bros.) um filme que tem como mensagem a velhice produtiva que os jovens e adultos de hoje não enxergam.


O roteiro e a direção ficaram a cargo da competente Nancy Meyers (65) (Simplesmente Complicado, Alguém tem que Ceder, A Recruta Benjamin) que convidou Robert De Niro (72) (Touro Indomável, O Lado Bom da Vida) e Anne Hathaway (32) (Os Miseráveis, O Diabo Veste Prada) para viverem nesta comédia dramática os personagens centrais, separados por décadas vividas por cada um em cada momento de sua vida. É uma sacada genial da diretora, porque na verdade, tanto os personagens quanto os atores tem a mesma diferença de idade na vida e na arte.


No filme, De Niro é Ben Whittaker, um viúvo de 70 anos que descobre que a aposentadoria não é exatamente como imaginava. Buscando uma oportunidade de voltar à ativa, ele se torna estagiário sênior de um site de moda criado e administrado por Jules Ostin (Hathaway).


Os cenários são ambientados em um galpão cheio de janelas que cria uma atmosfera limpa, clara e cheia de vida, como deve ser uma empresa contemporânea, um grande desafio para o diretor de fotografia, o Sul Africano Stephen Goldblatt (70) (Máquina Mortífera, Batman Forever, O Príncipe das Marés, Histórias Cruzadas), onde consegue tirar contraluz de onde menos se espera, realçando um recorte suave e ao mesmo tempo intenso sobre os personagens em destaque.


Outra grande vertente do filme é a mescla de várias gerações de atores, entre eles Rene Russo (61) (Máquina Mortífera 3 e 4, Thor e Thor: O Mundo Sombrio), Nat Wolff (20) (A Culpa é das Estrelas) entre alguns outros famosos e outros nem tanto, mas que dão a dimensão clara do que a nova geração de pessoas pensa sobre pessoas mais velhas.


São essas misturas clássicas que formam a grande luva de pelica que, em dado momento, esbofeteia os rostos de quem acha que já nasceu sabendo de tudo.


É um filme engraçado, sério, tem cenas bem elaboradas em situações corriqueiras das pessoas que vivem nas grandes cidades, tem amor, paixão, tesão, competição, mas principalmente tem alma, tem aquela coisa de você contar uma piada antiga para alguém mais novo e ele rir, pois não conhecia, e coloca aquela dúvida na cabeça dos mais velhos: “se não conhecem essa piada antiga, o que sabem da vida?”.


Um Senhor Estagiário é obrigatório para quem já está na fase de descanso e também para quem está longe dela, é uma maneira de dizer que somos importantes enquanto estamos aqui, e parafraseando o personagem Ben, a sua fala mais marcante é uma das grandes verdades da vida:


“Uma vez eu li que os músicos não se aposentam, eles param quando não há mais música neles. Bem, eu ainda tenho música em mim.”, e as idades das pessoas, colocadas na frente de seus nomes mostra que, o novo e o velho juntos, podem sim tocar a mesma harmonia.


A gente se encontra na semana que vêm!

Beijos & queijos

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