O consórcio russo Almaz-Antey S.A., produtor de sistemas de defesa antiaéreos de mísseis terrestres e navais, assim como de estações de radar e sistemas móveis de comando, anuncia nesta terça-feira que interviu no processo contra as sanções comerciais que “congelaram os bens” da empresa – conforme medida imposta por decisão do Conselho da União Europeia 2014/508/CFSP e pelo Regulamento de Execução do Conselho da União Europeia Nº 826/2014 de 30/07/2014
Texto e fotos: Almaz-Antey
Em igual sentido, a companhia apresentou um recurso de proteção contra as sanções vinculadas à proibição da exportação de produtos militares multiuso (impostos por decisão do Conselho da União Europeia 2014/659/CFSP e pelo Regulamento de Execução do Conselho da União Europeia Nº 960/2014 de 08/09/2014).
A Almaz-Antey apresentou ainda uma demanda no Tribunal Geral da União Europeia para anulação da Resolução do Conselho da União Europeia 2015/432/CFSP de 13/03/2015 e do Regulamento de Execução do Conselho da União Europeia № 2015/427 de 13/03/2014) - que prorrogaram as sanções vinculadas com a “congelação de bens”.
O consórcio acredita que existe um vínculo direto entre a implementação das sanções impostas pela União Europeia contra a empresa e a catástrofe que ocorreu com o Boeing 777 da Malaysia Airlines (Voo MH17), que voava de Amsterdã (Holanda) até Kuala Lumpur (Malásia). O desastre aconteceu em 17 de julho de 2014 na região de Donetsk (Ucrânia).
Os especialistas da Almaz-Antey analisaram minuciosamente todas as informações existentes relativas ao acidente e que foi entregada pela Comissão Internacional criada para investigar as causas do desastre. Com base nos resultados obtidos, o consórcio afirma que: para que o Boeing 777 tivesse sido atingido pelo sistema de defesa antiaéreo “BUK”, essa possibilidade somente seria possível caso fosse utilizado o míssil 9M38 (M1) do sistema de defesa antiaéreo “BUK-M1”, localizado mais ao Sul, em especial na região de Zaróschenskoie.
A Almaz-Antey alerta que o míssil 9M38 (M1) utilizado no sistema de defesa antiaéreo “BUK-M1” foi retirado de produção em 1999. Além disso, toda a produção restante foi vendida para clientes estrangeiros. Por conta disso, o consórcio – que apenas foi fundado em 2002 – não teria como vender o equipamento. Neste sentido, as sanções comerciais impostas pela União Europeia sobre a companhia carecem de fundamentos e devem ser retiradas o mais breve possível.
As análises realizadas também detectaram que o míssil que atingiu o Boeing 777 não poderia ter sido lançado da localidade de Snézhnoi, mas sim da região de Zaróschenskoie. Os principais aspectos dos resultados obtidos que foram entregues para a Comissão Internacional e as conclusões-chaves se referem a:
1. Análise dos Elementos Destrutivos do Míssil 9M38 (M1) do Sistema BUK-M1
Para determinar o tipo de míssil que supostamente derrubou o Boeing 777, os engenheiros da Almaz-Antey realizaram análises minuciosas de danos no revestimento exterior e na estrutura reforçada do avião, assim como nos elementos destrutivos apresentados pela Comissão Internacional e que foram extraídos de distintas partes da fuselagem da aeronave.
Entre os materiais obtidos pelos investigadores, encontrava-se um certo elemento destrutivo de fração pesada na forma de duplo T. Este elemento apenas é usado na cabeça de combate do míssil 9M38 (M1) do sistema de defesa antiaérea BUK-M1. Os danos presentes no revestimento do avião em forma de quadrados do tamanho 13x13 mm (14x14 mm) identificam de forma precisa esta munição. Além disso, os tipos de danos encontrados correspondem aos que são gerados somente pelo míssil 9M38 (M1).
Os especialistas analisaram não apenas a forma, mas também a natureza geral dos destroços. Levaram em consideração não somente os danos primários (produzidos pelos elementos destrutivos), mas consideraram também os secundários (gerados pelos elementos já destruídos pertencentes ao avião).
Estes danos se distinguem consideravelmente e não podem ser confundidos. É ainda considerado importante na análise da explosão da cabeça de combate do míssil 9M38 (M1) averiguar tanto as características dos elementos de destruição, como também sua velocidade determinada e a zona de voo.
A única característica de explosão da cabeça de combate do míssil 9M38 (M1) é a formação de duas frentes (linhas de destruição). Na primeira frente, foram identificados pequenos fragmentos, enquanto na segunda frente foi reconhecida a fração pesada em forma de duplo T que possui a energia cinética máxima.
A alta concentração de elementos destrutivos que pode destruir a fuselagem do avião se chama “Escalpelo”. Este concentra mais de 40% de massa dos fragmentos e quase a metade de toda a energia da explosão. De fato, são as marcas do “Escalpelo” que foram identificadas nos danos observados no Boeing 777, o que confirma novamente que o avião foi derrubado pelo míssil 9M38 (M1) do sistema de defesa antiaérea “BUK-M1” e que não foi produzido pela Almaz-Antey.
2. Definição da Localização do Míssil com Base nos Tipos de Danos do Boeing 777
Os especialistas detectaram o ponto de explosão na cabeça de combate do míssil, baseando-se nos danos característicos existentes no revestimento do avião, em especial na zona de impacto identificada pelas marcas. Foi possível observar que a aeronave foi atingida mais pelo lado esquerdo, acima do eixo do avião.
Os resultados obtidos mostraram qual foi a orientação do míssil em relação ao Boeing 777 e os ângulos de aproximação nos planos horizontais e verticais. As conclusões também tiveram como base a análise das características dos danos causados no revestimento exterior do avião, além da estrutura reforçada.
A área na qual o míssil atingiu o avião da Malaysia Airlines permitiu identificar que, após o impacto, os fragmentos penetraram em diversas partes da fuselagem, desde o nariz da aeronave até o estabilizador vertical (que controla o movimento para a esquerda e para a direita). Considerando-se ainda que a direção de fluxo geral do míssil 9M38 (M1) é perpendicular ao vetor de movimento do mesmo, ficou evidente que o míssil se moveu em curso de colisão com a aeronave.
A reconstrução dos danos ocorridos no nariz do Boeing 777 indicou as zonas de máxima destruição das partes que integram a estrutura reforçada do avião. A simulação feita por especialistas tornou possível detectar a posição precisa do lançamento do míssil (72-78 graus em plano horizontal e de 20-22 graus no plano vertical). Estes dados explicam a forma dos destroços e as etapas de decomposição da fuselagem do avião.
O método de “simulação reversa” foi ainda utilizado para reconstruir a suposta trajetória de voo do míssil. Como o Boeing 77 se movia em direção reta, foi possível perceber que a projeção horizontal do míssil também estava próxima à da aeronave. Assim foi obtida a escala de distâncias, partindo desde o ponto de explosão do míssil até a área de lançamento do mesmo.
A simulação revelou que o 9M38 (M1) foi lançado de uma região circunscrita entre 2,5 Km e 3,5 Km, localizada mais ao Sul de Zaróschenskoie, e não em Snézhnoie, conforme acreditava-se até então.
Esclarecimento
O relatório completo e detalhado da análise efetuada pelos especialistas da Almaz-Antey foi entregue para a Comissão Internacional. O consórcio ressalta que é criador de sistemas de defesa antiaéreos de mísseis, além de sistemas de misseis terrestres de longitude média BUK.
A companhia possui competência exclusiva no que se refere ao conhecimento, composição e funcionamento de seus mísseis. Não obstante, as conclusões finais sobre como e com o quê foi destruído o avião só poderão ser feitas após a realização de todas as perícias tecnológicas.
Até o momento, o consórcio não possui toda a informação completa sobre as análises efetuadas pela Comissão Internacional.
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